quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Minha homosexualidade enfim revelada

Foram mais de 50 anos vivendo preso, calado, na cela perversa da homosexualidade, sofrendo que nem sovaco de aleijado. Mas agora chegou meu momento de sair desta jaula, liberar as algemas dos pruridos comportamentais e me sentir livre, liberto como uma libélula no florecer da primavera. 

Nasci numa família onde a viadagem sequer era comentada, quanto mais admitida. Ouvia meu papai falar, com aquele seu olhar de águia intimidador, que se um dia desconfiasse que um filho ou um neto seu tivesse um certo trejeito afeminado (viado pra ele era chamado ora de "Fresco", ora de "Pederasta"), o infeliz tomaria um sonoro "crock" no quengo que passaria uma semana cuspindo cabelo e levaria um bufete tão da bobônica que o "corpo ficaria imóvel e a cabeça iria prestar queixa na delegacia". Minha irmã ficava fora de qualquer suspeita pois naquela época, sapatão era apenas um número acima de 43. A prática do lesbianismo era mais escondida do que umbigo de freira. 

Não sabia ele que dentro daquele seu primogênito machão tão desejado e festejado, já começava a "cuminchar" com força e irreversivelmente, o miserável e impertinente gem cocó. A primeira vez que vi minha irmã de sutiã quase morri de inveja. Pensava:  "porque ela e não eu estou dentro daquela peça tão feminina"? Quantas vezes na ausência dela, de frente a sua penteadeira, vesti um "Demillus" 36, rosa bebê, meia-taça, com duas bolas de ping-pong no lugar dos mamilos que eu tanto sonhava possuí-los. 

O tempo foi passando, a testosterona brigando com a progesterona e os sinais externos da minha masculinidade infelizmente começavam a aflorar. Os primeiros fios de barba eram raspados todo dia com o "Gillette Platinum Plus" do papai. O meu velho, macho brabo "formado na escola onde Lampião foi reprovado por frouxura", todo mês inspecionava meu gogó pra ver se o "nó" estava crescendo. Eu torcendo para que aquele sinal inconfundível de macho demorasse o máximo possível a aparecer mas por outro lado ficava temeroso da reação dele, papai. 

Um belo dia ele sentiu a protuberância surgindo e comemorou, efusivamente, divulgando pra toda família. "Viva, este macho filho meu, promete. Tudo indica que vai puxar a meu irmão e logo, logo vai reinar nos cabarés da Manoel Pereira, de Campina Grande, e da Maciel Pinheiro, da capital. A mulherada não vai resistir ao seu excesso de  virilidade". Não sabia ele que enquanto meus irmãos liam "Gisele, a espiã nua que abalou Paris", eu me escondia no banheiro para me deliciar com as foto-novelas de amor publicadas nas revistas "Sétimo Céu", "Capricho" e "Contigo". 

No colégio Marista onde estudei sofri bullying de todas as formas. Tomei muitos catiripapos e contra-vapor. Era chamado de "Morde fronha", "Dá ré no kibe", "Bambi", "Agasalhador de croquete", "Dorme com vovó" e outros apelidos maldosos que tatuaram, definitivamente, a minha personalidade. Só era chamado para jogar "academia" e "patacho" e pular corda. 

O carnaval era o período que eu mais ansiava e adorava e o que mais me sentia reprimido. Eu observava aquelas fantasias glamurosas, o brilho dos paetês e das lantejoulas, os pierrôs esfuziantes, as colombinas deslumbradas, e ficava extasiado me vendo rebolando e brilhando naquele vulcão de alegria e prazer. Quando ouvia os acordes de "Máscara negra", "Vassourinhas", os frevos de Capiba e de Claudionor Germano, os cabelos da nuca eriçavam e o orifício proctológico piscava que só o obturador de uma Roleyflex. Era mais gostoso do que "mijar peidando" como diz o matuto nordestino. Os carnavalescos Clóvis Bornay e Evandro Castro Lima eram meus ídolos e eu não deixava de assistir na televisão (em preto e branco, na casa de "Lolola") os inesquecíveis bailes do Municipal do Rio e o Gala Gay. 

Nas décadas de 80 e 90 brinquei muitos carnavais na pracinha da Lagoa do Pau, em Coruripe, nas gostosas companhias dos héteros  Alfredão, Bob Maia, Rui Bolivar, Murilão, Guilherme "Cabeleira", "Fredão", Enéas, Ronaldo e vários outros amigos que frequentavam aquele recanto de nome tão sugestivo!!!

Na primeira oportunidade e a pretexto de estudar teatro, balé, maquiagem, costureiro ou mesmo corte de cabelo, saí da minha cidade natal e fui para o Rio de Janeiro atrás, principalmente, da minha liberdade. Morei na Galeria Alaska, em Copacabana, e me senti em casa. Conheci muita gente que pensava e tinha as mesmas carências e problemas de quem viveu numa cidade pequena e patrulhada. Mas mesmo dispondo desta liberdade plena, não consegui me livrar dos grilhões pesados da repressão sofrida na infância e adolescência. Mesmo com esta "camisola de força" invisível e permanente, foi a melhor fase da minha vida. Graças a Deus meu papai nunca soube das preferências homoafetivas do seu "varão boneca". Ele morreu muito cedo. 

Mas a idade foi chegando e com ela a solidão, as limitações, a diabetes e o ostracismo. Sempre fui muito discreto e quase ninguém percebeu meu lado mulher que tanto reprimi. Agora não faz mais sentido esconder dos amigos este meu passado aviadado. Resolvi "sair do armário" de forma escancarada e definitiva. Estou me sentido mais leve e aliviado em contar aqui um pouco das minhas alegrias, angústias e frustrações. Vivi no Rio, Sergipe e agora estou aposentado em Alagoas onde pretendo curti o  tempo que ainda me resta. Espero que todos entendam, me apoiem e continuem dedicando o mesmo carinho que nunca me faltou.  

Meus caros leitores, o depoimento que vocês leram acima me foi dado recentemente pelo cronista social, cidadão de Arapiraca e meu conterrâneo, Diva Albuquerque (que diga-se de passagem, não tem nenhum parentesco comigo).

É muita fuleragem. 

16/09/16

Os verdadeiros heróis (FB)

Recentemente circulou nas redes sociais uma foto-montagem que me chamou a atenção para o equívoco que comentemos na escolha dos nossos heróis. Lá aparecem a figura de um professor, que rala que só reco-reco em pagode para receber um pixuleco no final do mês e a do Neymar, que ganha milhões e é chamado de "nosso herói", numa total inversão de valores, na minha opinião. Nada contra o sucesso e a consequente conta bancária do crack do Barcelona mas elegê-lo como nosso "herói" é uma tapa na cara dos milhões de verdadeiros heróis que sobrevivem neste país.

Herói é minha secretária que acorda todo dia às 4:30hs da manhã para pegar um ônibus menos lotado e chegar aqui em casa às 6hs, trabalhar até às 14hs e ainda arrumar tempo e disposição pra cuidar da família, da casa e estudar a noite em busca da alfabetização. Em 6 meses neste percurso já foi assaltada 2 vezes perdendo os poucos bens adquiridos com o resultado desta jornada estafante.

Heróis são os abnegados profissionais do "Médicos Sem Fronteiras" que dedicam e arriscam suas vidas para salvar milhares de desassistidos numa África doente e em diversas outras regiões conflitadas do mundo. Herói é um pai de família que ganha um salário mínimo para manter sua família e ainda viver esperançoso com o que está por vir.

Heróis são os policiais que ganham uma micharia arriscando suas vidas para tirar da rua bandidos e assassinos que a Justiça manda soltar no dia seguinte. Heróis são estes atletas paraolímpicos que com suas mais diversas deficiências e limitações conseguem realizar proezas incríveis, uma demonstração viva de que o ser humano, quando quer, é capaz de se superar, de se reinventar, de reviver. Eles acreditam que "é preciso saber viver".

Gastou-se muito dinheiro para medalhar alguns poucos brasileiros nas recentes olimpíadas. Nas mesmas edições ufanistas dos jornais televisivos viu-se alguns destes heróis ovacionados recebendo uma medalha de ouro, de prata ou de bronze e viu-se, também, verdadeiros heróis humilhados, aqueles idosos doentes renais-crônicos de uma esquecida cidade maranhense que acordam às 3 da manhã, chacoalham por 5 horas dentro de um ônibus caindo aos pedaços até a capital do feudo dos Sarneys, passam 3/4 horas estáticos, reféns de uma máquina de hemodiálise, comendo bolacha seca com água e fazem o caminho de volta pra casa onde chegam lá pelas 10 da noite, completamente exauridos. Isso, 3/4 vezes por semana, alguns deles há mais de 10 anos, para terem o direto de continuar vivos. As verbas para a construções de unidades de tratamento em localidades mais próximas foram desviadas para o bolso dos corruptos de sempre.

Estes sim merecem todas as medalhas, de ouro, de prata, de bronze, de respeito, de dignidade, de admiração. Aqueles que roubaram e roubam a esperança, a saúde, a dignidade destes sofridos heróis anônimos deveriam receber a medalha de chumbo 45, na nuca. Estas olimpíadas do descaso, do desrespeito, da humilhação, acontecem, diariamente, em centenas de cidades e povoados espalhados por este Brasil tão espoliado, desigual e injusto.

As eleições estão chegando e cada um de nós tem uma poderosa arma, um "carimbo eleitoral" para estampar um voto medalhado com ouro ou com chumbo nas centenas de candidatos que estão nas ruas implorando pelo seu voto. Sejamos implacáveis nesta escolha para que tenhamos menos "Olimpíadas do horror" e mais pódios dignos de uma nação que prestigia seus verdadeiros heróis.

Giba

PS.: Esta semana eu criei o blog "Bastidores da Música"
onde conto estórias e curiosidades interessantes de bastidores sobre o surgimento, gravações, interpretações e coisas afins de músicas que gostamos de ouvir. Como não poderia ser diferente, lá já estão postadas  algumas informações sobre músicas dos Beatles.
Peço que confiram e participem com seus comentários, correções e aprimoramentos.


09/09/16

Virtuosos anônimos

Fui e sou um ouvidor voraz de música. Ela me acompanha em todos os lugares e momentos. Cheguei a possuir mais de 1000 LPs e um outro tanto de CDs, hoje todos foram doados, a exceção daqueles dos Beatles e alguns outros poucos. Sempre me encantei com a arte das capas e encartes, às vezes até mais do que com o conteúdo sonoro da bolacha vinilizada ou acrilizada. A digitalização e a tal da "nuvem" tiraram este encanto.

Além da arte, tenho uma curiosidade enorme em saber quem tocou o quê em cada canção, o estúdio onde foi gravada, quem arranjou, ou seja, os bastidores da produção da gravação. No auge da Jovem Guarda a ficha técnica dos álbuns era coisa raríssima. Os discos vinham "desidratados" de informação, mal apareciam a foto do intérprete e os nomes dos autores das músicas.

Como sempre os Beatles começaram a mudar isto quando, do lançamento do LP "Rubber Soul , em 1965, listou no verso da bela capa o nome de quem era o principal vocalista em cada uma das canções. Daí pra frente a coisa foi mudando e em 1967, também Eles, lançaram o "Sgt. Pepper's lonely hearts club band" que trazia na contra-capa as letras das músicas. Foi uma revolução total, principalmente para aqueles estrangeiros que não dominavam o idioma do Shakespeare. Todo artista passou a copiar a inovação.

Saber "quem tocava o quê" ainda levou um certo tempo e só recentemente isto passou a ser regra. Ainda hoje, mesmo com o sabido Google, não encontro informações seguras de quem tocou, por exemplo, o vigoroso baixo, na música "Ciúme de você" do Roberto Carlos, um primor de performance. Outras tantas daqueles distantes anos 70 conhece-se muito pouco da sua produção. Sabe-se hoje que o baixista do "Renato e seus Blue Caps", o virtuoso Paulo Cézar Barros, tocou em muitas canções do Roberto, que o Lafayete era seu preferido nos teclados e os The Fevers e o próprio Renato, foram muito usados como músicos de acompanhamento.

Nem com as facilidades da internet encontrei informações sobre quem acompanhou, por exemplo, Caetano na versão original de "Sampa", um verdadeiro hino que não me canso de "oiçar". A performance das violas e violões é simplesmente espetacular. Quem foram aqueles virtuosos anônimos que tocaram magistralmente nesta canção? Talvez o próprio Caetano seja um deles.

Um fato interessante que bem ilustra esta falta de informação. No dia 6/9/68, há 48 anos completa-se na próxima semana, portanto, a convite de um "cabeludo de Liverpool", um guitarrista já muito famoso entrou nos Estúdios da Abbey Road, em Londres, e se instalou, todo acanhado e intimidado pela presença dos outros três Beatles, num canto do famoso Studio 2. Sobre uma cadeira estava uma guitarra Les Paul vermelha que ele tinha presenteado o George dias antes. Ele vestiu "Lucy", apelido dado pelo George para o brinde recebido, e num único take imortalizou a obra prima do George Harrison, "While my guitar gently weeps", com um dos solos mais criativos e espetaculares que já ouvi. Sua participação não constou sequer nos créditos do "Álbum Branco" e só muito tempo depois se veio a saber quem era o autor daquela proeza: Eric Clapton.

Tenho uma curiosamente em identificar um monte de outros músicos que estão por trás de belas tocadas daquela época. Comprei muitos Cd's sem nem sequer conhecer o intérprete, mas, pela turma que estava tocando, eu sabia que era coisa boa. A situação mudou muito e agora até o cidadão que serve o cafezinho está lá citado nos créditos do disco. Sou um apaixonado pelo que acontece no "back stage" e principalmente pela performance dos músicos, seja qual for seu instrumento.

Por acaso vocês sabem quem é o baixista que, discretamente, dá um show de interpretação no recém lançado CD "Amigo é pra estas coisas", do The Fezze's & The Bostan's"? Tá lá no encarte do CD.


02/09/16

Cantada com gosto de mofo

Depois de vários fins de semana passados nos 36m² no último sábado, após uma gostosa caminhada, retornei à mesa 36 do Bar do Pirata, na Ponta Verde. Estava lá tranquilo, sossegado, ouvindo meus MP3, degustando uma Original e uma codorninha frita quando, de repente, recebo uma tapinha nas costas e escuto aquela voz rouca que nem a do Monsueto, perguntando: "Posso sentar?"
Eu, educadamente, disse: "Por favor, Mademoisele, sinta-se a vontade". Não imaginava o que ia acontecer.

Satisfeita a gentileza a pessoa, que eu nunca tinha visto mais nova, abriu um sorriso largo expondo as "pererecas", a de cima, faltando 2 dentes, dançando twist e a debaixo, hally-gally, numa boca murcha que só um maracujá passado. Tinha o cabelo mais preto do que asa de graúna de luto.
Procurei pela bengala, o andador ou a cadeira de rodas da octagenária e não as vi. Quando mirei nos olhos da "moça", por trás de um óculos fundo de garrafa, constatei que eram "brigados", um olho olhava pra norte e o outro pro sul (mais uma vez digo que Cerveró é um baita dum privilegiado por ter as vistas alinhadas apenas uma é "luz baixa" e a outra "luz alta"). Pense num estrupício vestido de saia e blusa. Meu idosímetro estima em uns 93 anos.

Eu, desconfiado que só Silver, o cavalo do Zorro, escondi os óculos, meus remédios para diabetes e controle do colesterol, os colírios, a bolsa com uma muda de fraldão e o celular. Já afastei meu copo com receio dela botar um "Boa noite Cotonete", me "fazer um mal" e levar tudo, tudo, até a tesão que já tá por uma peinha. Mas, educadamente e com pena, deixei a abilolada a vontade. Ela começou a falar entusiasmada sobre os jogos olímpicos e disse que viu Hitler, ao vivo, entregando medalhas aos alemães na Olimpíadas de 1936. Contou suas façanhas como enfermeira na Itália, servindo a FEB (Força Expedicionária Brasileira) durante a Segunda Guerra Mundial e ainda que foi massagista de Castilho e Pinheiro, do Fluminense, e era conhecida no meio esportivo como "Mão de pelúcia". Concluiu dizendo que estava na arquibancada do Maracanã quando a seleção de 50 perdeu a final para o Uruguai.

Comecei a duvidar do que estava ouvindo, a me impacientar e encarei a "menina" cascateira com cara de quem comeu quente e salgado. Ela, vivida e matreira que só bicho de circo, percebeu meu espanto e incredulidade e de pronto lançou a cantada fatal:
"Calma querido, não precisa se alvoroçar meu gato. Você parece demais com meu ídolo: Fred Astaire e pelo seu corpinho esbelto deve dançar igual a ele. Moro aqui pertinho e por que não vamos lá "ariar a fivela" até a catinga de mofo incensar todo o condomínio? Ponho na radiola uns LPs de fox-trote e valsa e deixo rodando até a agulha furar a bolacha de vinil. Garanto que você não vai se arrepender. Ainda mantenho as mesmas habilidades que podem lhe encantar. Me dê uma chance". Em seguida puxou um Motorola Startac e quiz tirar um selfie comigo.

Neste momento a ficha caiu e coisa "torou dentro". Dei um pinote para trás maior do que nosso atleta que ganhou o salto com vara, e falei: "Se escafede pra lá múmia de Satanás, figurante de filme de Drácula, espantalho de bruxa caquética. Deixa de fuleragem e vai procurar outro bengalista otário. Arrasta catraia, cambão desgovernado". A tia de Matuzalém sentiu a porrada, resmungou alguma coisa e saiu mais triste do que medalhista de prata que era o favorito e jogava em casa.

Aproveitei sai mais rápido do que o Bolt e nem paguei a conta. Ainda pensei em fazer um BO por assédio sexual mas desisti. Ninguém ia acreditar na minha estória. Acho que a contemporânea de Santos Dumont está gagá, esclerosada e só queria tirar um sarro comigo. Ou não?
De qualquer forma estou me sentindo um "Beto Astaire" e já estou procurando um curso de dança de salão para aprimorar meus "pés de chumbo". Quem sabe no próximo sábado ela não volta e a gente resolve se entender.
É muita fuleragem.


26/08/16

O “Cotonete” no dentista (FB)

A natureza foi pródiga e generosa comigo. Deu-me uma dentadura privilegiada, sadia, resistente embora meio "entremelada". Com 65 anos ainda possuo todos os dentes, exceto um molar que foi retirado ainda na infância para acomodar melhor a arcada que se formava, recurso do tempo que não existiam os aparelhos corretivos de hoje. Por esta "cremalheira", sem nenhum canal, pivô ou postiço, já passaram muito milho assado, pitomba inchada, umbu "de vez", castanha de beira de estrada, picanhas de muitas churrasqueira e diversas outras iguarias. Tenho um zelo e um cuidado enormes a estes pedaços de marfim e tenho mais medo de dentista do o Gerry tem do Tom.

Depois de quase dois anos sem chegar perto do escritório do odontólogo, esta semana tomei coragem e fui visita-lo. Marquei no primeiro horário pois se ficar na sala de espera escutando o "tuiiiimmm" daquele motor maldito, peço ao próximo pra passar na frente, desisto e vou pra casa.

A dentista quando me viu foi logo tirando uma onda: "Oh, como vai Seu Cotonete, o paciente mais frouxo que conheço. Não pode ver uma seringa que já sente um "croin" no pé do bucho. Desta vez veio de fraldão descartável? Senta aqui nesta cadeirinha confortável pra gente fazer uma vistoria nesta dentadura cansada de amassar coisa boa". Pelo canto do olho vi a atendente segurando o riso debaixo da burca cirúrgica.

De cara feia e encagaçado, atendi a ordem da folgada operadora do boticão. Inspeção feita, escuto a boa notícia: "Meus parabéns, nenhuma cárie apenas um tartarozinho e uma panela rachada, problemas que vamos resolver agora". (Na realidade este molar rachado tá por uma peinha, só tem uma raiz rodeada de amálgama por todos lados. É o meu triturador de milho preferido).

A dentista sabendo que eu tenho pavor de uma seringa, provocou: "Quer com anestesia ou vai no crú mesmo?"
Quando ouvi isto as já tripas gritaram: "Põe mais gástrico na "massa" e se preparem para a evacuação". O meu orifício proctológico travou e como eu já o conheço, só destravou quando sentei na minha privada que tem instalado um SBVP ("Sensor Butílico Virtual Personalizado"). Não tem chance do monossílabo abrir noutro lugar.

Optei por "sem anestesia". Quando abri a boca e ouvi os primeiros acordes do "Tuiiiiimmmm" zunindo no meus ouvidos, me retesei que nem um soldado norte coreano na posição de "sentido" e agarrei os braços da cadeira como se estivesse numa montanha russa daquelas que têm três "gozo de padre" encarreados. Procurei o cinto de segurança e não o achei. Fechei os olhos, respirei fundo e segurei o ar que nem faz mergulhador que pesca lagosta nas profundezas do mar do Ceará e só botei o gás carbônico pra fora depois da esticada final do famigerado roedor de dentina. A catinga de chifre queimado incensou todo o consultório. Sofri mais do que bola de volley em decisão de Olimpíadas.

Quando a broca "acariciava" a raiz da panela eu via mais estrelas do que o telescópio Hubble. Doeu mais do que um dente da frente cariado quando é lambuzado por uma talabada de doce de leite açucarado e em seguida é lavado por um copo de água a 3 graus Celsius. Saí do consultório com a boca aberta e babando parecendo um jumento que comeu urtiga. Pra completar, quando a fechei ainda mordi a língua.

Tenho tanto medo da sensação de dor que troco os ganchos das redes dos 36m2 a cada dois meses por receio de uma queda. Subir em escada, fazer trilha, garupar numa moto ou passar perto de fogão, vige, nem pensar. Quando caminho tenho inveja de Cerveró que tem um olho no caminho é outro no chão pra não dar uma topada ou torcer um pé. É uma luz alta é uma luz baixa, ao mesmo tempo. Se pudesse tomava anestesia geral até pra cortar o cabelo e as unhas.

Ainda bem que martírio durou apenas 10 minutos e só daqui a dois anos voltarei a ser intimado por este profissional e seu temido "Tuiiiiimmmm". Já decidi: no dia em que os permanentes não tiverem mais permanentes na minha boca, quando for necessário algum reparo nas "pererecas", as mandarei para o dentista ou protecto via SEDEX para nunca mais pisar num consultório dentário.
Minha vingança é que dentista também vai ao dentista.
É muita fuleragem.


19/08/16

“Overload” no bafômetro

Comecei a entornar o álcool, moderadamente, já bem crescidinho depois dos 30 anos quando fui morar em Aracaju, em meados da década de 70. Até então era um copinho de cerveja aqui, uma taçinha de vinho ali, uma dose de whisky acolá. O $$ era curto, a vontade era pouca e as companhias eram meio cafonas.

Na capital dos aracajuanos, com grana no bolso e a "sede" dos novos amigos era grande, me apaixonei pela mistura da cevada com lúpulo e nunca mais deixei de ser fiel a uma Pilsen estupidamente gelada. Tentei uma amizade com o malte das Highlanders mas fiquei só no flerte. Com o néctar das uvas francesas foi a mesma coisa. Na falta da cerva, prefiro uma "branquinha" produzida nos alambiques da minha Paraíba.

Nestes 40 anos bebendo socialmente tem algumas "cachaçadas", uns "copos fora da curva", que merecem registro. Nos idos de 70/80, beber whisky escocês legítimo era caro e difícil de se garantir a precedência, salvo quando alguém mais abastado passava por um freeshop, coisa que também era raro na nossa roda de amigos. Lembro que na primeira viagem que fiz ao exterior trouxe umas duas garrafas de Scotch genuíno e uma delas era da marca "Buchanan's". A guardava com o maior carinho e zelo até o dia em que conheci meu futuro amigo Cabeleira. Na primeira vez que o convidei ao meu apartamento, o entusiasmo foi grande, do tamanho do desejo dele em deflorar aquela ampola escocesa que embelezava o espaço nobre da cristaleira da sala.

Eu na Antártica e o convidado encaçapando o suco importado. Não ficou uma gota pra servir de colírio no olho de um micróbio. O Guilherme saiu se arrastando até a porta do elevador, último local onde me lembro te-lo visto. Como chegou em casa, nem ele sabe até hoje. Esta estória é gostosamente lembrada toda vez que um Buchanan's se intromete entre nós dois. Ali selou-se uma amizade que cada vez mais é pura, fiel, deliciosa e estimulante como o líquido que o eterno Vinícius de Moraes chamava de "Cachorro engarrafado".

Numa outra ocasião, eu e o querido "Ceguim do Ceará" tomamos um porre que começou no meu ap e terminou com o sol já se pondo, na Praia dos Artistas, na Coroa do Meio, depois de ter passado pelo Mosqueiro e Atalaia, também em Aracaju. Não sei quem foi nosso motorista mas certamente não foi nenhum de nós dois. Desta vez o "Scotch" foi o famoso nacional "Old Eight". O deficiente visual no dia seguinte amanheceu com um queimor no tubo do esôfago que parecia ter engolido um lança-chamas acesso e quase precisou de auxílio dos bombeiros para apagar o fogaréu. Passou uns dez dias só tomando água e comendo papa. Sofreu que só sovaco de aleijado.

Mais recentemente eu e o meu primo Pedro Ivo fizemos outra extravagância etílica, desta vez nos 36m2. Conversa vai, conversa vem, enxugamos duas garrafas de Volúpia, tendo como "tira-gosto" apenas água de coco. Enquanto Mabel dormia sossegadamente no quarto ao lado a gente relembrava bons momentos do passado, falava dos amigos comuns, escutava as músicas que marcaram nossos anos dourados, choramos juntos e outras coisas que o nível alcoólico tratou de apagar da memória, definitivamente. No outro dia, meu querido primo amanheceu com um talho logo abaixo de um dos olhos, causado pelo que sobrou de um Ray-Ban canadense que ele esqueceu de tirar quando despencou na cama.

Não estou aqui fazendo apologia ao álcool, muito longe disto. Os excessos aconteceram com as pessoas certas, em situações especiais, em locais adequados e contribuíram para o amadurecimento dos nossos laços de amizade. Estamos todos vivendo com as mesmas parceiras, já somos avôs e nenhum é alcoólatra ou tem sintomas disto.

Foram momentos que relembramos com gosto e com saudade todas as vezes que nos reunimos. Encontros fortuitos, despretensiosos, que geraram "chaves, senhas e códigos" de uma criptografia "amigadora" simples, universal, saudável que fizeram nossas amizades fortes como foram as parcerias "Vinícius & Tom", "Lennon & McCartney", "Pelé & Coutinho", e são, "Caetano & Gil", "Guilherme & Alfredo" e o "Perdão, Emoção & Paixão".

Atualmente nas nossas confraternizações a bebida é cada vez mais moderada e seletiva. No meu caso específico a intolerância tem sido natural e muito bem aceita o que contribui para o controle da minha diabetes. A animação e o prazer em estamos reunidos continuam os mesmos.


12/08/16

Medalha de mer.....

Eu ja tinha até feito um outro texto pra hoje mas ontem depois de assistir a decepcionante partida da nossa seleção olímpica, fiquei tão puto que antes de acabar a pelada desabafei no IPad esta resenha a seguir.

Depois desse resultado bisonho, ridículo, vergonhoso do nosso futebol olímpico contra a inexpressiva seleção da África do Sul (jogando com um atleta a menos desde a metade do segundo tempo), cristalizo uma conclusão que já tinha chegado desde a Copa do Mundo de 2014: quem mais faz mal ao futebol brasileiro é esta imprensa esportiva ufanista, irresponsável e imbecil, capitaneada pelo pernóstico, boçal e arrogante Galvão Bueno, que endeusa jogadores que começam a se destacar e os demoniza no primeiro fracasso, sem dó e piedade. Onde ele transmite ou aparece eu saco o controle remoto e descarrego uma saraivada de offs.

Esta babaquice de rotular promessas de cracks com títulos tais como "Magnífico", "Fenômeno", "Príncipe", "Imperador", "Gabigol", e outros ufanismos, que enche de fantasia egos nanicos e esvazia as pernas de futebol, destrói jogadores jovens, que passam a vestir a máscara do individualista e a calçar o "salto alto" do presunçoso, na primeira chance de aparecer no Fantástico ou no Globo Esporte.

Nosso dito "melhor" jogador, o Neymar, definitivamente não é jogador de seleção nem muito menos um líder que mereça a braçadeira de capitão. Pode jogar muita bola no Barcelona mas na seleção tem sido mediano, regular. A camisa lhe pesa muito. Ontem ele atrapalhou mais do que ajudou o time. A nossa famosa 10 está sendo desbotada, está se esfarrapando pelo futebol medíocre que ele, na maioria dos jogos, tem apresentado.

Acho que vou passar pro além sem nunca mais ver um futebol bonito, vitorioso, confiante, de jogadores do quilate do versátil Dirceu Lopes, do matador Romário, do talentoso Rivelino, do inteligente Zico, do esforçado Bebeto, sem falar no Pelé, o maior de todos. O que vemos hoje é um bando de chorões descompromissados, prima-donas, propagandistas de grandes grifes que mais parecem palhaços de circo ou modelos de salão de beleza.

Vou continuar morrendo de saudades daqueles gols geniais do Tostão, dos dribles desconcertantes do Garrincha, do jogo elegante do Nilton Santos e do Ademir da Guia, da raça do Brito e do Carlos Alberto, da explosão do Jairzinho, dos lançamentos precisos do Gerson, do malabarismo do Reinaldo.
Nem Jesus que está jogando no corpo de um tal Gabriel, camisa 11, é capaz de operar um milagre e tirar os "canarinhos" do amarelão que há bastante tempo veste o ex-glorioso futebol brasileiro. Os 7x1 não foram um mero acaso da natureza e sim um resultado justo e merecido pela mediocridade em que patina nosso futebol penta campeão do mundo.

Posso queimar a língua e a escrita mas com este futebolzinho bu...... vamos ganhar a medalha de mer........
Restamos torcer para a turma do vôlei e alguns poucos ginastas abnegados.


05/08/16

Operação “36m²” (FB)

Mas que crueldade, justo no dia do seu aniversário de 65 anos, acabo de ouvir em edição extra da LDP News que foi preso hoje cedo um conhecido frequentador da praia da Lagoa do Pau (LDP), conhecido como "Cotonete". As autoridades querem saber por que ele construiu há 26 anos uma casa de praia num lugar tão ermo, mesmo trabalhando e morando tão longe e depois que se aposentou praticamente passou a viver meio que escondido naquele pedaço de paraíso. Há suspeitas de muita "lavagem de peritônio", consumo exorbitante de camarão, peixe e lagosta e vadiagem em exagero. Testemunhas mantidas sobre segredo disseram que farras acontecem com frequência onde rolam boa comida e bebida, risadagem, embaladas por muitas músicas do Tom, Vinícius, Toquinho, Pink Floyd, Beatles e outros "dinossauros", numa verdadeira orgia de confraternizações.

Os repórteres Cristiana "Raposa" e Gerson "Arquibancada" apuraram que, por voltas das 6 da manhã, duas jangadas da Polícia Federal fundearam na frente da casa conhecida como "36m2" e o agente "Biu da Federal" bateu à porta do suspeito. O "Cotonete", frouxo que só peido em bombacha, quando pelo buraco da fechadura viu a figura do fardado, já saiu, de pijamas, com os braços pra cima e antes que fosse imobilizado com algemas feitas com trança de sargaço, gritou: "Calma, excelência, topo agora fazer uma delação premiada e contar tudo, tim tim por tim tim. Prometo não esconder nada e entregar todos aqueles que me fizeram de "laranja" em quaisquer atos ilícitos que a autoridade venha me imputar". Nisso já puxou dois tamboretes, colocou uma música ambiente, uma garrafa de Original e começou a abrir o bico.

Contou ele que tudo teve início no dia 12/10/87 quando os meliantes conhecidos como "Alfredão de Timbaúba dos Mocós", "Bob Maia de Catolé do Rocha" e "Enéas de Soure", o convidaram para um fim de semana numa praia desabitada, paradisíaca, distante 220 kms de Aracaju, onde todos moravam. Só muito tempo depois o delator percebeu os interesses escusos para que o "laranja babaca" comprasse um terreno e lá construísse uma casa. O bando na realidade queria apenas usufruir das mordomias, sem gastarem um rés furado e sem ter o ônus de proprietário do imóvel.

O plano elaborado pela quadrilha foi tão sórdido e detalhado, que, para engabelar direitinho o incauto paraibano, eles hackearam os computadores da NASA e obtiveram dados meteriológicos ultra-secretos e escolheram um dia em que o céu e a água do mar estavam mais limpo do que prato de faquir e mais aquecida do que o mercado de tornozeleira eletrônica. A maré estava seca que só língua de papagaio. Pela inteligência excepcional gang, suspeita-se que a trinca até alterou o eixo da lua para que a maré baixasse mais do que o normal. Há registros de que pescadores escutaram polvos, ouriços e moreias reclamando de que nunca tinham visto os arrecifes tão descobertos como naquele dia.

Para impressionar ainda mais o otário, puseram no mar um iate de 5 pés de comprimento e um bote inflável e o levaram, junto com sua digníssima esposa, para um passeio até umas piscinas naturais que ficam bem em frente aonde hoje está a casa chamada de "36m2". Depois de muito consumo de cerveja, cachaça, feijoada e outras iguarias, na volta, por pura imperícia do timoneiro "Enéas de Soure", a embarcação virou e o "Cotonene" salvou-se chegando à praia atracado no lombo do Alfredão.

O quarto membro da quadrilha se chama "Murilão do Charuto", que, astutamente, pouco antes tinha comprado uma modesta casa na área para servir de base à organização criminosa que a usou diversas outras vezes (até o "Cotonete" construir os 36m2), sem nunca ter cobrado um tostão, coisa que dá para desconfiar das reais intenções. Como dizem, "não há almoço de graça". Tempos depois o Murilão vendeu sua propriedade, uma nítida "queima de arquivo".

Por causa deste vacilo, o "Cotonete", durante os últimos 26 anos, tem sido obrigado a passar, pelo menos uma vez por mês, alguns dias nesta lugar, "sacrifício" que ele espera seja considerado como o pagamento antecipado da pena na sentença final do processo.

O "Cotonete" entregou o quinto membro do grupo criminoso que tem a alcunha de "Cabeleira de Vila Isabel", carioca manhoso, milongueiro, assíduo frequentador da casa suspeita. Na época usava uma peruca a "la Valderrama" apenas para se camuflar e confundir as autoridades. Na realidade é um careca de fazer o atual Ministro da Justiça do governo Temer parecer Sansão. Segundo o delator este meliante possuía um bugre verde apelidado de "Tartarura Ninja" e todo verão emprestava o veículo para o deleite do "Cotonete", sem, também, nunca ter lhe cobrado um centavo, só com o intuito de usufruir da mordomia e hospitalidade do dono da casa. Ressalta-se que ele ajudou com sangue, suor e muita cerveja, na construção do imóvel e com frequência vem "cobrar" este favor feito. Tempos depois todos os  envolvidos se separaram, cada um mudou-se para estados diferentes, com o único intuito de não deixar rastro e confundir as autoridades.

O "Cotonete" garante que dispõe de farto material fotográfico e de testemunhas que corroboram sua delação. O juiz "Néo da Lagosta" ficou tão impressionado com as evidências apresentadas (fotos, filmes, tampas e lacres de garrafas de cana e cerveja, cascas de caranguejo, rabo de peixes e cabeças de camarão fossilizadas) que de imediato decretou a prisão preventiva de todos. Ela deverá ser cumprida nas próprias dependências dos "36m2" tendo os condenados direito a banho de sol e de mar, caminhadas na praia em frente, uma garrafa de Serra Limpa por dia para cada um, cajus e frutos do mar frescos sem limite de consumo.


Já correm boatos de que se apertarem estes elementos um "fio de rosca" novos nomes surgirão. Especula-se que uns tais de "Ceguim do Ceará", "Tonho Doria", "Narizin do Baixo Roger", "Veludo de Areia", Pinto Tereré", "Ivo Canadense", "Carlos Pade" e "Zé Mineiro", serão os próximos a serem acordados pelo agente de preto. O "Cotonete" já decidiu que vai ficar quieto e cumprirá a pena sem chiação.

20/07/16

Sou saudosista. E daí?

Recentemente meu primo "Paulin de Campina", que vive pras bandas de Vancouver, no Canadá, afirmou: "O passado é o meu tempo preferido (era o pretérito imperfeito mas mudei depois do golpe de estado). Morro de saudade do passado, por isso só olho pra trás, porque quando olho pra frente, vejo o futuro do pretérito, levo uma topada, caio e quebro a venta no chão".

Gostei da sua afirmação. Me sinto muito bem como um saudosista convicto. Parece que isto não é incomum embora escuto e leio muita gente dizer que viver olhando pelo retrovisor é sinal de fraqueza, dos desesperançados, dos que "já eram", têm medo de encarar o futuro, etc..

Obviamente não vivi, como adulto, mas gostaria de ter vivido (nem que fosse numa viagem no túnel do tempo), nas décadas de 40/50 com seu glamour e romantismo registrados em filmes e canções antológicas, que até hoje encantam os saudosistas como nós dois. Mesmo com os sofrimentos causados pelas grandes guerras e suas consequências, acho que valeu a pena para aqueles que dançaram, "ao vivo", o foxtrote de Glenn Miller e Tommy Dorsey, assistiram aos lançamentos de "Casa Blanca" e "E o vento levou", estavam na arquibancada quando a Hungria, de Puskas e o Brasil de Pelé encantaram os que gostam do futebol, sentaram na plateia, quando Frank Sinatra cantou "I've got you under my skin" e "Fly me to the moon" ou na do Nat King Cole quando cantou "Smile" e "When I fall in love", pela primeira vez, compraram os primeiros 78 rotações do Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.

Isto não é desejo só dos velhinhos não. Um dos desejos da minha filha Michelle é um dia casar ao som de canções daquela época, onde as coisas aconteciam "olho no olho" e não através da tela de um smartphone ou tablet. Aparentemente as relações e sentimentos eram mais puros, sinceros, com aquele ar de ingenuidade e franqueza. Meus pais falavam dos carnavais de rua, sem cordas, abadás e brigas, só alegria, confetes, serpentinas e muita lança perfume.

Trocar cartas e cartões de natal, se corresponder com pessoas sem expectativa de conhecê-las pessoalmente um dia, eram formas de comunicação sadias, construtivas (devo um pouco do que sei de inglês a esta prática salutar). Na década de 60 tive mais de 10 correspondentes ao mesmo tempo, espalhadas pelos 5 continentes. Era o tempo onde as cartas pro exterior, obrigatoriamente, tinham que ter impresso "Por avion" e duas listas verde e amarelo nas bordas do envelope. Ainda guardo as centenas de postais recebidos. Lamento muito ter me desfeito de uma robusta coleção de selos e moedas oriundas daquela época. Não sei onde as deixem.

O mundo mudou muito e rapidamente. Ainda bem que a tecnologia que tem "o efeito de aproximar quem está longe e distanciar quem está próximo", é capaz de recuperar imagens e sons de um tempo tão importante pra nós, saudosistas de sempre.


22/07/16

Realidades perversas (FB)

Como consequência dos 38 anos de trabalho dedicados a Petrobras, recebo uma boa aposentadoria e posso dizer que eu e minha família vivemos relativamente bem, dentro de um padrão de vida confortável e compatível com aquilo que construí durante estas quase quatro décadas. Poderia dizer que é momento de felicidade total, tempo só de usufruir e aproveitar o que resta de vida, sem preocupações e aperreios maiores. Mas não é bem assim.

Vivemos em sociedade e quando ela não vai bem, todos nós sentimos os impactos e sofremos juntos. A situação vergonhosa por que passa nosso "rico" país, os desmandos e roubalheiras que nos sufoca, castra nossas esperanças, escurece o futuro, não pode ser simplesmente extirpada das nossas cabeças de forma a sairmos por aí, rindo à toa, vivendo como "se não existisse amanhã", alheios ao que acontece do lado de fora do portão. 

Não é possível ficarmos desconectado da realidade e vivermos felizes e risonhos quando vejo o desemprego instalado no meio das nossas famílias e dos amigos. Sonhos sendo desfeitos ou postergados, futuros incertos, uniões comprometidas pelo flagelo da crise econômica causada por um bando pulhas e "despatriotistas" que ainda infestam toda a classe política que nos governa. Toda vez que vejo nas redes sociais e TV cenas de desespero de pais e jovens desesperançados pela falta de condições dignas de vida, intimamente sofro e onde há sofrimento não há espaço para a alegria, o riso, a felicidade.

Mas a "realidade" é muito mais "real" e perversa da que aquela que ouvimos na telinha. Dias atrás levei meu carro para revisão e decidi voltar pra casa de ônibus. Poderia ter usado o taxi mas resolvi sentir no couro o que passam milhares de pessoas para irem e voltarem do trabalho, todo santo dia. A realidade que entra pelos olhos e pelos ouvidos quando estamos sentados, confortavelmente, numa sala ar-condicionada, sem barulho e catingas, é muito diferente daquela num banco de um ônibus caindo aos pedaços, dirigido por um herói motorista estressado e suado, que trabalha 8/10 horas chacoalhando agarrado a um volante e a uma alavanca de marchas, colado a um motor barulhento que gera um "sol" de calor ao seu lado, pra ganhar um "pixuleco" no final do mês. Vez por outra é necessário sairmos da nossa zona de conforto para nos humanizarmos um pouco, colocarmos os 2 pés no chão, sermos menos críticos e mais participantes.

Outro dia estive no posto de saúde que fica próximo aos 36m2. É outra realidade perversa, que arde que só methiolate na ferida exposta e dói que nem cirurgia sem anestesia. Falta tudo e sobram sofrimento, descaso, indignação. Alguns canis são mais asseados e melhor equipados do que os postos que dizem "cuidar" da saúde dos desassistidos de sempre.

Os vídeos do "Médicos sem Fronteiras" são contundentes e mexem muito comigo. Nossa realidade ainda não é tão cruel quanto aquela dos nossos vizinhos do outro lado do Atlântico mas começa a ficar parecida em algumas regiões deste país tão rico mas tão desigual. Infelizmente demos uma marcha a ré de algumas décadas e não vejo lideranças com "combustível" para engrenar uma primeira, sair queimando mazelas e fazer este país subir as pirambeiras do poço em que estamos atolados. Será que estou sendo realista, pessimista em exagero ou com sintomas de depressão? Ou talvez tudo isto juntos?


15/07/16

Papinho com os que já se foram (FB)

Recentemente li o livro "Unidos do outro mundo - Dialogando com os mortos", do José Bonifácio Sobrinho, o "Boni", ex todo poderoso da Rede Globo, ateu convicto, e gostei muito do tema e da sacada do famoso executivo. No livro ele "morre" e vai se encontrar com figuras famosas como Chico Anysio, Tom Jobim, Chacrinha, Ayrton Senna, Dercy Gonçalves, Miele, Ibrahin Sued e outros, e fazer ajustes com alguns desafetos como Walter Clark.

Plagiando a ideia resolvi me imaginar sendo abduzido por Deus, recebendo um abadá de anjo, um par de asas de avestruz e um crachá VIP, e fui dar um rolé no andar de cima para encontrar entes queridos e tentar esclarecer alguns mistérios que permanecem insolúveis para os que ainda batem perna aqui na terra.

De início procurei meu querido amigo Djalma. Marcamos no bar "Encontro no Além". Pontualmente ele chegou montado numa Vulcan preta, usando uma jaqueta também preta, trazendo na garupa seu ídolo Cazuza. Levaria as "jogadas de segurança" para ouvirmos juntos tomando "algumas" como sempre fazemos lá na terra. Aproveitei a ocasião para esclarecer, definitivamente, que jamais passou pela minha cabeça nenhuma maldade quando ele, "já pra lá da bola sete", interno num hospital em Aracaju, levei para ele ouvir a música "Encontros e despedidas" do Milton Nascimento. Foi pura mancada minha escolhê-la para aquela penosa situação, embora ele adorasse esta bela canção.

Como lá em cima não tem engarrafamentos, pedágios nem barreiras de qualquer espécie, tudo é amplo, livre e gratuito, fui tietar e bater um papo com os 2 cabeludos de Liverpool que apressaram sua passagem por aqui. Dei a notícia a Lennon que os ingleses decidiram se separar dos europeus continentais. Ele ficou muito puto com seus conterrâneos que não estenderam a mensagem do seu hino "Imagine" e partiram para o isolamento.

Com minha secura por descobrir fatos que ainda hoje são um mistério, pedi uma permissão especial a Alá para uma entrevista com Osama Bin Laden para conhecer em detalhes como ele bolou e desenvolveu a ousada trama do 11/09. Depois vou dar um furo de reportagem em programa especial do Datena, em cadeia com a CNN.

Dentro desta mesma linha, procurem o Lee Oswald e na xinxa perguntei: "Oh meu endiabrado Osvaldinho foi tu mesmo que fizestes aquele malabarismo incrível com um fuzil velho, manual e em 35 segundos desses 3 tiros e um deles destabacou o quengo do Kennedy? Cá pra nós, inocente, conta quem foram teus parceiros e quem te pagou pra fazer aquele serviço? Prometo que só vou contar esta verdade pra o Donald Trump.

Num aquário gigante que fica colado na parede do inferno, procurei o piloto do voo MH370 da Malaysia pra que ele me explicasse direitinho onde está o peste do avião que ele pilotava e o que deu na cabeça dele pra fazer deste desaparecimento um dos maiores enigmas da atualidade. Prometi que não daria para as mais de 200 famílias que buscam localizar e enterrar seus entes queridos o endereço onde ele está escondido.

Outra coisa que me corrói de curiosidade é saber quem matou o PC Farias. Com todo cuidado do mundo, me disfarçando de Sérgio Moro, questionei o ex-tesoureiro do "coLLorido": "Oh do bigode, conta pra mim quem te matou. O motivo todo mundo já sabe. O seu ex-coLLaborador lá em baixo continua roubando e gastando adoidado a grana que você arrecadou e por causa dela estás aqui feito um trouxa. Prometo guardar o segredo e só o divulgarei para meus amigos do grupo de WhatsApp "Boca Livre". Podes ficar tranquilo. Todos têm juízo e não replicará a verdade pois sabem quão "pacatos" e "ordeiros" são os seus parentes e amigos. Podes me contar pois este mistério continuará a ser um mistério".

Por fim, antes de pegar o raio de volta para o terceiro planeta do sistema solar, fui bater um papinho com Deus. Perguntei a Ele: "Meu Deus dizem que o Sr. é brasileiro por ter nos dado um país cheio de riquezas naturais, com mais de 8000 kms de litoral, imensas florestas, rios, um território livre de vulcões e terremotos e um povo alegre, hospitaleiro e festeiro. Me diga, por favor, qual o político honesto, uma liderança comprometida com o bem estar do nosso povo e imbuída de ações para restabelecer nossa dignidade e garantir o progresso permanente, que seja capaz de tirar nosso país do atoleiro em que se encontra e o transforme numa Corea do Sul, numa Noruega ou mesmo num Chile, livre da corrupção, violência e espertezas?"

Ele, com aqueles olhos de bondade e face de anjo, ficou pensando e pensando e pensando e para minha surpresa, de repente coçou a cabeça branquinha, caiu num choro soluçado, virou-me as costas e desapareceu na bruma alva e volátil que envolve todo o seu céu. Voltei para o mundo dos vivos mais desanimado do que corinthiano quando toma uma sova dos palmeirenses.



08/07/16

A República do vai e volta, do sobe e desce

Há exatos 22 anos alugamos na Europa dois Peugeot "zero" e na companhia dos amigos, "Cabeleira", Bosco e Boaventura e respectivas esposas, passamos 30 dias perambulando pelo Velho Mundo. Foi uma viagem de muitas descobertas, choques de culturas, noitadas memoráveis regadas a vinhos, papos e queijos, e de muitos "micos", já contados numas das "Originais" anteriores.

Recentemente levei meu Hyundai para uma revisão e fiquei observando o trabalho dos mecânicos e funcionários da concessionária durante toda a faina. Enquanto aguardava a conclusão, me veio à lembrança um fato semelhante acontecido naquela viagem. Após rodarmos 1000 kms levamos os dois carros para a primeira revisão na oficina do fabricante, na cidade de Nice, na belíssima reviera francesa. Eu e o "Cabeleira" tivemos uma surpresa agradável ao nos depararmos com uma oficina limpa que só uma sala cirúrgica, sem nenhum pingo de óleo no chão nem no macacão dos operários. Um vidro separava os clientes dos mecânicos, coisas completamente diferentes daquilo que víamos nas oficinas "Zés de Pipiu", do Brasil. Os técnicos vestiam aventais brancos, cada um concentrado no seu trabalho, nada de "ti ti ti" entre eles e na hora aprazada recebemos nossos carros limpos, cheirosos e perfeitos para continuar nosso passeio.

Com o atraso de pelo menos uns 15 anos começaríamos a ver coisas parecidas por aqui, principalmente em grandes concessionárias, mas com algumas exceções. Uma delas é a posturas dos nossos técnicos. Durante as 4 horas que fiquei "de castigo", vi de tudo: reserviços, ruído excessivo, brincadeiras, gargalhadas, insegurança, interrupções sem razão, vai e vem aos postos de trabalho, o que seguramente gerou, pelo menos, uma hora de improdutividade, (R$220/hr) que é paga pelo cliente. Todo mundo circula na oficina, (liberalidade que eu particularmente gosto pois sou curioso e perguntador que só um detetive, mas que termina atrapalhando e comprometendo a atenção dos já dispersos operários).

Talvez eu esteja sendo um tanto petulante, leviano e generalista, mas, isto acontece na maioria dos ambientes de trabalho por onde já servi e visitei. A falta de concentração, de obediência de padrões (que na maioria existem mas são relegados), de compromisso com a excelência, etc., terminam comprometendo os resultados e fazendo que paguemos mais por menos. Infelizmente mesmo "andando pra frente" (no momento estamos dando marcha a ré) na maioria das coisas estamos sempre 15/20 anos atrás do que acontece nos países ditos de primeiro mundo. Teremos que dá grandes saltos, "queimar" etapas, para chegar mais perto deles e pelo andar da carruagem estamos mais para o vai e volta de um Waldir Maranhão do que para o crescimento acelerado e contínuo de um Juscelino Kubitschek.

Esta é a nossa realidade perfil "dente de serra" onde em períodos crescemos e pensamos que vamos "chegar lá " e logo em seguida vem um tombo, o desânimo, a desesperança, o retrocesso. Nem no futebol somos mais referência. Mas como diz nosso amigo Beguinha, "vamo que vamo" e seja o que Temer quiser. 


01/07/16

É a cara do pai

Há alguns dias um amigo meu, milongueiro, piadista, cheio de tiradas, me contou uma estoria que embora pareça séria e meio trágica, eu a aproveitei para "fulerá-la", introduzir alguns "cacos" e batizar mais uma "Original".  Disse ele que seu um vizinho lá das bandas do Amapá, caminhando célere para a idosidade, separado, num belo dia apareceu com um mulheraço, um "avião" que deixou a macharia da vizinhança de boca aberta. Parecia o nosso Presidente interino. Aquilo não era uma mulher, era uma mistura de Juliana Paez com Giselle Bunchen nas proporções mais perfeitas de cada uma.

O felizardo, super satisfeito, desfilava por todo canto com aquela belezura fazendo questão de apresentá-la à todos. Os comentários femininos eram os mais variados e venenosos: "Vai pra casa, Padilha"; "Quem diria"; Pouca vergonha, tem idade de ser filha dele"; "Coroa enxerido", "Vai levar uma ponta já, já", e por ai vai.

Esse fato teve um efeito imediato na mulherada dos seus amigos. Na semana seguinte todas começaram uma atividade física frenética nas academias, nos salões de beleza, na aplicação de botox, plástica, lipo, spa, correndo maratona, pedalando, nadando do Iapoque ao Chuí, etc..

Meses depois a jovem apareceu grávida. Foi aquele "Ooohhhh". Quando o filhinho nasceu foi aquela alegria, as mulheres não se cansavam de dizer: "Que coisinha mais linda", "É a cara do pai", "Parabéns", "Quando vem o próximo"? O niver de 1º ano foi comemorado com muita pompa, com direito a palhaço, docinhos, "Galinha Pintadinha", presentinhos e muitos sorrisos. Felicidade total.

Uns 6 meses depois desta comemoração, o casal tinha se separado. Não se sabe como, o "felizardo" descobriu que aquela coisinha linda, que "era a cara do pai", não era a cara do distinto corno. A mulherada dessa vez deitou e rolou em cima dos maridos: “Tá vendo o que é velho se enrabichar com mulher nova? Tome, bem feito!”

Mas não fiquem rindo nem achando que o caso é raro. Como diz o ditado: "Corno é que nem consórcio, quando você menos espera é contemplado". Também já dizem que “melancia grande e mulher muito gostosa não se come sozinho”.

Isto me lembra uma tirada do pai de um grande amigo meu, que com toda a sabedoria dos seus quase 90 anos vividos em fazendas, engenhos, vaquejadas, exposições e feiras do interior, uma vez me disse: "Mulher é que nem papel de bodega. Tem que estar sempre com um "peso" em cima se não voa". Jessier Quirino acunha esta tirada quando diz: “Mulher boa deve ser tratada como o bom vinho: tem que ser mantida na horizontal, no escuro e com rolha na boca”.
Se abstendo da rudeza, machismo, preconceitos e outras injustiças contra as nossas queridas companheiras, estão aí alguns sábios conselhos.


24/06/16

Meus lugares

Nasci no dia 29/07/51, um domingo, na Maternidade Dr. Elpídio de Almeida (que ainda continua "maternizando") em Campina Grande. Do berçário, sem capacete e cinto, fui levado no lombo de uma moto Monark para morar na casa número 91 da rua 11 de julho, no "longínquo" bairro Santo Antônio. (Ainda guardo na cabeça o layout interno da casa onde também nasceram meus três irmãos, "Ceguim do Ceará", Nadja e Dado). Era uma vila de umas 10/15 residências construídas pela CEF (nem sei se o nome era este), num programa bisavó do "Minha casa, minha vida".  Há exatos 11 anos, no grande encontro para comemorar os 50 anos do Ceguim, levei meu amigo Guilherme "Cabeleira" para conhecer esse meu berço, o local onde dei os primeiros passos e ouvi pelas ondas curtas, o Brasil ser campeão mundial pela primeira vez, na Suécia, em 1958. Depois fomos tomar um choppinho no tradicional "Chopp do Alemão" com seus mais de 70 anos de tradição. Foram momentos mágicos, emocionantes que estão guardados na minha memória mais preciosa.

Em 64 nos mudamos para JP onde fomos morar (de aluguel, pela primeira e única vez) numa casa de esquina na rua Prefeito José Leite, no bairro de Miramar. Foi o local onde vi e sofri com a maior quantidade de muriçocas por metro cúbico. Tinha mais do que político corrupto. Foi nesta morada que ouvi pela primeira vez os 4 cabeludos de Liverpool. "I want to hold your hand" me encantou e visgou, definitivamente e pra sempre, o coração do futuro Cotonete. Do terraço desta casa vi os motoscrappers rasgarem o que é hoje a Avenida Rui Carneiro, uma das principais da capital paraibana.

"Vasculhei, sem permissão", junto com os amigos Fred "Perna de ciriema" e Cleber "Morcego", tudo o que foi sítios das redondezas em busca de uma manga apetitosa, uma goiaba inchada, um caju suculento, um araçá delicioso. Nunca levamos um "tiro de sal" (por sorte) mas carreira de caseiro e cachorro era todo dia umas três.
Passamos um ano lá e fomos morar numa casa própria na rua Padre Aires 242, no mesmo bairro. Fui vizinho do Zé Ramalho e com ele aprendi alguns acordes no violão. Escutamos muita música juntos. O cara de Lampião sempre foi muito bom no instrumento e já despontava como um artista de primeira. Foram meus tempos de bigodete, dos namoricos de portão e cinema, dos "assustados" a la luz negra, das primeiras farras, onde conheci o "Veludo", Pinto, Pereirão, Carlos Pade e outros amigos com quem convivo até hoje.

No início de 76 já formado e casado com D. Mabel, caí no mundo. Passei um privilegiado "sereno" de 10 meses em Copacabana e depois nos mudamos para Aracaju onde tivemos os três filhos. Lá vivi 25 inesquecíveis anos. Há 16 moramos em Maceió.

Próxima parada? Sinceramente não sei. Precavido, já comprei um plano VIP na funerária "Menos 1", com direito a ar-condicionado, frigobar ("chein" de originais), Sundown-360, Hi-Fi e Wi-Fi. Quero poder zapear lá do além com os amigos que ficaram e aguardar, ansiosamente, as manchetes tais como:

- Concluídas as obras de despoluição da Baia da Guanabara e do Rio Tietê. Salmão está a preço de pilombeta;
- Paulo Maluf é condenado e preso, sem mais direito a recurso;
- O Íbis de Pernambuco é campeão brasileiro, invicto;
- Concluídas as obras de Transposição das águas do São Francisco, acabando, definitivamente, o flagelo da seca no Nordeste;
- O Brasil ganha 3 posições no ranking que mede o nível de corrupção dos países;
- A Seleção Brasileira devolve os 7x1 à Alemanha e é hexa campeão do mundo na copa da Coreia do Norte;
- O CD do "The Fezzy's & The Bostan's" atinge o primeiro lugar da parada na Billboard e o grupo vai para o Hall da Fama de Bananeiras.

A viagem para o andar de cima vai ser penosa, quente e longa (D. Mabel não se esqueça dos meus headphones e Ray-Ban). Se eu escapar da bifurcação que leva direto para o tridente de Satanás vou passar muito tempo no purgatório até ser recebido por São Pedro. Tenho mais pecados do que o Bispo Edir Macedo, Romero Jucá e Eduardo Cunha, juntos.

Para finalizar esta ladainha, recomendo ouvir a canção "In my life", dos Beatles, (letra no link a seguir e o MP3 no anexo) que traduz com perfeição e beleza este sentimento de saudade e respeito pelos meus lugares e amigos angariados ao longo da minha existência, até agora. https://m.letras.mus.br/the-beatles/204/traducao.html.


17/06/16