No livro “Vale tudo”, o autor Nelson Motta conta dezenas de histórias engraçadas do cidadão carioca Sebastião Rodrigues Maia, o Tim Maia, falecido em 1998, com apenas 56 anos de idade. Possuidor de uma voz possante, um ouvido exigente e um suingue inigualável, Tim Maia vendeu milhões de discos, compões belíssimas canções, encantou muitos fãs e azucrinou a vida de muita gente com quem se relacionou. Eis duas das histórias que achei mais hilárias.
1- Preocupado com o aumento de peso, ele se internou numa clínica e depois de duas semana comendo apenas folhas e tomando caldinhos, fugiu num caminhão de entrega e foi direto para uma churrasqueira famosa onde ficou do meio dia às 20 horas comendo e bebendo de tudo. Depois saiu dizendo:
“Fiz uma dieta rigorosa, cortei álcool, gorduras e açúcar. Em duas semanas perdi 14 dias.”
2- Outro “causo” interessante aconteceu na sua temporada na casa de espetáculos “Scala”, na zona sul carioca, de propriedade do espanhol “Chico Recarey”, espaço chic do show business da década de 80. A fina flor da sociedade a frequentava para comer e beber do bom o do melhor, enquanto assistia espetáculos e artistas famosos. Tim Maia, embora fosse considerado um cantor de subúrbio, brega, na época estava no auge e o Chico Recarey resolveu contrata-lo para 4 apresentações. É praxe o artista receber alguns convites para distribuí-los para seus familiares e amigos.
“Bronqueiro” como ele só, na primeira noite o Tim percebeu que o dono da casa colocou os convidados dele (Chico) na primeira fila, todo mundo bonito, perfume francês, dentes lindos, maravilhosos, cascata de camarão, champanhe e o escambau. Os convidados do Tim foram posicionados lá atrás, perto da cozinha, tomando cerveja quente e comendo asinhas de frango. O Tim achou isso uma sacanagem e disse para um amigo: “”Mermão”, esse fdp vai me pagar caro”.
Na noite seguinte, com o Scala abarrotado, Tim tirou o telefone do gancho e permaneceu em casa. Recarey ficou maluco. Implorou à todos que pudessem trazer o Tim para o show. Mandou o seu staff e amigos comuns para convencer o cantor cumprir o compromisso. Chegando ao apartamento do Tim o encontraram de cuecas, chapado, doidão. Quando ele viu aquela “ruma” de gente, disse: “Hoje o show vai ser aqui em casa.” Ligou para um restaurante vizinho e encomendou lagostas para todos. Tim estava feliz, pegou o violão e começou a cantar, como se estivesse diante de uma multidão. Deu um show impecável.
No dia seguinte Tim fez um acordo com Recarey: para voltar a fazer o show, teria metade da primeira fila para seus convidados, cerca de trinta pessoas. Antes de começar o show Tim disse para um dos amigos: “Vai lá na frente do palco, abre a cortina de leve e dá uma olhada na primeira fila, onde você vai sentar. É lá que estão os convidados do Chico e os meus, todo mundo com cascatas de camarão, champanhe e o escambau”.
Quando o amigo entreabriu a cortina, arregalou os olhos e só teve voz para murmurar: “Meu Deus!”
Na primeira fila, metade das mesas estava ocupada pelos convidados de Recarey — socialites, bicheiros e autoridades, todo mundo fino e elegante. Mas nas outras mesas não estavam os parentes e nem os amigos de Tim, e sim uma gente suja, desdentada e descabelada, com roupas velhas e esmolambadas, que parecia ter saído das ruas. Tim havia distribuído seus convites entre faxineiros, garagistas, mendigos e flanelinhas que encontrara nas vizinhanças do Scala — era a parte final da sua vingança. O show foi apoteótico, os bacanas e os mendigos da primeira fila aplaudiram de pé, Tim e Recarey se abraçaram efusivamente no camarim.
São algumas das estripulias do Sebastião Rodrigues Maia, que numa de suas entrevistas disse: “Não fumo, não cheiro e não bebo, mas às vezes minto um pouquinho.”
04/06/21