quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Um velho tempo (FB).

No tempo do rádio era comum se utilizar de uma música ou parte dela para marcar a abertura e chamadas de um programa tornando-a, dai pra frente, uma identidade daquela radiação. Foi assim para o programa "Boa noite pra você", que usava a música "Boa noite, amor", a "Ave Maria, de Gounod" para o terço das seis da tarde e outros que não me lembro agora.

Com a chegada da TV, esta prática foi seguida e antes do aparecimento das atuais "vinhetas" personalizadas também trechos de canções, a maioria desconhecida, cunharam a identidade de novelas, seriados e noticiários. A abertura original do Jornal Nacional era um trecho da música "Summer 68", do Pink Floyd. Ao longo do tempo ela foi diversas vezes reestilizada mas na essência, contém o gene daquele sucesso da famosa banda inglesa.

Três músicas de abertura do longevo Jornal Hoje, da Globo, são marcantes para mim e ainda hoje as ouço com frequência. A primeira delas foi "Evie" cantada por Johnny Mathis. Esta canção, muito pouco conhecida, também é uma das favoritas dos meus amigos Bob Maia e Zé Andrade. Não tem encontro que eu não convoque o cantor texano pra dar expediente na nossa confraternização.

A segunda foi "Look, stop and listen", interpretada pelo saudoso Marvin Gaye e Dianna Ross. Tornou-se um hit e ainda se houve com frequência nas playlist armazenadas na "nuvem". A terceira foi "Baby, you don't know" de um desconhecido cantor (Greg Williams), que muito pouca gente conhece, inclusive eu. Estas três canções marcaram momentos inesquecíveis dos meus anos dourados e ainda me fazem viajar.

Tem coisa mais linda e emocionante do que o tema de final do ano da Globo? Eu me derreto todo quando escuto esta obra simples, tocante e sublime do Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle e Nelson Motta.

"Hoje é novo dia, de um novo tempo que começou
Nestes novos dias as alegrias serão de todos é só querer
Todos nossos sonhos serão verdades, o futuro já começou
Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser, quem vier
Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser.

Coisas gostosas de um velho tempo.
Um feliz ano de 2017 cheio de boas surpresas, emoções e muita saúde.

30/12/16

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

É época de Natal (FB)

Natal é época de encontro e reencontros, de confraternização, de aconchego lambuzado de carinhos e afagos, de partir e de chegar.
É época de estripulias financeiras, de bolso furado, do entra e sai acelerado do cartão nas máquinas da Cielo.
É época de se comer um pernil suculento sem se lembrar do cardiologista, de degustar um vinho ou champanhe medalhados, de se espreguiçar e dormir num lençol novinho até acordar.
É época que nossa sensibilidade aflora e se espalha que nem uma erisipela enfezada.

É momento de perdão definitivo e confortador, de abraços fraternos, de cafunés arrepiadores, de lembrar daqueles que ficaram esquecidos ou que se foram ao longo do ano que se encerra.
É momento de "um freio de arrumação" no juízo para se repensar nossas ações e atitudes, engatar novos projetos e ideias, procurar amigos que há muito não vemos.
É momento em que as noites ficam mais longas, brilhantes, piscantes, pulsantes, festivas, coloridas.
É momento para se ouvir, de cabo a rabo, o "White Album", dos Beatles, e "Dark side of the moon", do Pink Floyd, a meia-luz, no silêncio "abrizado" dos "36m2", escaneando o além até a saudade me por pra dormir.

É época de exportar "em grosso" mais calor humano, caridade, solidariedade, e enxotar o mal humor, as incompreensões, futricas, "peiticas" e desentendimentos.
É época onde a troca deveria substituir a posse, o "Ter" dar lugar ao "Ser", o "$$$" ser gerido pelo "❤❤❤".
É época de pintar a casa, os desejos, as emoções, a alma.

Enfim, é uma época diferente, que parece menos mesquinha, desumana, desunida, mesmo com as ameaças crescentes de atos terroristas e dos registros perversos do sofrimento de milhares de refugiados, principalmente de crianças, fugindo do inferno das guerras e perseguições.

Que bom seria se o espírito fraterno de Natal durasse o resto do ano e invadisse os gabinetes e corações daqueles poderosos que corrompem e patrocinam as atrocidades vistas na Síria e países da África, levando milhões de infelizes seres humanos a perambularem sem rumo em busca de pão, calor, amor, compreensão, aceitação, esperança. Que se desse uma chance a paz.

Quero desejar a todos um feliz Natal e que esta magia que nos envolve nesta época permaneça nos nossos corações e mentes por todos os momentos do ano novo que daqui a pouco estreia.

23/12/16

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Vulnerabilidades, nem ao espelho confesso (FB)

Em algum momento já escrevi que "não devemos confessar nossas vulnerabilidades nem pro espelho. Quem quiser sabe-las que as descubra". Continuo convicto e guardião desta afirmação.

No entanto, nada como uma reca de "Originais" ou umas bicadas de "Serras Limpas" no quengo para não levantar um pouco o manto da compostura, destravar a língua e abrir a guarda para expor um pouco aquele "Cotonete" que coexiste com o outro que possuem CPF, foto e cartão de crédito e anda meio desanimado com o resultado dos mal feitos dos nossos governantes. Na maioria das vezes a camisa de força da educação, dos padrões da sociedade, dos pruridos comportamentais, nos tolhe, castra nossos sentimentos e, às vezes, nos priva de dizer e agir como querem nossas almas siamesas que convivem num mesmo corpo.

Alguns amigos sacanas vão dizer (ou pensar) que o "Cotonete" "tá se coçando pra sair do armário" e é isso mesmo, mas não daquele "armário" que algum de vocês, maliciosamente, estão pensando (nasci, vivo e ei de embarcar "espada"). É muito bom compartilhar sentimentos, agruras, opiniões, alegrias, tristezas, emoções, com aqueles com quem eu tenho o privilégio de ser amigo. Para estes os segredos são praticamente inexistentes.

Além do álcool, a música sempre pavimenta estas ocasiões. Ouvir certas canções, muitas delas dos Beatles, são "inputs" que mexem comigo e na maioria das vezes me fazem chorar de alegria, viver, reviver, como já aconteceu muitas vezes. As "Originais" têm sido outro canal onde me exponho e me confesso um pouco.

Estou escrevendo para aqueles amigos (e eles sabem quem são), escaneando o mar dos 36m2, balançando minha neta, que dorme ao meu lado na "paz de criança dormindo". Os coqueiros frondosos abanam suas folhas em homenagem ao nosso sossego, sem cobrar nada, alegres como criança sorrindo.

Cada vez mais estou curtindo a vida no "volume" sutil do Tom Jobim, do Sinatra e do João Gilberto ao invés do agito da Rita Lee, Les Zeppelin e do Lulu Santos, envolto no aconchego do silêncio e da introspecção relatada no texto de algumas semanas atrás. Tenho me contentado com a leitura e os papos nas redes sociais, que embora para a maioria das pessoas tenha o efeito de "aproximar quem está longe e distanciar quem está próximo", tenho sabido evitar esta disfunção da era cibernética.

16/12/16

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O "Caralhomante"

Esta estória me foi contada pelo próprio personagem principal e por isto recebe o carimbo de "verdadeira" e insuspeita.

No final da década de 70 pousou lá pras bandas do Ceará um paraibano arretado, boa pinta, nadador, engenheiro recém formado, deficiente visual, com um nome meio "alemãozado". Na mesma época militava por lá um famoso cartomante bicha que era muito assediado e querido pela mulherada insatisfeita com a vida que levava com seus companheiros. O profissional do baralho era seu xará e o "consultório sentimental" do maricas do carteado estava sempre cheio de damas "carentes, dengosas e desamparadas".

Imediatamente nosso querido "germânico de Campina Grande", com seu magnetismo xerequeiro e intimidade raparigueira com os astros, viu um "mercado" com uma demanda literalmente "aBUNDAnte" onde ele poderia "xumbregar" a vontade com hora marcada. Uns amigos presepeiros sabendo do seu perfil boêmio, galanteador e de conversa encantadora, armaram uma festa tendo como atração o tal cartomante de araque. Sucesso total. Tinha mais mulher do que piriguete em show de Wesley Safadão.

Lá paras tantas, ele, com um turbante roxo a lá Sidney Magall e um sarongue florido e cintilante, surgiu na penumbra enfumaçada e um frisson tomou conta do recinto. Uma longa fila de jovens desiludidas, mal amadas e carentes foi logo se formando. O "homem" tinha um azougue de fazer cola Superbond parecer graxa lubrificante.

A primeira "cliente" a cair na lábia foi Magalí, 23 anos, casada de pouco, se queixando do marido que não se "fazia presente" como era o desejo de uma jovem nesta idade. O profissional do "caralho", opa, do baralho, com sua eloquência de pastor de igreja récem-criada, virou uma carta de um baralho viciado, comprado de um taxista lá na Praça do Ferreira, e logo surgiu um "10 de Paus". A menina ficou eufórica que só uma debutante e o esperto impostor engatou o "diagnóstico": "você precisa de 10 sessões de massagens "espirituais" e demoradas, a serem dadas por mim (e intimamente concluiu: "o "pau" vai cantar que nem cuíca em bateria de Escola de Samba").

A segunda da fila foi uma loirinha sarará, meio dentuça, gaga, de nome Jussara, 27 aninhos, que também vinha reclamando do companheiro que viajava muito e a deixava sozinha, desejosa e desprotegida. Novamente o descendente do Chanceler Prussiano, esperto que nem bicho de circo, virou o tal baralho e logo surgiu um 7 de "cópulas", opa, de Copas, e junto a "prescrição": 7 sessões "intensivas" de bulinagens e safadezas a serem "ministradas" no quarto 36 do motel "Fogyhama", consultório do cartomante embusteiro.

A terceira "paciente" foi Judite, 25 anos, morena peituda e reboculosa que serviu de modelo para a fabricação da Juliana Paz. Ela se apresentou chorosa pelos mesmos motivos das duas dengosas anteriores. De novo o instrumento de enrolação foi puxado e desta vez a carta surgida foi um Rei de Espadas o que deixou a cabrocha mais animada do que político diante de um edital de obra pública. Mais uma série de "créus" foi receitada e executada pelo malandro "arretado".

Por muito tempo o paraibano aplicou suas armadas e ficou conhecido e famoso como "Caralhomante do Ceará". Ele tomou gosto pela profissão e até hoje continua, eventualmente, "aconselhando" quem lhe procura com crises existências, sentimentais e males do ramo, sempre dentro do maior resPEITO, discrição e ética profissional. O cabra é proFUNDO.
É muita fuleragem.

09/12/16

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O gol da vida (FB)

O momento é de consternação e luto em decorrência da queda do avião que conduzia o time de futebol da Chapecoense para Medellín, na Colômbia. A comoção torna-se ainda maior pela causa que parece ser a mais provável para a tragédia: "pane seca", falta de combustível na aeronave, uma falha imperdoável, vil, injustificável.

A se confirmar esta suspeita, me questiono: a que ponto chega a irresponsabilidade criminosa, a ganância exacerbada, a usura desumana de pessoas que por um punhado de tostões furados, ceifam a vida de mais de 70 pessoas, a maioria jovens, e causa um sofrimento imenso para outro tanto de famílias que perderam seus filhos, país, amores e amigos?

Assistindo ontem as homenagens feitas simultaneamente nos estádios de Chapecó e Medellín, me lembrei do 11 de setembro, guardadas as devidas proporções e motivação. No entanto, a dor e a indignação dos que perderam entes queridos são as mesmas e são infinitamente maior do que o trauma causado pelos 7 x 1 para a Alemanha.

Quis o destino que a vitória em cima do San Lorenzo, comemorada, entusiasticamente, há uma semana se transformasse num pesadelo, numa tristeza enorme, doída, nos Andes colombianos. A defesa do goleiro Danilo diante de um chute a queima roupa, aos 47 minutos do segundo tempo, levou o seu time a glória, a final inédita de um campeonato internacional. Este lance tornou o guarda-metas um herói e mereceu um grande pôster na principal praça de Chapecó.

Quis o destino ainda que esta façanha, que encheu seus companheiros e torcedores de um orgulho contagiante e merecido, conduzisse esta agremiação para um voo sem volta, sem placar, sem troféu, só féretros. Se aquela bola entra teria sido o gol da vida para aqueles infelizes que agora estão retornando pra casa no bagageiro de um cargueiro da FAB, tendo como documentos não passaportes mas atestados de óbitos.

São os mistérios da vida. Um simples pé na trajetória de uma bola fez "tabelar" vidas para os mais diversos destinos, muitas para engrossar as estatísticas de mortes em catástrofes aéreas e alguns outros (aqueles que deviam estar dentro daquele jato e que por uma "tacada" qualquer deixaram de embarcar) para repensarem suas vidas daqui para frente e agradecer a sorte tida. Nada será como antes para centenas de pessoas que de uma forma ou de outra estão diretamente envolvidas nesta fatalidade.

A vida é o resultado destes altos e baixos, uma senoide, uma montanha russa de boas e más emoções onde no fim tudo empata, seja por aqui ou em outra dimensão.

02/12/16

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A Epitácio de neon.

Há 40 anos saí de João Pessoa e só tenho lá voltado esporadicamente. Recentemente fiz um longo, vagaroso e nostálgico passeio por algumas dos principais recantos e avenidas da Capital da Paraíba. Na minha cabeça ia fazendo uma comparação de "como eram" e "como estão agora", as residências, praças, recantos e estabelecimentos comerciais. As esquinas continuam as mesmas mas o resto está muito, muito diferente. Talvez para aqueles que permanceram lá morando não percebam tanto estas transformações.

Onde eram casas e mansões bem cuidadas e ajardinadas hoje é uma farmácia, um lava-jato, uma igreja, uma pizzaria, um bar ou simplesmente, escombros, talvez decorrentes da briga de herdeiros pelo espólio do dono abastardo. Mesmo a modesta casa no Miramar onde vivemos nossa adolescência e juventude, hoje é um sobrado recém construído, descaracterizando, totalmente, o espaço que me traz tantas recordações e boas lembranças (neste caso a culpa pelo desmonte foi nossa que mudamos de cidade e vendemos a propriedade).

O tour nostálgico me entristeceu pois é como se uma parte da minha história, minhas referências tivessem sumido, sido apagadas do cenário onde vivi. Este é o preço que se paga pela modernidade, pela especulação imobiliária, pela falta de um planejamento urbano descente, pela ausência de zelo com a história, pelo desapego das coisas do passado, ou sei lá o quê.

A Avenida Epitácio Pessoa, talvez a mais famosa e emblemática delas, está completamente descaracterizada, comercializada, cheia de placas, letreiros e outdoors, sem padronização, causando um poluição visual que a "paraguainiza" e agride o meio ambiente, uma retilínea favela de neon. Sobraram poucas residências. Ainda resiste, o Grupamento de Engenharia do Exército, mal cuidado e sem aquele brilho que tanto simbolizava aquela guarnição. Próximo, onde era uma das mais belas mansões, agora é um suntuoso templo da igreja Universal do Reino de Deus.

Provavelmente esta é uma realidade nas demais cidades de um país que normalmente não valoriza a sua tradição, a sua história, sua memória, mesmo quando protegida pelos órgãos que, teoricamente, se propõem a cuidar do acervo patrimonial.

A repaginação é salutar, necessária e evolutiva mas deve obedecer padrões, regras, ordenamentos, para não descaracterizar a história, uma época. Temos que ter zelo com o nosso patrimônio cultural e arquitetônico e não dar espaço para os milhares de "Gedeus" que, em benefício próprio, desfiguram áreas e edificações que marcaram época.

25/11/16

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O grande mural da vida. (FB)

Esta semana estava tomando café e olhando para esta parede branca da cozinha dos "36m2", cheia de furos, parafusos, buchas e marcas de mofo e sujeira (mostrada na foto anexa), quando me veio à cabeça uma analogia relacionada a marcas da minha vida, da minha existência. Do mesmo jeito que ao longo da vida vamos pendurando quadros, relógios, espelhos, biscuits, bibelôs e outros adereços nas paredes da casa, vamos fazendo o mesmo na nossa essência interior, espetando emoções, imagens, lembranças, amores, desamores, prazer e dor. 

A diferença é que nos próximos dias a parede vai estar emassada e pintada e nenhum vestígio do que ali compôs um dia a moldura de um gosto temporário estará mais presente ou será mais notado. Novos adereços ou até os mesmos comporão um novo arranjo. Por quanto tempo? Dependerá do astral e do bom gosto da patroa. 

Com nossa alma (não achei nome mais apropriado para o meu "eu" interior) é muito diferente. Os "buracos, pregos, ganchos, calombos, mossas e manchas" que marcam e suportam os momentos, as emoções, as agruras da nossa vida continuarão lá a doer ou a nos dar prazer, dependendo do que ali foi cravado ou moldado. Como uma tatuagem, uma cicatriz, são "indeletáveis", não há massa ou tinta que as façam sumir definitivamente, o que acho fundamental. Eles nos dão identidade, garantem a nossa unicidade, exclusividade, mapeam e perpetuam a nossa história. 

Nossa mente é um mural sem fim, sem forma definida, um caleidoscópio virtual onde vamos dispondo nossas emoções, desejos, medos, alegrias e tristezas. Constantemente paramos para olhar pra trás e fazer um balanço, se regozijar com o quê nos deu prazer, satisfação, exemplos e se lamentar com o quê nos causou dor, desconforto, aflição, arrependimento.

No fundo todos nós vivemos em busca da felicidade e ela não está no bolso, na garagem, no Boeing, no crachá, no orgasmo, no banco. Ela está encalacrada dentro de cada um e precisa ser descoberta, cuidada e usufruída. Muitos passam a vida toda e não acham os caminhos e as pistas que a vivência expõe e priorizam sua busca, ingenuamente, em coisas fora do seu interior. Outros mergulham nos seus pensamentos e reflexões e de repente dão de cara com ela. Tenho trilhado esta segunda opção e não sei se vou ter a felicidade de encontrar a minha felicidade na plenitude e intensidade que imagino.

17/11/16


sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Bateu saudade da velha "Petroba".

Esta semana, após reler o livro "E&P bem humorado", do Alfeu Valença, colega e ex-presidente da Petrobras, me bateu uma saudade "da moléstia" dos velhos tempos de quando comecei a trabalhar nesta Cia em meados da década de 70.
Cheguei novinho e recém casado em Aracaju, entusiasmado com a mudança de vida, os primeiros salários e com o trabalho desafiante que tive o privilégio de enfrentar na maior e mais desejada companhia brasileira. Foram tempos de descobrimentos, de afirmação, de formação de novos círculos de amizades, filhos, farras e tudo de bom que a vida nos apresenta nos nossos trinta anos. A Petrobras era outra, um orgulho que enchíamos o peito em dizer pra todo mundo "eu trabalho na Petrobras".

Tempos do "Restaurante Técnico" no Campo de Carmópolis, onde os "de nível superior" comiam do bom o do melhor, servidos, gentilmente, pelos simpáticos garçons Sumidade e Pernambuco;

Tempos dos PCM's, PVM's, AFM's, PATECs, BLM, SUPERCALC4, SUPERPROJECT, siglas onde o cabeludo e futuro "Cabeleira" reinava e destrinçava tudo com a maior competência e zelo. Do SERMAT, DIMAT, DIREN, DIRGAS, DIROL, DIMAN, DEPRO, e tantas outras siglas que tinham o DNA daquilo que se propunha a fazer.

Tempos dos saudosos Lácio, Tavares, João Newton, Carlos Alberto Carvalho, Manuel Leonardo, Pedrinho "da DIREN", Paulo Guimarães, Faro, e dos hoje aposentados Raimundo Nonato, Dourado, Emanuel, Medina, Roberto Maia, Everaldo "Gordo", Nilson Carnaúba, Zé Gerardo, Nelson Bezerra, Guilherme, Carlos Eugênio, Carlos Alberto Silva, Ubiratan Cavalcante, Cezario, Luiz Paulo, Germano, Flávio Cidade, e outros tantos técnicos que deram o seu suor, a inteligência e a dedicação para o engrandecimento da Petrobras;

Tempos da risada aberta do Mestre Josias, prático do Tecarmo, da sovinice do George, da DIRGAS, da moral sisuda de Juca, chefe da oficina da DIMAN, das maluquices didáticas de Meuser, da SEGUR, da tabaquice do Bernadino, do Tecarmo, da sisudez econômica do "petroleiro sem crachá" "Marroco", do cantina da Sede, da gentileza organizada de Cândida, da Biblioteca, do bonachão Dr. Orlando Pinto, do formalismo do Dr. Oswaldo, do Jurídico, do desajeitado Jovanísio, da Desparafinação, do "fazedor de gente" Raimundo Silva, de Bonsucesso, do bocão de Everaldo "Bronquinha".

Tempos do "amarelinho" todo dia 25, do "Parando para produzir", do "Do poço ao posto", das comemorações de final do ano que reunia toda a força de trabalho num grande churrasco, dos cursos no Hotel da Ilha, do voo VARIG 343 (salvo engano) para passar uma semana no Hotel Luxor Regente, no Rio,

Tempos dos encontros no bar Cacique em Aracaju onde todo sábado, impreterivelmente às 11 horas, chovesse ou fizesse sol, se tomava a primeira Antártica (a Original da época) na companhia de Lácio, Everaldo "Gordo", Rômulo Wanderley e outros petroleiros do melhor grau API, membros cativos de uma das mesas do fundo, sempre servida pelo garçon "Zé". Dizem que foi lá que Lácio apresentou a primeira dose de Montilla pra Everaldo "Gordo" (o "Elefantástico") e dai...........

Tempos das festas de fim de semana na ATPN, onde, junto com os filhos e esposas, descarregávamos o stress de uma semana dura de trabalho e recarregávamos as baterias para mais 5/6 dias de dedicação plena e gostosa;

Tempos em que a Petrobras só produzia petróleo e gás, tecnologia de ponta, recordes de produção, padrões de qualidade, referências e não maracutaias, corrupção e notícias ruins. Alavancava o país com seus programas de nacionalização de equipamentos, treinamento de mão de obra especializada, recebia prêmios e reconhecimento mundial e era o sonho de emprego de todo recém formado.

Três anos depois de aposentado e ainda muito chateado com o fedor que exala da lama que alguns pouquíssimos altos gerentes fdp, empreiteiros escrotos e uma penca de políticos sem pátria produziram neste patrimônio nacional, me sinto orgulhoso de ter "vestido a camisa" e dedicado 39 dos melhores anos da minha vida. Repito aqui o comentário do Alfredo Borba, petroleiro do mais puro e valoroso "Brent", feito algumas "Original" atrás:

"........Giba!! Somos de uma geração que respeitava e sentia um grande orgulho da Companhia!! Homenagens como essa (ao colega Raimundo Nonato, feita numa "Original" anterior) têm que ser amplamente divulgadas, para que os novos profissionais não se desmotivem e conduzam a PB para fora do atoleiro no qual as irresponsáveis e ineptas administrações passadas a colocaram!!"

Perfeito.

11/11/16

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Casa arrumada

Vivendo no momento no meio de argamassas, tijolos, pisos, tintas, poeira e barulho, fazendo um pequeno "revamp" nos 36m2, me lembrei de um texto do Carlos Drummond de Andrade, enviado dias destes pelo amigo Beguinha e, também, como era a rotina na casa dos meus pais quando lá morei na infância e juventude.
Minha mãe sempre foi uma pessoa que gostava (e ainda gosta) de ver tudo muito limpo, organizado, brilhando. Entrar em casa com os pés sujos de areia ou lama era carão na hora. Deixar roupa espalhada, prato sujo na pia, banheiro molhado, cama desarrumada e outras muvucas caseiras ela não perdoava, sapecava logo um "crock" no quengo ou um puxão de orelha daqueles da bichinha ficar torcida como o rabo de um porco. Me criei assim e carrego um pouco deste comportamento (sem o dolorido "crock" e o enroscado puxão de orelha). Gosto de casa arrumada, limpa, mas "sem régua e compasso".

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Casa arrumada é assim: Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.

Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não centro cirúrgico, um cenário de novela. Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas… Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida…

Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar. Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha. Sofá sem mancha? Tapete sem fio puxado? Mesa sem marca de copo? Tá na cara que é casa sem festa. E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.

Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde. Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto…

Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda. A que está sempre pronta pros amigos, filhos… netos, pros vizinhos… E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.

Arrume a casa todos os dias… Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo para viver nela… E reconhecer nela o seu lugar.

04/11/16

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Agência de emprego "Risco Zero"

Os índices de desempregos continuam alarmantes em todo mundo e sem perspectivas de melhorias a curto prazo. Aqui no nosso "Deitado eternamente em berço esplêndido" a situação está pra lá de crítica. Como não estou fazendo nada, aposentado e preocupado com esta situação calamitosa, resolvi dar minha contribuição para a melhoria da conjuntura abrindo uma agência de empregos, que já começou com uma demanda grande para as seguintes cargos:

- Distribuidor de panfletos com temas judeus, na Faixa de Gaza
- Vendedor de camisas e bandeiras do Palmeiras na torcida do Corinthians
- Porta-voz do Estado Islâmico na França e nos Estados Unidos
- Limpador de janelas dos prédios de Dubai
- Alvo humano do lançador de facas em circo mambembe
- Removedor de minas terrestres em países da África
- Lixeiro em Chernobyl
- Cobaia em laboratório de doenças altamente infecciosas
- Dublê de cenas perigosas da série Mad Max
- Traficante e vendedor de drogas na Indonesia
- Dentista de Pitbull e Rottweiler
- Sparring de boxeador peso pesado
- Candidato de oposição nas eleições para prefeito de Coruripe
- Cobrador de dívidas de membros do PCC e do Comando Vermelho
- Amante de mulher de chefe do tráfico no Morro dos Macacos
- Piloto de caça da força aérea da Síria
- Motorista de carro-forte.
- Vigia noturno de instalações da PROSEGUR
- Lançador de rojão e marcador de quadrilha no São João em Bagdá.
- Trocador de alvo em estande de tiro de 45 e bazuca
- Flanelinha de estacionamento de crocodilo
- Operar agiotagem em Coruripe.

Os salários variam entre R$880 e R$1.500 por mês, com direito a auxílio funeral completo, jazigo perpétuo e rezação de missa no aniversário de passagem para o além. Os interessados devem enviar seus CVs para: WWW.encontreiminhafelicidade.rip.br.

28/10/16

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Gente que fez e que continua fazendo.

Eu tive muita sorte e o privilégio de começar, há 40 anos, tendo como "chefe" um profissional que se tornou um dos meus amigos e umas das minhas referências de vida até hoje. Técnico de mão cheia, com a sensibilidade de cirurgião de cataratas, sempre de bem com a vida. Canhoto, possuidor de uma caligrafia tão "legível" quanto a da Pedra da Roseta. Dava trabalho a turma entender sua escrita.

Convivemos pouco tempo mas foi o suficiente para aprender muita coisa e admira-lo sem prazo de validade. No final da década de 70 casou-se com uma bela sergipana e mudou-se para Natal e lá continuou seu brilhante e dedicado trabalho na Petrobras. Inauguramos nossa função de "pai" na mesma época, eu com Felipe e ele com Leila.

Foi um daqueles petroleiros que tinha o "sangue negro" impulsionado por uma potente "bomba Charleroi", elogiado e querido pelos "Noronhas", "Jasons", "Acácios", Cordeiros", "Raimundos Silvas", Crénias", Conceiçãos" "Dalvas" e tantos outros colegas petroleiros que trabalharam no Tecarmo naquela época tão saudosa.

Piauiense de União, engenheiro mecânico bem formado, tornou-se um especialista em operações marítimas e passou a laborar no mundo das "amarras", "mangotes", "boias de arinque", "ferros", "cabeços", "elos-patente", "patescas", "manilhas" e "retinidas". Operou tudo isto a bombordo e a boreste, de "Bonsucesso" a "Atalaia Velha", do "Quadro de Boias" ao "Cais de Madeira", sem distinção e com muita competência, "solecando" e retesando os "estopros" da vida, sempre aproando para o sucesso.

Em 2000 sofreu um pequeno acidente e foi obrigado a desembarcar de uma das plataformas da Bacia de Campos. Nesta ocasião o médico da Cia constatou que ele sofria de insuficiência renal o que o tornava inabilitado para as funções que exercia. Esta doença, também presente em diversos membros da sua família, ele já vinha escondendo as duras penas pois não queria parar de trabalhar. Perdeu irmãos e outros parentes por causa do mal funcionamento deste órgão. Foi aposentado "sumariamente", a muito contra gosto.

Enquanto milhares de vagabundos, pulhas e espertos fazem de tudo, burlam as leis, compram médicos e peritos para obter este benefício, ele foi forçado a optar pelo descanso precoce e passar a cuidar de sua saúde. Logo depois da parada forcada recebeu um rim doado pela esposa, mais um ato extremo de grandeza, solidariedade e amor dos dois, procedimento que infelizmente não foi exitoso. Durante uma década tornou-se escravo da hemodiálise e há 4 anos recebeu um outro no rim que, felizmente, vem funcionando muito bem.

Nestes 40 anos que conheço este ser humano diferenciado, forte que nem um Hino Nacional, nunca o vi mal humorado, reclamando da vida ou se lamentado da infelicidade de ser portador desta séria enfermidade. Pelo contrário, sempre o encontrei alegre, com sua risada acelerada, seu sorriso "acaetaneado", participativo e alavancador de bom humor, "puxando pra cima" quem dele se aproxima. Vê-lo e conversar com ele, mesmo que seja via as traquitanas da internet, é uma lição de sabedoria, otimismo, inteligência, perseverança.

Este é Raimundo Nonato Reis e Silva, filho dos saudosos Seu Perico e D. Elzira, pessoa pela qual eu tenho o maior respeito, admiração e carinho. É gente que fez e continua fazendo coisas boas, encantando e surpreendendo aqueles que têm o privilégio de conhecê-lo e poder fazer parte da sua convivência.

20/10/16

sábado, 15 de outubro de 2016

Que diabo é isto? (FB)

À medida que o nosso conhecimento vai evoluindo e as pesquisas e os estudos se aprimoram, fenômenos "inexplicáveis", doenças misteriosas e incuráveis, lendas e outras coisas até então ditas  "estranhas" vão sendo esclarecidas, explicadas e dominadas. É no vácuo do desconhecido e da ignorância que muitas seitas, curandeiros, charlatões e "religiões" se aproveitam para dar suas explicações e iludir aqueles menos cultos ou pouco instruídos. Na falta de uma explicação científica convincente, vale qualquer coisa. É assim desde que o homem apareceu por aqui. 

Imagine o que se passava na cabeça dos nossos primeiros ancestrais quando presenciavam um relâmpago e logo em seguida o papoco do trovão. Que susto e pavor não passaram eles diante de um terremoto, um tsunami, da mulher quando menstruava ou via sua barriga crescer e um rebento nascer 9 luas depois? A variação das marés, as fases da lua, as erupções vulcânicas, o açoite de um furacão, a chuva, o dia e a noite, a morte. 

Hoje ainda especulamos e polemizamos sobre a origem do universo, a teia interplanetária, a existência ou não vida extra terrestre, a causa da enxaqueca, quem matou Kennedy, se Maluf tem ou não conta no exterior, se Lula sabia ou não, Deus, o pós morte. O desconhecido, o mistério, são estimulantes a aguçam a inteligência humana em busca de respostas e soluções. 

Mas a primeira e para mim a maior surpresa de todas foi quando Eva, que já nasceu empetelhada, afastou sua folha de parreira e viu seu "talho" cabeludo e papudo. Curiosa e espantada olhou para Adão e, ansiosa, levantou a folhinha do parceiro e viu aquela trolha parecida com um mangará do cacho de bananas. Deve ter dado um pinote pra trás e gritado: "Que diabo é isto companheiro, tem coisa muito diferente aqui entre nós. Vamos investigar". Pega aqui, coça ali, enfia acolá e o resultado final da "pesquisa" é que hoje somos mais de 7 bilhões de Adãos e Evas e as diferenças entre nós e elas continuam crescentes, misteriosas e insolúveis. Temos que "futucar" mais!!!!

14/10/16

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Amor de vô II

Há dois anos estava eu num corredor branco, silencioso, asséptico, ansioso e apreensivo, esperando a abertura de uma porta e a entrada da minha primeira neta. Vê-la, saudável, vermelhinha, linda, foi uma das maiores emoções da minha vida. Esperá-la por poucas horas já me gerou um tsunami de ansiedade, imagine o anseio da mãe que a guardou e esperou 9 meses por este momento supremo?

Neste par de anos as transformações foram muitas e rápidas. Aprendi a rir melhor e com mais frequência, a ser mais tolerante com as estripulias inocentes e o choro estridente deste ser tão perfeito e encantador. Juro que não era assim e isso me surpreendeu. Me renovo a cada dia com as descobertas, gestos e reações dessa alagoanazinha que chega aos seus dois anos na próxima segunda feira. Para coroar este momento, hoje é o niver da minha filha Michelle, mãe da "Nana".

Se eu pudesse iria sugerir ao nosso Criador uma pequena mudança no projeto da sua maior e mais perfeita criação, nós, seres humanos: transferir para os pais algumas virtudes que sobram nos avós, como tolerância, paciência, dedicação, carinho. Seguramente teríamos pais mais felizes e crianças mais amadas, auto-confiantes.

O amor de vô é abobalhado, "assorisado", sublime, descompromissado, saudoso. O amor de pai é mais carnal, protetivo, impetuoso, umbilical. Amor de vô é rede na varanda e água de coco, é uma harmonia da Bossa Nova, um jogo de gamão. Amor de pai é movimento e caipirinha, é o agito do rock, o suor da maratona.

Vejam no retrato anexo a mais perfeita tradução da beleza, da inocência, do prazer, compactado naquele "serzinho" que desembarcou neste mundo tão frágil e dependente que nos faz dar maior valor e sentido a vida, que nos induz a repensar alguns conceitos e atitudes, que encanta todos aqueles que têm o privilégio de conviver com esta joia tão especial.


Se ainda tivesse um filho lhe daria o sobrenome de "Neto". Não sei se um dia serei homenageado com este título tão nobre.



07/10/16

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Suécia ou Coreia do Norte?

Atualmente temos mais operações diárias da polícia do que as intervenções cirúrgicas realizadas nas emergências dos hospitais da Restauração, em Recife, e do Souza Aguiar, no Rio, juntas. Se brincar supera o número das realizadas nos hospitais de campanha da guerra do Vietnã. É tanto codinome que o Aurélio tá ficando sem opção e já estão apelando para o idioma italiano. A corrupção está espraiada em todas as tocas, togas, gabinetes, empresas, escritórios, tribunais, federações, igrejas, .....que ninguém é mais capaz de mensurar o tamanho e nem quando será reduzida. Tem mais ratos do que consoantes nos nomes poloneses. 

Caminhando na liberdade do calçadão da Ponta Verde, cruzando com dezenas de Volvos, Land Rovers, Mercedes, BMWs e outros bólidos importados, e depois de tomar uma Original na barraca do Lobo, me veio à cabeça uma ideia exdrúxula, utópica, radical, cruel e tão a "direita" que se emenda com a "esquerda". Ei-la.

Eu me imaginei investido de todos os poderes possíveis, receberia o codinome de "Ironete", e daria um golpe de verdade, com "G" maiúsculo, destituindo todos os governantes, deputados, senadores, caciques, bicheiros, juizes, desembargadores e o escambau. Contrataria, sem licitação, os serviços da CIA, FBI, MI6, Estado Islâmico, Comando Vermelho, Hezbollah e a milícia de Coruripe, para fazer uma faxina completa e uma caça implacável aos "ratos" que infestam e tomaram conta deste país que "dorme eternamente em berço esplêndido". Fecharia as fronteiras, os portos e aeroportos e o pau começaria a cantar, sem dó e sem piedade. Seria uma campanha sumária de capação geral e uma distribuição de piza generalizada com cipó de cansanção curtido em salmoura de pimenta malagueta. Iriam achar Dr. Moro mais bondoso do que colo de mãe.

Todos os códigos, regimentos e leis seriam suspensos e só sobrariam as penas (sumárias e imediatas), resumidas apenas a:

  • 50 anos de cadeia, em regime fechado, sem direito a boquinha de progressão de pena para quem roubou, corrompeu ou não justificou a origem do seu patrimônio;
  • Cada um dos brasileiros teria 30 dias para, em local público a ser informado, apresentar todos os seus bens patrimoniais para confronto com sua declaração do IR. Quem confessasse, espontaneamente, neste período alguma maracutaia teria a pena reduzida para 25 anos, tendo seus bens arrestados e a obrigação de pagar 100% de multa no ato, sobre o que foi sonegado ou roubado;
  • As penas seriam cumpridas na Ilha da Trindade, 1.200 kms da costa do Espírito Santo, sem direito a visita ou contato com quem quer que seja (o primeiro a embarcar seria um importantíssimo membro do Senado);
  • Cada desgraçado teria direito a levar, a custo dele e nas costas, um bode ou uma cabra e um saco de sementes para garantir a sua sobrevivência e da sua cria. Lá não existiriam carcereiros, médicos, policiais ou advogados. As relações seriam regidas unicamente pela "Lei do Cão".
Pra agitar um pouco o ambiente do "resort" marítimo seria instalado bem no meio do nada, um paredão de som potente que tocará 24 horas por dia, trilhas sonoras de vaquejadas e daí para pior, comandado pelo MC Pixuleco. A cada três horas, meia hora de propaganda eleitoral de candidatos tabacudos, ridículos e analfabetos. 

Nos 90 dias seguintes a faxina, a Receita Federal faria leilões para vender os bens tomados dos corruptos e ladrões. Certamente faltariam pátios, leiloeiros e compradores para a quantidade de imóveis e bens móveis arrestados. Os probos iriam comprar um BMW ou uma Ferrari pelo preço de um Lada pelado ou de um Opala batido. Uma lancha mais barata do que uma jangada de pau de mulungú dos pescadores da Lagoa do Pau. Fazendas, chácaras e sítios nem se fala. Seriam bem mais em conta do que os meus 36m2. 

Calígula, Nero, Átila, Vlad o Empalador, Hitler, Meguelle, Stalin, Pol Pot, Idi Amin Dada, Sadan Hussain, Kadaff, Bin Laden, Delegado Sérgio Fleury, ressuscitariam e morreriam imediatamente de novo, mas desta vez de pura inveja. Minha dúvida é saber se daqui a 10 anos estaríamos mais parecidos com a Suécia ou com a Coreia do Norte. 

Eu, como não sou besta nem orário, já compraria uma passagem pra França, só de ida. Se eu ficar por aqui corro mais risco do que ser operado de cataratas por um oftalmologista com Parkinson. De repente encontrariam uma sonegaçãozinha marota, uma "maroagem" esperta no IR do "Ironete" e lá se vai ele com as costas toda lenhada, puxando uma cabra com um saco de milho nas costas, um Ray-Ban na cara, subindo as escadas da corveta pra umas "férias" compulsórias de alguns décadas naquele "paraíso" que fica nos confins do Atlântico Sul. 

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Eu quero outro Brasil (FB)

Alguns dos leitores deste texto são amigos que estão relativamente bem de vida, não dependem do SUS pra cuidar da sua saúde nem da ajuda de filhos ou parentes para tocarem seu dia a dia. 

Durante minha vida procurei ser precavido, comedido, não gastar mais do que ganho e procurei me vacinar para um monte de problemas e aborrecimentos que a vida nos apresenta na rotina diária. Nem sempre tive sucesso. 

Tenho um bom plano de saúde que garante pra mim e minha mulher uma saúde de qualidade (já foi melhor mas ainda é um dos melhores). Optei no início da carreira por um plano de previdência privada que também nos dá um suporte financeiro adequado a um padrão de vida digno e confortável. 

Agora tem um plano que nem eu e nem ninguém neste país pode comprar e se pudesse, não teria a garantia de que ele funcionaria eficientemente: Um plano segurança. Tenho a maior inveja dos povos que podem sair à rua sem medo de serem assaltados, violentados ou dar de cara com uma bala perdida; de viajarem e ter a certeza de que na volta seus bens estarão "imexíveis", do mesmo jeito como foram deixados; de tomar um banho no mar ou deixar seu carro aberto e não ter seus pertences surrupiados; de ir para um show ou jogo de futebol e apenas se divertirem, sem medo de brigas e arrastões; de ligar para a Polícia ou o SAMU e ter a garantia que eles chegarão em menos de 5 minutos, sem falta. 

Nosso povo tem uma criatividade ímpar e uma capacidade enorme de realizar eventos de "gente grande" como acabamos de ver na Copa do Mundo, nas Olimpíadas e nas Paralimpíadas; de descobrir e liderar a tecnologia de produção de petróleo em águas ultra profundas; de possuir um dos mais eficientes sistemas de automação bancária do mundo. É pioneiro no uso de combustíveis limpos e de tantas outras coisas onde somos iguais ou melhores do que povos ditos do "primeiro mundo". 

Mas não conseguimos dar segurança à todos e em todos os lugares, a não ser em grandes eventos, por tempo determinado. Um dos maiores legados das Olimpíadas poderia ser este mas foi, apenas "nuvem passageira". Está provado que quando as forças policiais, a inteligência, o planejamento, trabalham de forma conjunta, unida, integrada, com foco, é possível se viver como os nórdicos, suíços, canadenses ou japoneses, no aspecto de segurança. Durante as três semanas dos jogos os cariocas tiveram este privilégio. 

Mas nossa sina é viver sobressaltados, com medo e impedidos de usar um bem valioso em público, de andar à noite em locais pouco povoados, de deixar um carro na rua ou em locais ermos e encontrá-lo íntegro, ir à evento e não sofrer um furto, de fazer uma selfie num show e ficar sem o celular arrancado com violência. Gastamos uma boa grana do que sobra do salário super taxado para instalar cerca elétrica nas casas, grades, pagar seguro de carros e imóveis com alicotas mais caras, vigilância noturna particular, porteiros de prédios e condomínios fechados, sistemas de câmaras por tudo o que é lugar e tantos outros recursos e dispositivos para nos proteger. Nossos impostos deveriam pagar tudo isto mas .........

Ai se eu pudesse comprar um plano de segurança para poder viver aqui sem este trauma que nos aflige e nos envergonha e para o qual não vejo solução a curto/médio prazos. Esta nossa realidade me faz lembrar um desabafo recente de um dos ministros do STF que disse ter ouvido de um estudante: "Ministro, eu não quero viver noutro país. Eu quero viver noutro Brasil". Eu também quero. 

Giba

PS.: Já estão disponíveis no blog "A "Original" do sábado" (www.originaldosabado.com) todas as 265 "Original" publicadas até agora, inclusive esta. 

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Minha homosexualidade enfim revelada

Foram mais de 50 anos vivendo preso, calado, na cela perversa da homosexualidade, sofrendo que nem sovaco de aleijado. Mas agora chegou meu momento de sair desta jaula, liberar as algemas dos pruridos comportamentais e me sentir livre, liberto como uma libélula no florecer da primavera. 

Nasci numa família onde a viadagem sequer era comentada, quanto mais admitida. Ouvia meu papai falar, com aquele seu olhar de águia intimidador, que se um dia desconfiasse que um filho ou um neto seu tivesse um certo trejeito afeminado (viado pra ele era chamado ora de "Fresco", ora de "Pederasta"), o infeliz tomaria um sonoro "crock" no quengo que passaria uma semana cuspindo cabelo e levaria um bufete tão da bobônica que o "corpo ficaria imóvel e a cabeça iria prestar queixa na delegacia". Minha irmã ficava fora de qualquer suspeita pois naquela época, sapatão era apenas um número acima de 43. A prática do lesbianismo era mais escondida do que umbigo de freira. 

Não sabia ele que dentro daquele seu primogênito machão tão desejado e festejado, já começava a "cuminchar" com força e irreversivelmente, o miserável e impertinente gem cocó. A primeira vez que vi minha irmã de sutiã quase morri de inveja. Pensava:  "porque ela e não eu estou dentro daquela peça tão feminina"? Quantas vezes na ausência dela, de frente a sua penteadeira, vesti um "Demillus" 36, rosa bebê, meia-taça, com duas bolas de ping-pong no lugar dos mamilos que eu tanto sonhava possuí-los. 

O tempo foi passando, a testosterona brigando com a progesterona e os sinais externos da minha masculinidade infelizmente começavam a aflorar. Os primeiros fios de barba eram raspados todo dia com o "Gillette Platinum Plus" do papai. O meu velho, macho brabo "formado na escola onde Lampião foi reprovado por frouxura", todo mês inspecionava meu gogó pra ver se o "nó" estava crescendo. Eu torcendo para que aquele sinal inconfundível de macho demorasse o máximo possível a aparecer mas por outro lado ficava temeroso da reação dele, papai. 

Um belo dia ele sentiu a protuberância surgindo e comemorou, efusivamente, divulgando pra toda família. "Viva, este macho filho meu, promete. Tudo indica que vai puxar a meu irmão e logo, logo vai reinar nos cabarés da Manoel Pereira, de Campina Grande, e da Maciel Pinheiro, da capital. A mulherada não vai resistir ao seu excesso de  virilidade". Não sabia ele que enquanto meus irmãos liam "Gisele, a espiã nua que abalou Paris", eu me escondia no banheiro para me deliciar com as foto-novelas de amor publicadas nas revistas "Sétimo Céu", "Capricho" e "Contigo". 

No colégio Marista onde estudei sofri bullying de todas as formas. Tomei muitos catiripapos e contra-vapor. Era chamado de "Morde fronha", "Dá ré no kibe", "Bambi", "Agasalhador de croquete", "Dorme com vovó" e outros apelidos maldosos que tatuaram, definitivamente, a minha personalidade. Só era chamado para jogar "academia" e "patacho" e pular corda. 

O carnaval era o período que eu mais ansiava e adorava e o que mais me sentia reprimido. Eu observava aquelas fantasias glamurosas, o brilho dos paetês e das lantejoulas, os pierrôs esfuziantes, as colombinas deslumbradas, e ficava extasiado me vendo rebolando e brilhando naquele vulcão de alegria e prazer. Quando ouvia os acordes de "Máscara negra", "Vassourinhas", os frevos de Capiba e de Claudionor Germano, os cabelos da nuca eriçavam e o orifício proctológico piscava que só o obturador de uma Roleyflex. Era mais gostoso do que "mijar peidando" como diz o matuto nordestino. Os carnavalescos Clóvis Bornay e Evandro Castro Lima eram meus ídolos e eu não deixava de assistir na televisão (em preto e branco, na casa de "Lolola") os inesquecíveis bailes do Municipal do Rio e o Gala Gay. 

Nas décadas de 80 e 90 brinquei muitos carnavais na pracinha da Lagoa do Pau, em Coruripe, nas gostosas companhias dos héteros  Alfredão, Bob Maia, Rui Bolivar, Murilão, Guilherme "Cabeleira", "Fredão", Enéas, Ronaldo e vários outros amigos que frequentavam aquele recanto de nome tão sugestivo!!!

Na primeira oportunidade e a pretexto de estudar teatro, balé, maquiagem, costureiro ou mesmo corte de cabelo, saí da minha cidade natal e fui para o Rio de Janeiro atrás, principalmente, da minha liberdade. Morei na Galeria Alaska, em Copacabana, e me senti em casa. Conheci muita gente que pensava e tinha as mesmas carências e problemas de quem viveu numa cidade pequena e patrulhada. Mas mesmo dispondo desta liberdade plena, não consegui me livrar dos grilhões pesados da repressão sofrida na infância e adolescência. Mesmo com esta "camisola de força" invisível e permanente, foi a melhor fase da minha vida. Graças a Deus meu papai nunca soube das preferências homoafetivas do seu "varão boneca". Ele morreu muito cedo. 

Mas a idade foi chegando e com ela a solidão, as limitações, a diabetes e o ostracismo. Sempre fui muito discreto e quase ninguém percebeu meu lado mulher que tanto reprimi. Agora não faz mais sentido esconder dos amigos este meu passado aviadado. Resolvi "sair do armário" de forma escancarada e definitiva. Estou me sentido mais leve e aliviado em contar aqui um pouco das minhas alegrias, angústias e frustrações. Vivi no Rio, Sergipe e agora estou aposentado em Alagoas onde pretendo curti o  tempo que ainda me resta. Espero que todos entendam, me apoiem e continuem dedicando o mesmo carinho que nunca me faltou.  

Meus caros leitores, o depoimento que vocês leram acima me foi dado recentemente pelo cronista social, cidadão de Arapiraca e meu conterrâneo, Diva Albuquerque (que diga-se de passagem, não tem nenhum parentesco comigo).

É muita fuleragem. 

16/09/16

Os verdadeiros heróis (FB)

Recentemente circulou nas redes sociais uma foto-montagem que me chamou a atenção para o equívoco que comentemos na escolha dos nossos heróis. Lá aparecem a figura de um professor, que rala que só reco-reco em pagode para receber um pixuleco no final do mês e a do Neymar, que ganha milhões e é chamado de "nosso herói", numa total inversão de valores, na minha opinião. Nada contra o sucesso e a consequente conta bancária do crack do Barcelona mas elegê-lo como nosso "herói" é uma tapa na cara dos milhões de verdadeiros heróis que sobrevivem neste país.

Herói é minha secretária que acorda todo dia às 4:30hs da manhã para pegar um ônibus menos lotado e chegar aqui em casa às 6hs, trabalhar até às 14hs e ainda arrumar tempo e disposição pra cuidar da família, da casa e estudar a noite em busca da alfabetização. Em 6 meses neste percurso já foi assaltada 2 vezes perdendo os poucos bens adquiridos com o resultado desta jornada estafante.

Heróis são os abnegados profissionais do "Médicos Sem Fronteiras" que dedicam e arriscam suas vidas para salvar milhares de desassistidos numa África doente e em diversas outras regiões conflitadas do mundo. Herói é um pai de família que ganha um salário mínimo para manter sua família e ainda viver esperançoso com o que está por vir.

Heróis são os policiais que ganham uma micharia arriscando suas vidas para tirar da rua bandidos e assassinos que a Justiça manda soltar no dia seguinte. Heróis são estes atletas paraolímpicos que com suas mais diversas deficiências e limitações conseguem realizar proezas incríveis, uma demonstração viva de que o ser humano, quando quer, é capaz de se superar, de se reinventar, de reviver. Eles acreditam que "é preciso saber viver".

Gastou-se muito dinheiro para medalhar alguns poucos brasileiros nas recentes olimpíadas. Nas mesmas edições ufanistas dos jornais televisivos viu-se alguns destes heróis ovacionados recebendo uma medalha de ouro, de prata ou de bronze e viu-se, também, verdadeiros heróis humilhados, aqueles idosos doentes renais-crônicos de uma esquecida cidade maranhense que acordam às 3 da manhã, chacoalham por 5 horas dentro de um ônibus caindo aos pedaços até a capital do feudo dos Sarneys, passam 3/4 horas estáticos, reféns de uma máquina de hemodiálise, comendo bolacha seca com água e fazem o caminho de volta pra casa onde chegam lá pelas 10 da noite, completamente exauridos. Isso, 3/4 vezes por semana, alguns deles há mais de 10 anos, para terem o direto de continuar vivos. As verbas para a construções de unidades de tratamento em localidades mais próximas foram desviadas para o bolso dos corruptos de sempre.

Estes sim merecem todas as medalhas, de ouro, de prata, de bronze, de respeito, de dignidade, de admiração. Aqueles que roubaram e roubam a esperança, a saúde, a dignidade destes sofridos heróis anônimos deveriam receber a medalha de chumbo 45, na nuca. Estas olimpíadas do descaso, do desrespeito, da humilhação, acontecem, diariamente, em centenas de cidades e povoados espalhados por este Brasil tão espoliado, desigual e injusto.

As eleições estão chegando e cada um de nós tem uma poderosa arma, um "carimbo eleitoral" para estampar um voto medalhado com ouro ou com chumbo nas centenas de candidatos que estão nas ruas implorando pelo seu voto. Sejamos implacáveis nesta escolha para que tenhamos menos "Olimpíadas do horror" e mais pódios dignos de uma nação que prestigia seus verdadeiros heróis.

Giba

PS.: Esta semana eu criei o blog "Bastidores da Música"
onde conto estórias e curiosidades interessantes de bastidores sobre o surgimento, gravações, interpretações e coisas afins de músicas que gostamos de ouvir. Como não poderia ser diferente, lá já estão postadas  algumas informações sobre músicas dos Beatles.
Peço que confiram e participem com seus comentários, correções e aprimoramentos.


09/09/16

Virtuosos anônimos

Fui e sou um ouvidor voraz de música. Ela me acompanha em todos os lugares e momentos. Cheguei a possuir mais de 1000 LPs e um outro tanto de CDs, hoje todos foram doados, a exceção daqueles dos Beatles e alguns outros poucos. Sempre me encantei com a arte das capas e encartes, às vezes até mais do que com o conteúdo sonoro da bolacha vinilizada ou acrilizada. A digitalização e a tal da "nuvem" tiraram este encanto.

Além da arte, tenho uma curiosidade enorme em saber quem tocou o quê em cada canção, o estúdio onde foi gravada, quem arranjou, ou seja, os bastidores da produção da gravação. No auge da Jovem Guarda a ficha técnica dos álbuns era coisa raríssima. Os discos vinham "desidratados" de informação, mal apareciam a foto do intérprete e os nomes dos autores das músicas.

Como sempre os Beatles começaram a mudar isto quando, do lançamento do LP "Rubber Soul , em 1965, listou no verso da bela capa o nome de quem era o principal vocalista em cada uma das canções. Daí pra frente a coisa foi mudando e em 1967, também Eles, lançaram o "Sgt. Pepper's lonely hearts club band" que trazia na contra-capa as letras das músicas. Foi uma revolução total, principalmente para aqueles estrangeiros que não dominavam o idioma do Shakespeare. Todo artista passou a copiar a inovação.

Saber "quem tocava o quê" ainda levou um certo tempo e só recentemente isto passou a ser regra. Ainda hoje, mesmo com o sabido Google, não encontro informações seguras de quem tocou, por exemplo, o vigoroso baixo, na música "Ciúme de você" do Roberto Carlos, um primor de performance. Outras tantas daqueles distantes anos 70 conhece-se muito pouco da sua produção. Sabe-se hoje que o baixista do "Renato e seus Blue Caps", o virtuoso Paulo Cézar Barros, tocou em muitas canções do Roberto, que o Lafayete era seu preferido nos teclados e os The Fevers e o próprio Renato, foram muito usados como músicos de acompanhamento.

Nem com as facilidades da internet encontrei informações sobre quem acompanhou, por exemplo, Caetano na versão original de "Sampa", um verdadeiro hino que não me canso de "oiçar". A performance das violas e violões é simplesmente espetacular. Quem foram aqueles virtuosos anônimos que tocaram magistralmente nesta canção? Talvez o próprio Caetano seja um deles.

Um fato interessante que bem ilustra esta falta de informação. No dia 6/9/68, há 48 anos completa-se na próxima semana, portanto, a convite de um "cabeludo de Liverpool", um guitarrista já muito famoso entrou nos Estúdios da Abbey Road, em Londres, e se instalou, todo acanhado e intimidado pela presença dos outros três Beatles, num canto do famoso Studio 2. Sobre uma cadeira estava uma guitarra Les Paul vermelha que ele tinha presenteado o George dias antes. Ele vestiu "Lucy", apelido dado pelo George para o brinde recebido, e num único take imortalizou a obra prima do George Harrison, "While my guitar gently weeps", com um dos solos mais criativos e espetaculares que já ouvi. Sua participação não constou sequer nos créditos do "Álbum Branco" e só muito tempo depois se veio a saber quem era o autor daquela proeza: Eric Clapton.

Tenho uma curiosamente em identificar um monte de outros músicos que estão por trás de belas tocadas daquela época. Comprei muitos Cd's sem nem sequer conhecer o intérprete, mas, pela turma que estava tocando, eu sabia que era coisa boa. A situação mudou muito e agora até o cidadão que serve o cafezinho está lá citado nos créditos do disco. Sou um apaixonado pelo que acontece no "back stage" e principalmente pela performance dos músicos, seja qual for seu instrumento.

Por acaso vocês sabem quem é o baixista que, discretamente, dá um show de interpretação no recém lançado CD "Amigo é pra estas coisas", do The Fezze's & The Bostan's"? Tá lá no encarte do CD.


02/09/16

Cantada com gosto de mofo

Depois de vários fins de semana passados nos 36m² no último sábado, após uma gostosa caminhada, retornei à mesa 36 do Bar do Pirata, na Ponta Verde. Estava lá tranquilo, sossegado, ouvindo meus MP3, degustando uma Original e uma codorninha frita quando, de repente, recebo uma tapinha nas costas e escuto aquela voz rouca que nem a do Monsueto, perguntando: "Posso sentar?"
Eu, educadamente, disse: "Por favor, Mademoisele, sinta-se a vontade". Não imaginava o que ia acontecer.

Satisfeita a gentileza a pessoa, que eu nunca tinha visto mais nova, abriu um sorriso largo expondo as "pererecas", a de cima, faltando 2 dentes, dançando twist e a debaixo, hally-gally, numa boca murcha que só um maracujá passado. Tinha o cabelo mais preto do que asa de graúna de luto.
Procurei pela bengala, o andador ou a cadeira de rodas da octagenária e não as vi. Quando mirei nos olhos da "moça", por trás de um óculos fundo de garrafa, constatei que eram "brigados", um olho olhava pra norte e o outro pro sul (mais uma vez digo que Cerveró é um baita dum privilegiado por ter as vistas alinhadas apenas uma é "luz baixa" e a outra "luz alta"). Pense num estrupício vestido de saia e blusa. Meu idosímetro estima em uns 93 anos.

Eu, desconfiado que só Silver, o cavalo do Zorro, escondi os óculos, meus remédios para diabetes e controle do colesterol, os colírios, a bolsa com uma muda de fraldão e o celular. Já afastei meu copo com receio dela botar um "Boa noite Cotonete", me "fazer um mal" e levar tudo, tudo, até a tesão que já tá por uma peinha. Mas, educadamente e com pena, deixei a abilolada a vontade. Ela começou a falar entusiasmada sobre os jogos olímpicos e disse que viu Hitler, ao vivo, entregando medalhas aos alemães na Olimpíadas de 1936. Contou suas façanhas como enfermeira na Itália, servindo a FEB (Força Expedicionária Brasileira) durante a Segunda Guerra Mundial e ainda que foi massagista de Castilho e Pinheiro, do Fluminense, e era conhecida no meio esportivo como "Mão de pelúcia". Concluiu dizendo que estava na arquibancada do Maracanã quando a seleção de 50 perdeu a final para o Uruguai.

Comecei a duvidar do que estava ouvindo, a me impacientar e encarei a "menina" cascateira com cara de quem comeu quente e salgado. Ela, vivida e matreira que só bicho de circo, percebeu meu espanto e incredulidade e de pronto lançou a cantada fatal:
"Calma querido, não precisa se alvoroçar meu gato. Você parece demais com meu ídolo: Fred Astaire e pelo seu corpinho esbelto deve dançar igual a ele. Moro aqui pertinho e por que não vamos lá "ariar a fivela" até a catinga de mofo incensar todo o condomínio? Ponho na radiola uns LPs de fox-trote e valsa e deixo rodando até a agulha furar a bolacha de vinil. Garanto que você não vai se arrepender. Ainda mantenho as mesmas habilidades que podem lhe encantar. Me dê uma chance". Em seguida puxou um Motorola Startac e quiz tirar um selfie comigo.

Neste momento a ficha caiu e coisa "torou dentro". Dei um pinote para trás maior do que nosso atleta que ganhou o salto com vara, e falei: "Se escafede pra lá múmia de Satanás, figurante de filme de Drácula, espantalho de bruxa caquética. Deixa de fuleragem e vai procurar outro bengalista otário. Arrasta catraia, cambão desgovernado". A tia de Matuzalém sentiu a porrada, resmungou alguma coisa e saiu mais triste do que medalhista de prata que era o favorito e jogava em casa.

Aproveitei sai mais rápido do que o Bolt e nem paguei a conta. Ainda pensei em fazer um BO por assédio sexual mas desisti. Ninguém ia acreditar na minha estória. Acho que a contemporânea de Santos Dumont está gagá, esclerosada e só queria tirar um sarro comigo. Ou não?
De qualquer forma estou me sentindo um "Beto Astaire" e já estou procurando um curso de dança de salão para aprimorar meus "pés de chumbo". Quem sabe no próximo sábado ela não volta e a gente resolve se entender.
É muita fuleragem.


26/08/16

O “Cotonete” no dentista (FB)

A natureza foi pródiga e generosa comigo. Deu-me uma dentadura privilegiada, sadia, resistente embora meio "entremelada". Com 65 anos ainda possuo todos os dentes, exceto um molar que foi retirado ainda na infância para acomodar melhor a arcada que se formava, recurso do tempo que não existiam os aparelhos corretivos de hoje. Por esta "cremalheira", sem nenhum canal, pivô ou postiço, já passaram muito milho assado, pitomba inchada, umbu "de vez", castanha de beira de estrada, picanhas de muitas churrasqueira e diversas outras iguarias. Tenho um zelo e um cuidado enormes a estes pedaços de marfim e tenho mais medo de dentista do o Gerry tem do Tom.

Depois de quase dois anos sem chegar perto do escritório do odontólogo, esta semana tomei coragem e fui visita-lo. Marquei no primeiro horário pois se ficar na sala de espera escutando o "tuiiiimmm" daquele motor maldito, peço ao próximo pra passar na frente, desisto e vou pra casa.

A dentista quando me viu foi logo tirando uma onda: "Oh, como vai Seu Cotonete, o paciente mais frouxo que conheço. Não pode ver uma seringa que já sente um "croin" no pé do bucho. Desta vez veio de fraldão descartável? Senta aqui nesta cadeirinha confortável pra gente fazer uma vistoria nesta dentadura cansada de amassar coisa boa". Pelo canto do olho vi a atendente segurando o riso debaixo da burca cirúrgica.

De cara feia e encagaçado, atendi a ordem da folgada operadora do boticão. Inspeção feita, escuto a boa notícia: "Meus parabéns, nenhuma cárie apenas um tartarozinho e uma panela rachada, problemas que vamos resolver agora". (Na realidade este molar rachado tá por uma peinha, só tem uma raiz rodeada de amálgama por todos lados. É o meu triturador de milho preferido).

A dentista sabendo que eu tenho pavor de uma seringa, provocou: "Quer com anestesia ou vai no crú mesmo?"
Quando ouvi isto as já tripas gritaram: "Põe mais gástrico na "massa" e se preparem para a evacuação". O meu orifício proctológico travou e como eu já o conheço, só destravou quando sentei na minha privada que tem instalado um SBVP ("Sensor Butílico Virtual Personalizado"). Não tem chance do monossílabo abrir noutro lugar.

Optei por "sem anestesia". Quando abri a boca e ouvi os primeiros acordes do "Tuiiiiimmmm" zunindo no meus ouvidos, me retesei que nem um soldado norte coreano na posição de "sentido" e agarrei os braços da cadeira como se estivesse numa montanha russa daquelas que têm três "gozo de padre" encarreados. Procurei o cinto de segurança e não o achei. Fechei os olhos, respirei fundo e segurei o ar que nem faz mergulhador que pesca lagosta nas profundezas do mar do Ceará e só botei o gás carbônico pra fora depois da esticada final do famigerado roedor de dentina. A catinga de chifre queimado incensou todo o consultório. Sofri mais do que bola de volley em decisão de Olimpíadas.

Quando a broca "acariciava" a raiz da panela eu via mais estrelas do que o telescópio Hubble. Doeu mais do que um dente da frente cariado quando é lambuzado por uma talabada de doce de leite açucarado e em seguida é lavado por um copo de água a 3 graus Celsius. Saí do consultório com a boca aberta e babando parecendo um jumento que comeu urtiga. Pra completar, quando a fechei ainda mordi a língua.

Tenho tanto medo da sensação de dor que troco os ganchos das redes dos 36m2 a cada dois meses por receio de uma queda. Subir em escada, fazer trilha, garupar numa moto ou passar perto de fogão, vige, nem pensar. Quando caminho tenho inveja de Cerveró que tem um olho no caminho é outro no chão pra não dar uma topada ou torcer um pé. É uma luz alta é uma luz baixa, ao mesmo tempo. Se pudesse tomava anestesia geral até pra cortar o cabelo e as unhas.

Ainda bem que martírio durou apenas 10 minutos e só daqui a dois anos voltarei a ser intimado por este profissional e seu temido "Tuiiiiimmmm". Já decidi: no dia em que os permanentes não tiverem mais permanentes na minha boca, quando for necessário algum reparo nas "pererecas", as mandarei para o dentista ou protecto via SEDEX para nunca mais pisar num consultório dentário.
Minha vingança é que dentista também vai ao dentista.
É muita fuleragem.


19/08/16

“Overload” no bafômetro

Comecei a entornar o álcool, moderadamente, já bem crescidinho depois dos 30 anos quando fui morar em Aracaju, em meados da década de 70. Até então era um copinho de cerveja aqui, uma taçinha de vinho ali, uma dose de whisky acolá. O $$ era curto, a vontade era pouca e as companhias eram meio cafonas.

Na capital dos aracajuanos, com grana no bolso e a "sede" dos novos amigos era grande, me apaixonei pela mistura da cevada com lúpulo e nunca mais deixei de ser fiel a uma Pilsen estupidamente gelada. Tentei uma amizade com o malte das Highlanders mas fiquei só no flerte. Com o néctar das uvas francesas foi a mesma coisa. Na falta da cerva, prefiro uma "branquinha" produzida nos alambiques da minha Paraíba.

Nestes 40 anos bebendo socialmente tem algumas "cachaçadas", uns "copos fora da curva", que merecem registro. Nos idos de 70/80, beber whisky escocês legítimo era caro e difícil de se garantir a precedência, salvo quando alguém mais abastado passava por um freeshop, coisa que também era raro na nossa roda de amigos. Lembro que na primeira viagem que fiz ao exterior trouxe umas duas garrafas de Scotch genuíno e uma delas era da marca "Buchanan's". A guardava com o maior carinho e zelo até o dia em que conheci meu futuro amigo Cabeleira. Na primeira vez que o convidei ao meu apartamento, o entusiasmo foi grande, do tamanho do desejo dele em deflorar aquela ampola escocesa que embelezava o espaço nobre da cristaleira da sala.

Eu na Antártica e o convidado encaçapando o suco importado. Não ficou uma gota pra servir de colírio no olho de um micróbio. O Guilherme saiu se arrastando até a porta do elevador, último local onde me lembro te-lo visto. Como chegou em casa, nem ele sabe até hoje. Esta estória é gostosamente lembrada toda vez que um Buchanan's se intromete entre nós dois. Ali selou-se uma amizade que cada vez mais é pura, fiel, deliciosa e estimulante como o líquido que o eterno Vinícius de Moraes chamava de "Cachorro engarrafado".

Numa outra ocasião, eu e o querido "Ceguim do Ceará" tomamos um porre que começou no meu ap e terminou com o sol já se pondo, na Praia dos Artistas, na Coroa do Meio, depois de ter passado pelo Mosqueiro e Atalaia, também em Aracaju. Não sei quem foi nosso motorista mas certamente não foi nenhum de nós dois. Desta vez o "Scotch" foi o famoso nacional "Old Eight". O deficiente visual no dia seguinte amanheceu com um queimor no tubo do esôfago que parecia ter engolido um lança-chamas acesso e quase precisou de auxílio dos bombeiros para apagar o fogaréu. Passou uns dez dias só tomando água e comendo papa. Sofreu que só sovaco de aleijado.

Mais recentemente eu e o meu primo Pedro Ivo fizemos outra extravagância etílica, desta vez nos 36m2. Conversa vai, conversa vem, enxugamos duas garrafas de Volúpia, tendo como "tira-gosto" apenas água de coco. Enquanto Mabel dormia sossegadamente no quarto ao lado a gente relembrava bons momentos do passado, falava dos amigos comuns, escutava as músicas que marcaram nossos anos dourados, choramos juntos e outras coisas que o nível alcoólico tratou de apagar da memória, definitivamente. No outro dia, meu querido primo amanheceu com um talho logo abaixo de um dos olhos, causado pelo que sobrou de um Ray-Ban canadense que ele esqueceu de tirar quando despencou na cama.

Não estou aqui fazendo apologia ao álcool, muito longe disto. Os excessos aconteceram com as pessoas certas, em situações especiais, em locais adequados e contribuíram para o amadurecimento dos nossos laços de amizade. Estamos todos vivendo com as mesmas parceiras, já somos avôs e nenhum é alcoólatra ou tem sintomas disto.

Foram momentos que relembramos com gosto e com saudade todas as vezes que nos reunimos. Encontros fortuitos, despretensiosos, que geraram "chaves, senhas e códigos" de uma criptografia "amigadora" simples, universal, saudável que fizeram nossas amizades fortes como foram as parcerias "Vinícius & Tom", "Lennon & McCartney", "Pelé & Coutinho", e são, "Caetano & Gil", "Guilherme & Alfredo" e o "Perdão, Emoção & Paixão".

Atualmente nas nossas confraternizações a bebida é cada vez mais moderada e seletiva. No meu caso específico a intolerância tem sido natural e muito bem aceita o que contribui para o controle da minha diabetes. A animação e o prazer em estamos reunidos continuam os mesmos.


12/08/16