sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Sempre verão (FB)

Na próxima a semana começa, oficialmente, o verão. Aqui nos 36m2 já é há muito tempo. O sol não arreda o pé nem para um nublado refrescante. Ele raramente se esconde, o vento sopra o suficiente pra gastar o desodorante, as nuvens, quando aparecem, são brancas que só a barba de Papai Noel.

O mar está nu e sua pele é azul, lisa, é um verdadeiro “deserto de cabeça pra baixo”, em cima, nada, embaixo, a vida (obrigado Ivo pela inteligentíssima citação). Os 36 “recebe” uma leve maquiagem de Coralit pra ficar mais beldade e receber os filhos, nora e genro que aqui inaugurarão 2018. 

Hoje cedinho atocaiei Chico, pescador sênior da Lagoa do Pau, que chegava do mar onde foi deixar a sua rede para arraste de mais tarde. Me aconselhou aguardar a pescaria de amanhã e escolher umas vermelhas frescas que só Clóvis Bornay (as de hoje já estavam no freezer). 

Depois da gostosa caminhada na praia completamente vazia, particular, um copão suco de caju ou de mangaba, moídos no gelo, talabadas de abacaxi de Sapé, uma rede e daqui a pouco, uma original (umazinha só pra não tirar a glicemia da corrente). Música “ao ponto” agora incrementada com os mais de 50 milhões de opções da Apple Music. 

Mas como tudo na vida empata, a alegria e a energia do raiar do dia me animam, me revigoram enquanto o entardecer e as nuvens avermelhadas do crepúsculo me entristecem, deprimem, agora potencializadas pela “abstinência da neta” e também da mulher que foi com ela passar alguns dias em Natal.  


Esta tem sido a rotina de um aposentado privilegiado, numa terra abençoada pelo Criador. 

15/12/17

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Crise de abstinência (FB)

Sempre tive uma convicção de que minha resistência ao vício é mais fraca do que promessa de candidato. Por isso nunca quiz negócio com cigarro, bebida, jogo, atitude que não tive com a música e os livros, por exemplo.

Há três anos minha filha Michelle me deu o maior e o melhor presente que um idoso pode receber: uma neta maravilhosa. Durante estes três últimos anos tenho me dedicado e convivido, diuturnamente, com Giovana e isto me remoçou mais do que um retoque no Photoshop, me tonificou mais do que Emulsão Scott e Robusterina, “viagrou” minha vida, tem me feito um bem que nenhuma geriatria é capaz.

Há três meses a Michelle, por apelos profissionais, mudou-se pra Natal e há uma semana carregou sua filha, o que já está me causando uma grave crise de “abstinência de neta”. A avó, mais inteligente do que eu, foi com ela e só volta daqui a alguns dias. Deitado nesta rede aqui nos 36m2 fico saudoso e imaginando alternativas de “tratamento” para esta amenizar esta falta.

O danado é que com a ameaça de corte drástico na aposentadoria (causada por sucessivos governos corruptos), as “imobilidades” e limitações naturais da idade caquética chegando (onde até a ida da cama para o banheiro é arriscada), as condições africanas das nossas estradas, o litro de gasolina custando mais do que um de leite, sei que vou sofrer mais do que uma “cinquentinha” pilotada por Jô Soares com Alcione na garupa (além do peso, a cantoria).

Por enquanto vou me contentando com uma Original, beliscando uma fava no coentro, escutando minhas “jogadas de segurança”, esperando chegar o Natal pra aninhar, novamente, aquela coisinha tão encantadora que tanta falta está me fazendo.

04/12/17

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Bom dia (FB)

Os amigos sabem da minha resistência para fazer uma atividade física regular e permanente. Uma nuvem de chuva lá em Zimbábue já é motivo para eu deixar o exercício físico pra outro dia. Mas esta semana acordei mais cedo e resolvi fazer diferente. Me apetrechei e fui fazer uma caminhada na orla da Ponta Verde. 

O mar ainda se espreguiçava mansamente, a réstia do sol nascente parecia um rastro de fogo sobre as águas sonolentas do imenso Atlântico. O céu desnudo de nuvens prometia um dia de Saara. O hálito que nos envolvia tinha aroma de iodo fresquinho. 

O cheiro verde do sargaço me transportou para os bons tempos dos veraneios em Tambaú, João Pessoa. Os coqueiros empertigados ainda descansavam da ventania do dia anterior. Um pescador singrava o imenso espelho em busca da piaba pro almoço de mais tarde.

Nos ouvidos, me acompanhando, Sinatra, Jobim, Waldir Calmon, Paul Mauriat, Ray Conniff. O calçadão estava cheio de madrugadores, a maioria andando e alguns poucos xotando. Cruzei até uma idosa (com “bobs” nos cabelos) caminhando de mãos dadas com seu velho e rezando um terço ao mesmo tempo. Nos abrigos das bancas de revistas, infelizes sem teto dormiam, serenamente, ao relento (e eu, mais das noites tenho sofrido de insônia. ?????).

Na volta do passeio comprei uma baguete crocante e peguei o resultado dos últimos exames de sangue (o envelope só abro depois do frugal café). 

Não sei se amanhã terei disposição pra fazer a mesma coisa. A Majú disse a semana passada que há previsão de chuviscos e brisa amena e eu não sou doido de pegar uma friagem neste pré-verão que já apresenta temperaturas de fazer inveja a Patos e Mossoró. 

No contraponto deste “landscape” lindo me vem à mente neste momento os 44 “hermanos” que agonizam (ou pior do que isto) em algum ponto sob este magnífico Atlântico. São os mistérios da vida. 


P.S. A idade também também atingiu a “Original” e mexeu com seu “metabolismo”. Ela agora pode sair em qualquer dia da semana, mais de uma vez, ou nem mesmo sair.


segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A antena de TV FB)

Este “causo” aconteceu de verdade, em 1976, ano que casei e fui morar em Aracaju. Orçamento apertado, apartamento espartanamente mobiliado, com o mínimo necessário para um casal começar a vida. 

Uma noite, depois de assistir o jogo Íbis de Pernambuco x Canto do Rio, me aninhei nos braços da amada para assistíamos a “Discoteca do Chacrinha” numa TV Empire, que recebia imagens através daquelas antenas tipo “V”, posta em cima do aparelho. Bem na hora que o velho guerreiro anunciou “Golden Boys”, o “V” abriu as pernas e a imagem sumiu. Pacientemente me levantei, reposicionei as pernas da antena e voltei pro ninho amoroso. Quando o apresentador chamou Wanderléa, o “V” voltou a abrir as pernas e eu perdi de ver as exuberantes pernas da cantora. Desta vez me levantei já meio azuretado e tornei a fazer a configuração. 

Ansioso pra assistir a atração final, Roberto Carlos, eis que no momento da entrada do Rei, o “V” escancarou as pernas e aí “tudo mais foi pro inferno”. De supetão dei um pinote, peguei a antena, a quebrei nuns trinta e seis pedaços e rumei os cacos pela janela. Um dos pedaços quase espetou o guengo careca do inquilino que morava no térreo. 

Esta explosão de ira intempestiva causou um impacto enorme na minha mulher que ainda hoje, 41 anos depois, comenta o susto e a surpresa toda vez que a oportunidade aparece. 

Outra vez depois de uma caminhada puxada fui desamarrar o tênis e dei um nó cego que nem Santo Antônio com gancho conseguiu desatar. Fiquei tão irritado que piquei o cadarço todinho e cortei o tênis em tantos pedaços que ele ficou parecido com um chinelo franciscano. 

Na época que pescava, uma vez deu uma ziquizira na linha de naylon que ela ficou parecida com uma cabeleira black-power depois de um ralí numa Thiumph 1200, feito sem capacete. O sangue subiu, deu trip na paciência e eu joguei todo na churrasqueira que ardia à espera da picanha. Os anzóis e a chumbada viraram uma papa. O molinete Michel só não foi junto por que não coube na fornalha. 

Qualquer coisa que se engancha, se enrosca, me irrita profundamente. Manga da camisa que se engancha num trinco de porta ou fica a manga ou vem o trinco, ou as duas coisas. Ainda bem que não tenho chifres. Já os teria perdido ou rebentado muitas coisas nos enganchos e enroscos da vida. 


Com a palavra os psicólogos, psicólogas, psiquiatras e babalorixás do grupo para diagnosticar este faniquito perigoso. Se tiver cura por favor recomendem uma clínica de reabilitação que seja de frente pro mar, tenha Original “canela de pintor”, Wi-Fi, som a minha escolha, colaboradoras atenciosas e sempre a mão. Podem pegar pesado pois com a aposentadoria da PETROS dá pra pagar qualquer mordomia, com folga. 

20/11/17

sábado, 11 de novembro de 2017

A magia das nossas raízes (FB)

Parece que com o avançado da idade a gente vai sentindo mais falta da nossa terra natal, dos familiares e amigos que lá ficaram. Comigo isto é uma realidade cada vez que volto lá. 

Conheço uma pessoa muito querida que há quase 40 anos, por opção profissional, mudou-se pra uma capital distante da Paraíba e mesmo sendo um ser humano especial, fiel, querido, amigueiro, não conseguiu fazer amizades por lá, daquelas que quando recebe uma visita faz questão de chama-las e apresentá-las para participar da satisfação. 

Mesmo aqueles que se mudaram para países do primeiro mundo, retornam para o aconchego dos amigos da infância e juventude, dos lugares recordativos, das comidas típicas, das improvisações e carências de uma Paraíba sofrida mas hospitaleira, meu berço predileto.

Acho que tenho no meu DNA forte viés vegetal, talvez de um juazeiro, uma algaroba ou, talvez, uma aroeira. Quando chego em Campina Grande me sinto protegido, massageado, agasalhado e tenho pensado cada vez mais em terminar meus dias em algum lugar da Rainha da Borborema. 


A vida é movida pelas emoções e é lá que elas brotam com mais intensidade e transparência. Certamente isto também acontece com que é de Timbaúba, do Rio, da Champanhe ou de Caixa-Prego. 

11/11/17

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Dói tudo (FB)

Depois de 30 dias perambulando pela França e mais 10 pela capital dos Potiguares, estou com o corpo mais doído do que furúnculo em bunda murcha de adulto. Parece que dormir em outros colchões, andar em calçadas sem buracos e obstruções, sentar em vasos alheios, dirigir em estradas “tapetes”, tomar banho em banheiras assépticas, comer iguarias diferentes, se assemelham a uma seção puxada numa academia para halterofilistas, depois de dois anos deitado numa rede. E olhem que conforto não me faltou, muito pelo contrário, abusei dele nas casas das filhas. 

Parece que em quem é diabético como eu as dores se potencializam, judiam mais. A idade certamente contribui (e muito) na “deslubrificação” das juntas a caminho do “entrevamento”, na “destonificação” dos músculos distendidos e na leseira sonolenta que os fusos horários trazem. Dói do dedinho mindinho a primeira vértebra. O espinhaço é a capital do “ai”, e não tem posição, clima ou jeito que dê jeito. 


Agora voltando ao aconchego de casa espero que o corpo faça o “check in” com o velho colchão já amoldado e tatuado ao meu esqueleto e o milagre de realinhar e acarinhar os ossos dispersos e que em seis meses eu esteja 50% recuperado, pronto pra enfrentar, de novo, o desconforto de uma poltrona de avião cada vez mais projetada e espaçada para passageiros anoréxicos, pigmeus e nanicos. 

27/10/17

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Mundos bem diferentes (FB)

Em setembro último vivi 10 dias em Longeville sur la Laines, vilarejo encravado bem na região da Champagne, leste da França, com pouco mais de 400 habitantes. Temperatura agradável em torno de 10 graus, roçados verdes por todos os lados. Tudo funciona perfeitamente, limpeza asséptica, trânsito escasso, segurança total, não faltam água, a luz não dá um pisco, calor afogueirado. Barulho só do zumbido dos ouvidos e dos jatos que desenham seus rastros a kms de altura. A vida parece que só acontece dentro das casas, em geral bem equipadas, abastecidas, cheias de tecnologia. 

Do lado de fora o silêncio é ensurdecedor, o cachorro não late, a galinha não cocorococa, o carro não buzina. Outros vilarejos próximos parecem, também, maquetes mumificadas. De vez enquanto surge uma animação humana nas calçadas, ruas e becos. A paisagem ao redor é sempre de um verde "pano de sinuca", completamente diferente do marrom acaatingado do meu nordeste brasileiro.

Jamais imaginei que após 34 anos da primeira passada por esta região voltaria aqui para participar do casamento da minha filha Priscila com um simpático francês, agora meu genro Laurent. 

Eu teria receio de viver por mais tempo num lugar como este. Acho que o manto do tédio e da solidão me sufocaria rapidamente. Iria sentir falta do povo na rua, da freada de carro, do latido de cachorro, da pulsação, do fuzuê bagunçado.

Agora estou em Paris e a coisa muda completamente. Seus bulevares belos e imensos, com perspectivas perfeitas e impressionantes, vazados por dezenas de galerias estreitas, lindamente decoradas, com ateliês centenários, brechós do arco da velha, restaurantes nanicos com apenas 3 ou 4 meses, lojinhas primorosas, sebos seculares, tornam esta cidade encantadora, única, uma das maravilhas da humanidade. Aqui passaria meses explorando esta catedral a céu aberto. 


Na próxima semana estarei enlatado num avião retornando pra casa depois de um mês de primeiro mundo. Será a hora de voltar a naftalizar os casacos, ceroulas e cachecóis e por as bermudas e shorts em serviço, novamente. O frio gostoso e aconchegante do momento dará lugar ao nosso calor desnudante. O céu nublado ao sol escaldante. São mundos bem diferentes. 

06/10/17

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

O “bode azul” francês (FB)

Um amigo me contou um estória interessante e complicada que só mijada de freira em banheiro de avião. Segundo ele os pais de um jovem brasileiro viajou ao exterior para participar do casamento dele com uma moça francesa, num vilarejo perdido no meio das terras de Napoleão. Depois da festa, regada a muita champanhe, vinhos e comida, o casal idoso foi dormir na casa dos pais da sua agora nora. 

Nas acomodações gentilmente cedidas dormiram mais outros convidados, todos da família da moça francesa. A acústica do ambiente era um tanto precária e os roncos e barulhos noturnos eram facilmente percebidos. Meia hora depois que o casal brasileiro se deitou, D. Izabela, mãe do recém casado, começou a sussurrar: 

"ai tá doendo muito, não vou aguentar, eu vou gritar, tá vindo forte, eu nunca senti isto antes, ai meu Deus, não para.......". 

A madame gemia mais do que roda de carro de boi na caatinga nordestina. 

Quem estava dormindo perto percebeu os gemidos mas, educadamente, ficou quieta. Meia hora depois, os gemidos se repetem, agora com mais intensidade ainda. A "coisa" aconteceu mais uma vez, ou seja, três vezes. Logo em seguida o suposto "garanhão" sai na ponta dos pés para ir ao banheiro coletivo e uma senhora que dormia com a porta aberta, percebeu o cabra com a chibata ainda em posição de “sentido!”. 

No dia seguinte no café da manhã as mulheres quando avistaram o casal brasileiro começaram com aquele kkkkkkkk discretamente, murmurando baixinho e aquele olhar de encantamento. Os homens torciam as caras, com inveja. Pra incrementar mais o buxixo seu Gilbeão (nome do pai do meu amigo), esperto e presepeiro que só bicho de circo, resolveu tirar uma onda e fantasiar o episódio: colocou no bigulim um enchimento para fazê-lo parecer ainda maior. 

Um mês depois o filho liga pro pai no Brasil e o parabeniza pela “performance” daquela noite, três encarreadas, não é pra todo mundo e muito menos pra um idoso de 66 anos. Disse, ainda, que a sua mulher anda muito feliz pela crença de que "filho de peixe, peixinho é" e agora eu tenho que “dar no couro” diariamente para honrar a fama do pai. 

O pai agradeceu os elogios e disse pro filho que o "regime" em casa foi e continua assim até hoje, coisa de fazer inveja a um amigo nosso de São José do Rio do Peixe, na Paraíba. 

Não sabiam todos que aquele alarido “gemedeiro” na realidade não passou de câimbras fortíssimas e encarreadas sofridas pela D. Izabela, tadinha, fruto da carga de trabalho despendida na preparação da festa de casamento do filho. O que a fuxiqueira (que dormia de porta aberta) viu quando seu Gilbeão foi ao banheiro naquela noite era, na realidade, efeitos da famosa "tesão do mijo", bexiga cheia, fenômeno que acontece com 100% dos velhinhos. Mas a fama do seu Gilbeão se espalhou rapidamente por toda a França e ele lá é considerado um exemplo de virilidade, um verdadeiro “bode bleu” e invejado por todos os monsieurs.


É muita fuleragem. 

28/09/17

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Bienvenue a France (FB)

A bordo de um jato sobre o Atlântico rumo à terra de Napoleão, nem bem vi passar lá em baixo os limites do meu Nordeste, já começo a sentir aquela falta buliçosa dos meus entes queridos que estou deixando nas terras descobertas por Pedro Cabral. O consolo é que a saudade dengosa vai ser contrabalançada pela emoção do encontro daqui a poucas horas com a filha e o genro que não vejo há sete meses. A vida é assim, equilibrada, multifacetada, misteriosa. "Viver é colecionar saudades". 

Para vivê-la bem, prazerosamente, com sentido, é recomendável, sempre que se pode, sair do seu casulo, dar um "zoom out" no  cotidiano, nas rotinas e hábitos para se medir o valor deles, vê-los e vivê-los de modo diferente, menos chatos, às vezes, entediantes. Uma viagem, um passeio, um "deforete", é sempre melhor do que uma dor, uma doença, uma perda. 

Nestes próximos 30 dias vou tentar praticar isto mesmo com a péssima notícia que acabo de receber relativa ao desconto imoral e do tamanho do pré-sal, em cima da aposentadoria dos petroleiros, resultado dos desmandos e roubalheiras praticadas nos governos petistas e temista, corruptos e irresponsáveis. 

Mas "vamo que vamo" digerir a decepção e curtir a convivência com os meus, saborear a champanhe dos quintais do genro e perambular pelos bulevares e Alpes franceses neste outono europeu. 

Agora cá pra nós, numa viagem deste tamanho se se pudesse eliminar os stress dos aeroportos e os desconfortos do voo e deixar, apenas, o prazer ansioso dos sorrisos, abraços e beijos da chegada, seria o paraíso. Ainda vai chegar o dia que se fará um download na origem e um upload na chegada, sem passar pela imigração. 


O fato hilário do maçante voo é que eu nunca vi um desfile de comissárias espanholas com tanta falta daquilo que Vinícius de Morais dizia que era fundamental. Se por ventura alguém me visse agarrado com alguma delas podia apartar que era briga. Tadinhas. 

14/09/17

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Operação "Baião de dois" (FB)

Há alguns anos meu filho Felipe colocou à venda num destes sites especializados, um baita computador daqueles que se o papudinho Kim Jong Un tivesse arrematado já teria construído e jogado uma bomba sobre Washington há muito tempo. 

Em poucos dias a compra foi efetivada com um cabra do Ceará e o site informou que a grana estava caucionada e que o vendedor poderia enviar a mercadoria. Meu Galego, menino zeloso e responsável, fez a remessa no mesmo dia e ficou aguardando o dim dim cair na conta. Passou-se um semana e nada, a luz amarela acendeu, preju à vista. Checa daqui, checa de acolá, descobriu-se que o aviso da retenção do depósito era falso. 

Eis que dias depois, o Felipe navegando no tal site viu um anúncio de venda de uma máquina igual a dele, até as fotos eram as mesmas. Neste momento entraram em ação os super agentes indiscretos "Ceguim do Ceará" e "Cotonete da Lagoa do Pau", dupla que deu as dicas de como o famoso 007 deveria fazer para o "Satânico Dr. No" dizer "Yes" e de como derrotar o cruel "Goldfinger".

Uma compra foi entabulada e uma arapuca começou a ser armada pra pegar o esperto cearence. Contatos foram feitos, senhas criadas, blefes ensaiados, "laranjas" batizados, locais acertados e policiais amigos instruídos para fazer o flagrante. Na hora marcada, Felipe, que o vagabundo não conhecia, recepcionou o ladrão que veio todo fogoso, ladeado por duas quengas enfeitadas que só bicicleta de matuto. Depois de conferir e se certificar que era mesmo a sua máquina fez um disfarçado sinal para os "cops" que estavam ali perto "coçando" os punhos e "salivando", ansiosos para "conhecer com mais intimidade" o hacker 171. 

"Apresentação" feita, eles saíram com o "ex-dono" do PC pendurado por cada orelha. A conversa foi pouca. Lá na garagem do shopping deram 3 cascudos, 2 "telefones" e 1 um chute nos ovos e "aconselharam" o conterrâneo de Fagner a correr, não olhar pra trás e nunca mais acessar site de compra, instruções que foram perfeitamente obedecidas, pelo menos as duas primeiras. Se fosse aqui nas Alagoas o abestado teria sido descriptografado, zipado e downloadeado pra a pasta "Além". 

Para comemorar o sucesso da operação, o dono da máquina recuperada, o agente "Ceguim do Ceará" e a dupla de policiais tomaram três tubos do mais puro malte das Highlanders e se empanzinaram de baião de dois. O agente "Cotonete da Lagoa do Pau", que operou a distância, se deleitou com meia dúzia de originais e um traçado de fava com carne de sol, deitado numa rede lá nos 36m2. 

Posteriormente o Felipe entrou na justiça contra o site e recebeu uma boa indenização pelos transtornos causados. 


PS. Na próxima semana estarei na terra de Napoleão e por lá ficarei uns 30 dias. Se pintar inspiração, sai "Original" original. Se não, meus queridos leitores terão que se contentar com a opção "Vale a pena ler de novo" no blog "http://www.originaldosabado.blogspot.com.br/".

07/09/17

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

WhatsApp x pé de ouvido (FB)

Não durou nem uma semana e já estou de retorno com uma "Original" novinha em folha. Mas o tema..........

A rapidez com que as mudanças e as novidades tecnológicas acontecem no nosso cotidiano nos causa um "choque do futuro" a cada momento. Nem bem acabamos de atualizar uma versão e ela já é superada por um novo upgrade. Os dias parecem cada vez mais curtos e quando menos se espera chegou o Natal e um novo ano se inicia já com a vinheta da Globeleza convidando pro carnaval. 

Considero-me um coroa antenado no uso das traquitanas da informação, que navego com uma certa facilidade no ambiente deste mundo digital acrilizado. Mas me deleito mesmo quando dou meus frequentes pinotes no passado, naquele mundo analógico, mais lento, manivelado, romântico onde as conquistas exigiam mais esforços e dedicação, a busca pela informação demandava mais suor e não um simples acesso ao Google. 

Naqueles inesquecíveis anos 60, os dias pareciam ter 30 horas. As distâncias mais distantes e 1 km tinha 1 légua. O PROZAC da época era um punhado de cafunés e umas lambidas no cangote cheiroso depois de um Cuba Livre, escutando "Dio como ti amo" ou o tema de "Anônimo Veneziano". Curava (e ainda cura) qualquer depressão e chorumela de infeliz carente.  
"Rede Nacional" era o nome de uma fábrica de redes existente no bairro onde vivi minha infância e "Via Satélite" apenas um atalho para um povoado com esse nome, também perto de Campina Grande. 
Era o tempo em que eu chamava "papai" e ele atendia. 

Os cabarés estavam em franca decadência e os motéis sendo inaugurados um a cada semana. "Vitess" e "Topázio" enchiam o ar das boates e "assustados" e impregnavam nossos sonhos e paixões. 
"Selfie" era a abreviatura censurada (e polida) da expressão '"Seu fie" de rapariga', insulto pesado é corriqueiro na minha terra, normalmente motivo para o início de um violento sururu. 
Curtir "Música sertaneja" era ouvir Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Marinez e sua gente.
Um "tour" era viajar para Recife e ficar subindo e descendo as escadas rolantes da Viana Leal, depois de um rolé na Mesbla e na Slopper. 
O Google era, para os mais abastados, a parruda Enciclopédia Britânica e o Caldas Aulete. Os fascículos de "Conhecer" ou "Medicina e Saúde" para os que assavam e comiam. 

Cada vez estou mais saudoso daquele tempo onde a droga mais pesada era viajar num porre de lança Rodouro, fumando um Minister mentolado.E quando estou nesta Paraíba querida como agora, as memórias entram em ebulição que nem hormônio de bigodete. 

Chega, as lágrimas marejam meus olhos, embaçam a tela do tablet e impedem continuar a digitação. 

31/08/17

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

A aposentadoria da "Original" (FB)

Depois de quase 6 anos ininterruptos de "trabalho", a "Original" deu entrada no pedido de aposentadoria por esgotamento de fuleragem. E como normalmente acontece nesta etapa da vida, o "empregado" fica meio relapso, falta com frequência, vira "boi manhoso" e o patrão não pode contar com ele de segunda a sexta como antes. O outrora "trabalhador caxias" só pensa em viajar, curtir a neta, encangar grilos, viver de pijamas. 

"Trabalho" agora só freelancer, de vez enquanto, quando pintar uma inspiração original, um insight legal. A periodicidade poderá ser mais esticada do que corda de violino ou fim de semana de político. Para não deixar, repentinamente, os queridos leitores que tanto me incentivaram nestas mais de 300 semanas de fuleragens e alguns "papos-cabeça", passarei a repetir no Facebook algumas "Originais", na sessão "Vale a pena ler de novo". 

Muitos amigos que compartilham meu FB e que não tiveram a oportunidade de receber as resenhas enviadas por e-mail, agora poderão lê-las como se fossem "inéditas". O acervo com todas elas está disponível no blog "http://www.originaldosabado.blogspot.com.br/" e quem quiser fazer comentários poderá lá fazê-los. 


Portanto, agora pernas pro ar e vamos comemorar o início de várias "saideiras" daqui pra frente. 

25/08/17

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Pós, batons e pincéis (FB)

Terça-feira voltando de São Paulo presenciei uma cena que me chamou a atenção. Quando o comandante anunciou "iniciamos os procedimentos para pouso no Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares, em Maceió.....", uma jovem sentada uma poltrona a frente, abriu uma frasqueira enorme em que cabia uma loja da Sefora e da Slopper, juntas. De dentro começou a tirar dezenas de produtos e apetrechos de maquiagem. 

Durante uns 20 minutos passou de tudo no rostinho já bem bonitinho. Foi pó e ruge nas bochechas, testa, queixo e nariz, rímel nas pálpebras, baton nos beiços, lápis nas sobrancelhas e olhos, esmalte nas unhas. Tinha espelhos côncavo, convexo e iluminado, pincéis pra retoque e pelo menos um do tamanho de uma brocha, almofadas, uma dúzia de pós, pinças, tesouras, algodão, lupa, cotonete, lenço humedecido e o escambau. A habilidade da moça em manusear e compor este arsenal de beleza impressionou quem estava por perto. 
A cada instante ela tirava uma foto e verificava o resultado. A câmara do celular funcionava como um espelho. 

Minha curiosidade foi crescendo a medida que o avião se aproximava da cabeceira da pista. De repente seu boarding card caiu no chão e eu, gentilmente, apanharei-o e, curiosamente, li o nome da passageira. Foi um choque. Lá estava escrito o nome da passageira: "Adolfo Celestino Marques do Amaral". 

Não acreditei no que li. Devolvi o cartão já procurando pelo "gogó" no pescoço da "moça" e lá estava ele maior do que o do Cristiano Ronaldo, escondido sob uma gola rolê. Olhei pro pé e tava lá um 42, de salto 3 1/2. Foi um decepção do tamanho do sopapo que o avião deu no pouso. 

O sobrenome da "jovem" também me chamou logo a atenção. Só pode ser uma parente do casal amigo "Cabeleira" Marques e Tânia Amaral, na há dúvida. Eles deveriam ter me avisado com antecedência para que eu pudesse dar a "ela" a atenção merecida aqui na terra dos marechais. 

Meus amigos, ainda há tempo de reparar este vacilo.

17/08/17

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Que país é este? (FB)

Que país é este em que:

  • O Presidente da República é um denunciado por crime de corrupção e lavagem de dinheiro, um "traíra", se apega a todos meio antiéticos e imorais para se manter no poder?
  • O povo flutua num mar de mentiras e misérias, o governo aumenta impostos e o "traíra" diz que o povo "entende" a necessidade da alta dos combustíveis?
  • A maioria dos membros do Congresso se vende, vergonhosamente, para livrar da cadeia um bando de corruptos e bandidos indiciados?
  • Os sagrados fundos de pensão, economias de uma vida de trabalho, são delapidados e geridos criminosamente, deixando milhões de trabalhadores e aposentados sem a garantia de um fim de vida digno?
  • A inflação está em torno de 4% ao ano mas as operadoras de cartão de crédito cobram juros de mais de 350% para quem atrasa ou parcela o pagamento de sua fatura?
  • Um policial é morto a cada dois dias (já são 91 no Rio este ano) sem que nada seja feito, efetivamente, para reverter esta chacina urbana?
  • Um governador e sua quadrilha assaltam um Estado por mais de 8 anos, deixando-o à beira da falência e a sua população assiste esta derrocada pacatamente, sem mostrar revolta? (A passividade do nosso povo é um dos grande incentivos a ousadia dos políticos bandidos.) 
  • As autoridades sucateiam as universidades e escolas públicas, surrupiando a esperança e o futuro de milhares de jovens?
  • A esperteza é incentivada e cultuada desde cedo ao invés de punida e execrada?
  • Alguns membros da Suprema Corte são, visivelmente, parciais e comprometidos com os mau-feitos das gangs que loteiam e expoliam nosso povo?
  • O cidadão além de pagar uma carga absurda de impostos quando, por exemplo, precisa obter um passaporte, pelo qual ele pagou (caro) uma taxa específica pra isto, não consegue por que o governo desviou a grana pra outra coisa?
  • Os motoristas esperam há mais de 10 anos a duplicação de uma BR-101 e o pouco que já foi feito já está se arruinando? (Morrem mais de 60 mil infelizes por ano nas estradas brasileiras). 

O nome deste país começa com "B" de "bandidos", termina com "L" de "ladrões" e no meio tem um "S" de "sem-vergonhas" onde poucos com estes adjetivos ludibriam mais de 200 milhões de pessoas sérias e bem intencionadas. 

Caminhando para os meus 66 giros em torno do sol, estou cada vez mais descrente em ver este meu país aprumado para um futuro que nos orgulhe, seja mais justo, menos desigual, mais sério, menos expoliado, mais nação, menos loteado. 

Vejo-o como um grande navio que está rodopiando num redemoinho gigante de lama causado pelo ralo impiedoso da corrupção e do desmando, onde a maioria dos seus tripulantes está naufragando sem salva-vidas à vista. 

28/07/17

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Miolo de pão (FB)

Hoje o texto é de um autor desconhecido.  Em alguma leitura por aí, li e gostou bastante.
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"Um casal tomava café no dia das suas bodas de ouro. A mulher passou a manteiga na casca do pão e deu para o seu marido, ficando com o miolo.

Pensou ela: - Sempre quis comer a melhor parte do pão, mas amo demais meu marido e, por 50 anos, sempre lhe dei o miolo. Mas hoje quis satisfazer o meu desejo".

Para sua imediata surpresa o rosto do marido abriu-se num sorriso sem fim e ele lhe disse:

- Muito obrigado por este presente, meu amor. Durante 50 anos, sempre quis comer a casca do pão, mas como você sempre gostou tanto dela, eu jamais ousei pedir!

Assim é a vida. Muitas vezes nosso julgamento sobre a felicidade alheia pode ser responsável pela nossa infelicidade. Diálogo, franqueza, com delicadeza sempre, são o melhor remédio".

07/07/17

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Uma criatura especial (FB)

Na família do meu pai foram 8 filhos de Seu Luiz e D. Ritinha, meu casal referência, que se carinho e paixão tivessem uma representação cénica, eles ganhariam o Oscar. Meu avô morreu atropelado no sábado de carnaval, em 1966, e minha santa avó, em 1984, 20 dias após a morte do meu pai. Não é raro em todas as famílias existir um herdeiro que destoa do comportamento dos demais, que, às vezes, é chamado de "ovelha negra". 

Meu tio mais novo, hoje com 77 anos, foi essa "ovelha negra", sem o caráter pejorativo normalmente associado ao termo. Foi, apenas, um jovem treloso, astuto, ardiloso, presepeiro, daqueles de amarrar "mijão" em rabo de gato, encher o bucho com frutas dos quintais alheios, caçar "operadoras de fogão" nas areias de Tambaú, montar numa lambreta caindo aos pedaços e passar 8 dias sumido sem dá notícias à meus avós, entrar no mar e nadar até se perder de vista e outras traquinagens "do bem". 

Cabarelista sênior, desejado e amado pelas piriquetes da época, nunca se envolveu em brigas e arruaças mais sérias, que eu saiba. Na década de 60, após aprontar muito na sua (nossa) terra natal, Campina Grande, foi embora pra Brasília e lá conheceu uma mineira, apaixonou-se e mudou completamente seu estilo de vida. Não tiveram filhos mas adotou um que da adolescência pra frente foi seu grande motivo de aperreio e decepção, infelizmente. 

Seu garoto conheceu cedo a bebida e a droga e no final de maio último morreu de uma parada cardíaca. Tinha 45 anos. 20 dias depois, a semana retrasada, sua mãe, minha tia, morreu depois de uma queda em casa. Duas tragédias "encarreadas" em menos de um mês. É a história familiar se repetindo. 

Desde muito tempo este tio sempre teve uma identificação e uma grande amizade com seu sobrinho, o Ceguim do Ceará, meu irmão. Se admiram mutuamente, são confidentes. Advinha quem foi imediatamente dar o suporte nesta tragédia ao tio solitário? Ele, Birmarkinho, pessoa de um coração mais do que bondoso e um apoiador incondicional, sempre "chegando junto" nas nossas horas de maior sufoco. Imediatamente pegou um avião para Brasília e lá permaneceu uma semana desenrolando tudo o que foi possível para o conforto do tio querido. Será seu cuidador daqui pra frente. 

Hoje é dia do aniversário do meu irmão querido e ele será comemorado na nossa terra natal, da melhor maneira, rodeado dos amigos que tanto o admiram e se encantam com esta pessoa iluminada, especial. A você, meu irmão, o meu maior respeito, carinho e admiração por tudo o que você é e faz em benefício dos seus amigos e familiares. Continue se cuidando, sarado, disponível, pois, quem sabe, poderemos ser nosso tio, amanhã. 

Repito mais uma vez que você é aquele ser humano que já se sente saudade desde o momento que o conhecemos. É um privilégio e uma sorte tê-lo como irmão e amigo. 

29/06/17

quinta-feira, 22 de junho de 2017

A injustiça dói (FB)

No conforto das nossas salas de estar assistindo os noticiários das redes de TVs, vemos, cotidianamente, a dor é o desespero de pais que perderam filhos e parentes mortos pela violência, o crime organizado, a droga ou qualquer outra tragédia. Presenciamos tudo isto sem sofrer o sentimento de dor vem a reboque. 

Mas quando esta situação se avizinha de você de forma coletiva  percebemos que o que mais dói não é só o sentimento da perda física do ente querido e sim o da falta de justiça, causada pela impunidade, o desrespeito, o descaso dos poderes públicos, principalmente para os humildes e mais necessitados. 

Por mais que me esconda dos noticiários, blogs, zaps, não consigo ficar alheio a este sentimento nem imune ao caos moral, ético e econômico que estamos começando a enfrentar neste país. Os últimos baluartes de esperança que tínhamos, os Supremos, estão fraquejando diante das evidências da corrupção escancarada, das parcerias espúrias entre o público e o privado, das alianças sebosas para a permanência no poder a qualquer custo. A recente decisão do STE é um passe livre para se emburacar num túnel escuro e tortuoso que pode nos levar ao despenhadeiro institucional. 

Quando se chega este ponto de se perder a fé na justiça, nas instituições constituídas para tal, a quem apelar? Será às dezenas de igrejas caça-níqueis que se abastecem da ignorância e desesperança do povo? Às milícias que matam e escravizam os que dela se associam? Aos fuzis e Urutus como em épocas passadas? Aos Bolsonaros, Brizolas, Getúlios, Lulas, Collors ou outros sacripantas da vida? Acho que não. 

Começo a perceber que a injustiça dói como uma artrite no inverno, um dente exposto a naco de rapadura, esmorece como uma febre terçã, exaure como uma diarreia "braba", deprime como uma traição, maltrata como um calo seco no dedo mindinho, decepciona como um 7x1.

Se desligar e se desconectar desta realidade é impraticável e não é solução. Estou ciente que só votar bem também não é suficiente. Alguma coisa coletiva tem que ser feita, urgentemente, para baixar a febre e começar a tratar o doente. 

Enquanto não batemos na porta da UTI vamos comemorar o São João e encher o bucho de milho assado, canjica e dançar um xaxado neste inigualável arraiá em que se transforma Campina Grande. 


Como filosofa o amigo Jajá de La Sierra, "Eu acredito mesmo é na ciência. O resto é um mero quadro final que obscurece a verdadeira realidade dos fatos".

23/06/17

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Só para beatlemaníacos (FB)

No último 1 de junho completou-se meio século do lançamento do álbum "Sgt. Pepper's lonely hearts club band", considerado uma das melhores peças musicais já produzidas. É sem dúvida uma obra espetacular e quem teve o privilégio como eu, de viver seus anos dourados na época em que ele foi lançado, continua deslumbrado com o frescor das interpretações, as inovações nas performances das canções e os rumos que a cultura tomou desde então. 

Não me canso de ressaltar a evolução musical e a explosão de criatividade dos quatro cabeludos de Liverpool, ocorrida em apenas 4 anos de estrada. Querem ver algumas evidências disto? Peguem 3 músicas gravadas em 1963, por exemplo as bobinhas, "Love me do", "A taste of honey" e "Thank you girl" e comparem com 3 gravadas em 66/67, "Tomorrow never knows", "Strawberry fields forever" e "A day in the life". É como neste curtíssimo espaço de tempo se saísse de um Fusca "pé de boi" para um BMW série 7 ou de um "Teco-teco" para um "A-380". 

É uma evolução meteórica nas letras, harmonias, performances, considerando que estas músicas foram gravadas no mesmo estúdio, usando equipamentos e tecnologias praticamente iguais e que estes meninos tinham, apenas, 23/24 anos. Acrescente-se a isto que neste curto período eles lançaram 2 álbuns por ano (14 músicas, cada) e 4 compactos (2 músicas, cada), todos indo para o topo das paradas, fizeram 2 filmes de sucesso mundial, realizaram dezenas de shows nos EUA, Austrália, Japão e Europa, além arrumarem tempo para "consolar" centenas de tietes que invadiam seus quartos de hotel por onde passaram. 

Os Beatles, no período de 1963 a abril/70, gravaram 13 álbuns, 213 canções, na sua quase totalidade compostas pela dupla Lennon/McCartney e por George Harrison. Eles encantaram e continuam encantando milhões de fãs de todas as idades, espalhadas pelos quatro cantos do mundo. A qualidade e a inovação presentes na sua obra são referências para a maioria de artistas e continuarão sendo para os que estão começando no ramo. 

A reedição do Sgt. Pepper's lançada há duas semanas, após passar por um processo primoroso de limpeza, realça acordes, nuances e instrumentos até então não percebidos. É como se ver uma paisagem através de uma vidraça que estava embasada pelas intempéries do tempo. Um orgasmo sonoro.
No vídeo mostrado a seguir é possível "visualizar" um pouco o processo criativo do trabalho comentado neste texto. 

http://portalbeatlesbrasil.blogspot.com.br/2017/06/sgt-pepper-revolution-veja-aqui-o.html


PS. O tema pode ser piegas para alguns mas eu avisei no título!!!

15/06/17

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Rejuvenescer (FB)

Depois de um bom tempo sem assistir a Fórmula 1 fiz isto a semana retrasada. Não consegui chegar ao pódio. A narrativa sarcástica do Galvão Bueno e os comentários carregados de mesmices do Reginaldo Leme, me encheram o saco.  

Não aguento mais se quer passar pelo Faustão, Mesas Redondas de Futebol, Raul Gil, Lucas Mendes, Sílvio Santos, Sarney, novela da Globo. São sempre a mesma coisa, mofada, cristalizada, fossilizada. A criatividade de um Chico Anysio, Jô Soares, Dias Gomes, aposentou-se e não surge ninguém sequer pra fazer coisa parecida. 

O hábito automático, a rotina "confortante", sem nada diferente, parece que nos envelhece mais rápido, nos entendia com mais facilidade, nos aproxima da morte. A novidade criativa, inteligente, refrescante, nos dá sobrevida, revigora, dá aquela catucada que nos põe pra cima, pra frente, nos trás esperanças. 

Só agora, com a idade galopando rápido para os 70 consigo enxergar e concordar com isto que os muitos mais experientes do que eu já disseram e escreveram. Não é desprezar ou menosprezar o passado ou a tradição mas sim a mesmice, a repetição acomodada, a falta de ideias novas, o que me entedia. 

Dias atrás "Alfredão de Timbaúba" e "Paulim de Vancouver" fizeram, como sempre, comentários inteligentes a uma das "Original" e citaram o poema/música do finado Belchior, chamado "Rejuvenescer", onde ele diz:

"......No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais
E o que há algum tempo era novo jovem
Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer....."


O que me rejuvenesce não é o novo, a aventura, o lugar desconhecido e sim a novidade criativa, inteligente. Ler muito, escrever estas bobagens, reencontrar amigos e participar, intimamente, do crescimento da minha netinha, tem sido minha principal fonte de rejuvenescimento. O danado é que para me manter "upgrade" exige mudanças que, às vezes, incomodam, descalçam meus "chinelos velhos", me tiram do conforto da ociosidade. É um dilema como é tudo na vida.

08/06/17

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Aiiiii, vai doer (FB)

Há três meses passei o carnaval dentro de um hospital, em Aracaju, fazendo companhia a minha mãe enferma. Aproveitei o tempo na "praia" dos médicos e enfermeiras para escrever o texto "Bombeiros de branco". Agora estou novamente num hospital, desta vez em Maceió, acompanhando minha mulher que se submeteu a uma cirurgia para reparar uma hérnia inguinal. 

Para mim são momentos estressantes que sou mais frouxo do que bombacha de gaúcho em tudo o diz respeito a hospital, cirurgia ou qualquer coisa relacionada a dor. Prefiro enfrentar um bandido armado e drogado ou um pitbull faminto a uma enfermeira com uma seringa na mão. Se um dia eu vier a ser ameaçado de tortura confesso até quem matou PC e JFK, e afirmo com convicção que Aécio e Maluf são mais honestos do que Rui Barbosa. 
Só pra dar uma ideia da minha "frouxura", a semana passada fiquei mais tenso do que corda de violino para tomar a vacina contra gripe. Já estou preocupado e me preparando, psicologicamente, com a campanha do próximo ano. Tomara que evolua pra gotinha na boca. 

A cada quatro meses faço exame de sangue para controle da diabetes. Uma semana antes já não durmo bem pensando na famigerada picada. Chego no laboratório mudo e saio calado. Na hora da moça estuprar minha veia e surrupiar o meu precioso sangue, fecho os olhos, viro a cara pra parede e tranco o "forroboscoi" que não sai (nem muito menos entra) um cabelo de micróbio. Suo que só uma tampa de chaleira. Ufa, que alivio quando escuto o "pronto seu Cotonete, agora só daqui a 4 meses". 

Na última consulta a endocrinologista me assustou com a possibilidade do uso de insulina injetável, caso os níveis de glicemia não caiam com o uso da medicação atual. Eu passar a me picar diariamente será a morte pra mim. Com medo deste horror, tô bebendo quase nada, obedecendo uma dieta rigorosa e correndo que nem cachorro atrás do caminhão do açougue. 


Com 66 anos no espinhaço nunca fiz (nem desejo jamais) uma cirurgia. Nem canal em dente brocado. Se um dia esta infâmia tiver que acontecer podem ficar certos de que o Cotonete vai gastar uma grosa de fraudas descartáveis nas 24 horas antes do bisturi "comer no centro". Enquanto isto D. Mabel saiu rindo pro centro cirúrgico, mais despreocupada e feliz do que baiano que ganhou a Mega-Sena na véspera do carnaval. É uma heroína. Dou valor.

2/6/17

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Arrastão (FB)

Hoje, na minha "quase" habitual caminhada pela praia, assisti uma das coisas que mais gosto de ver: um arrastão nas águas limpas da Ponta Verde. Não é aquele das praias cariocas mostradas pela Globo e sim o labutado por pescadores que tiram seu sustento da generosidade do Atlântico. O fervilhar dos pequenos peixes e camarões é um dos sinais da beleza que esta natureza nos proporciona. Há alguns anos vi um deles lá nos 36 onde num só lance mais de 500 kgs de peixes foram capturados e fez a festa dos humildes pescadores da região. 

Vivendo neste atual mar de lama da corrupção divaguei como seria oportuno e salutar se a nossa Justiça pudesse fazer um arrastão similar, com uma "rede" forte e de malha bem fina, nos palácios, mansões e gabinetes para por na beira da praia da moralidade, a luz do dia e de todos, os traíras e tubarões que infestam as águas que banham nossa política. Infelizmente o braço da impunidade, da mentira, é longo que só o nariz de Pinóquio enquanto o da Justiça é mais curto do que estribo de anão. 

Ao contrário dos peixes que saíram no arrastão que vi a pouco, onde a peixeira "come no centro" e em cinco minutos após saírem do seu habitat têm seus "fatos" e tripas extirpados e suas escamas lixadas, alguns traíras e tubarões do arrastão da moralidade são transferidos (quando são) para "aquários" de luxo, com oxigênio bombeado a rodo, empoleirados na Quinta Avenida ou em chácaras paradisíacas, e continuam no regime de engorda comendo iscas de camarão, sem anzol, sem riscos. 

Mas como todo pescador deveremos ser perseverantes e acreditar que um dia o bem vencerá o mal e que o mar da fartura seja abundante para todos e não só para os bandidos e assassinos de sempre. 


PS.: Esta é a edição de número 300. O meu "mar de inspiração" está cada dia mais minguado e a "Original saideira" parece próxima. 

26/5/17