segunda-feira, 3 de junho de 2019

Céu e inferno (FB)

Recentemente relí as autobiografias de dois ídolos da música. São histórias incríveis, marcantes, de artistas que nasceram em famílias desestruturadas, em tempos de pós Segunda Guerra Mundial, passaram por períodos de sofrimento, escuridão e desesperanças, que, milagrosamente, conseguiram transpor e sobreviver. Muitos outros, famosos ou não, ficaram pelo caminho (Cazuza, Renato Russo, Hendrix, Freddie Mercury, Michael Jackson, Janis Joplin, Elis....), vencidos pelo vício das drogas pesadas e dos exageros que elas provocam.

Estes dois a que me refiro viveram (e ainda vivem, agora menos) anos de horror e sofrimento físico e psíquico, consumindo quantidades cavalares de álcool e drogas pesadas, sexo, tragédias familiares, desilusões amorosas e muito chifre. Um deles nem o pai conheceu. A música foi, talvez, a única bóia de salva-vidas, a salvaguarda pra sobrevivência, através da qual eles conseguiram externar suas amarguras, desilusões, traumas e desejos. Todo este cenário de vida sem limites deixaram sequelas profundas e irrecuperáveis mas ambos continuam vivos (e ativos).

Enquanto isto estou eu aqui no “céu”, confortavelmente numa rede, ouvindo e usufruindo da beleza dos acordes, solos e letras resultantes deste inferno, sem ter passado um tiquinho sequer pelos aperreios, dramas e mazelas que Phil Collins e Eric Clapton enfrentaram para produzi-las. É muito privilégio. A vida tem que empatar.

Quem quiser conhecer um pouco da história destes dois superstars recomendo a leitura dos livros a seguir.

https://www.amazon.com/Phil-Collins-Ainda-autobiografia-Portuguese-ebook/dp/B079Q776C8/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=ÅMÅŽÕÑ&keywords=phil+collins%2C+ainda+estou+vivo&qid=1558621488&s=digital-text&sr=1-1-spell

https://www.amazon.com.br/Eric-Clapton-Clapton-ebook/dp/B0763XRF2S/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=ÅMÅŽÕÑ&crid=2CAQSXWJLEHT1&keywords=eric+clapton&qid=1558621660&s=digital-text&sprefix=Eric+clapton%2Caps%2C213&sr=1-1

domingo, 17 de março de 2019

Meus relógios (FB)


Semana passada a caminho de um shopping pra trocar pilhas de alguns relógios fiquei pensando como estas peças inanimadas são “testemunhas temporais” de nossas vidas. Estão em posições privilegiadas “observando” e “ouvindo” tudo aquilo que o seu patrão faz, fala e vê. São parceiros solidários de nossas alegrias e tristezas, segredos e intimidades. Ah se eles “falassem”. Recuperaria, com fidelidade, a minha linha do tempo passado, recurso que os atuais smartphones dispõem.

Sempre gostei do objeto e tenho uns 5 ou 6. O primeiro que eu me lembro foi um Seiko patacão, presente da minha mãe pela aprovação no vestibular. De lá pra cá foram vários, sempre de valores modestos. Não entendo relógio como joia. Não costumo variar, uso um por longo tempo, depois dou oportunidade a outro.

Herdei um legítimo Mido, já desbotado, que não precisa de bateria. Sua energia há mais de três décadas, esgotou-se. Ela era proveniente do balanço pendular do braço de meu querido Velho. Hoje guardo-o com muito carinho e de vez enquanto tiro-o da sua hibernação, atraco no meu pulso e desfilo com esta relíquia pelas calçadas da redondeza. Máquina perfeita.

Todos este marcadores de tempo “registraram” períodos de minha vida, lugares do mundo e momentos do cotidiano. Alarmaram pra não perder a aula, o trabalho, a hora do voo, a hora de partir e de chegar.

Nunca perdi um, nem nenhum deles passou a adornar o braço de um larápio. Tenho sorte (e cuidado).

E assim vou vivendo enquanto o tic-tac do meu “relógio” do lado esquerdo do peito quiser.

16/03/19

Esperar (FB)

Quando era mais novinho entendia o significado do verbo “esperar” como: buscar, objetivar, desejar, ou seja, correr atrás de uma meta, de um sonho, construir um futuro, subir na vida, diferentemente do que está nos dicionários. No inglês se diz um “driving force”.  

Se dizia: espero ser um engenheiro, um médico, um “Dr”. Você estudava e na maioria das vezes conseguia; Espero constituir uma família. Corria atrás de uma namorada, casava (alguns nem tanto), tinha filhos, comprava um ap e tava formada a família; Espero trocar de carro. Fazia uma economia daqui e dali e pegava um Fuscão “Fafá de Belém”.

O tempo foi passando e hoje, pra mim, o significado mudou e bate, exatamente, com o que está na literatura escolar: aguardar, ficar estático, deixa estar. O ímpeto do “esperar” daqueles tempos deixou de ser a mola impulsionadora dos meus desejos e ansiedades.

Hoje eu espero uma ligação dos filhos, o horário do Jornal Nacional, a hora de tomar os remédios, o calor diminuir. Espero na fila da farmácia, da padaria, do supermercado, do embarque. 
Espero, ansiosamente, a chegada da neta, a hora de dormir, o aconchego de uma rede nos 36 m2. Espero nosso país sair do atoleiro do atraso, da desigualdade e das injustiças. 

Agora eu conjugo este verbo sem escamotear seu significado “dicionariado”.  Me conforto em estar “driven”, novamente pegando emprestado um termo da língua germânica que acho se ajusta bem ao meu pensar. Esperar não me enerva nem me impacienta mais, afinal não preciso mais correr atrás pra que a maioria das coisas que desejo aconteçam. Compromisso só com o meu bem estar. Agora só relaxo e espero.

10/03/19