Os amigos sabem da minha resistência para fazer uma atividade física regular e permanente. Uma nuvem de chuva lá em Zimbábue já é motivo para eu deixar o exercício físico pra outro dia. Mas esta semana acordei mais cedo e resolvi fazer diferente. Me apetrechei e fui fazer uma caminhada na orla da Ponta Verde.
O mar ainda se espreguiçava mansamente, a réstia do sol nascente parecia um rastro de fogo sobre as águas sonolentas do imenso Atlântico. O céu desnudo de nuvens prometia um dia de Saara. O hálito que nos envolvia tinha aroma de iodo fresquinho.
O cheiro verde do sargaço me transportou para os bons tempos dos veraneios em Tambaú, João Pessoa. Os coqueiros empertigados ainda descansavam da ventania do dia anterior. Um pescador singrava o imenso espelho em busca da piaba pro almoço de mais tarde.
Nos ouvidos, me acompanhando, Sinatra, Jobim, Waldir Calmon, Paul Mauriat, Ray Conniff. O calçadão estava cheio de madrugadores, a maioria andando e alguns poucos xotando. Cruzei até uma idosa (com “bobs” nos cabelos) caminhando de mãos dadas com seu velho e rezando um terço ao mesmo tempo. Nos abrigos das bancas de revistas, infelizes sem teto dormiam, serenamente, ao relento (e eu, mais das noites tenho sofrido de insônia. ?????).
Na volta do passeio comprei uma baguete crocante e peguei o resultado dos últimos exames de sangue (o envelope só abro depois do frugal café).
Não sei se amanhã terei disposição pra fazer a mesma coisa. A Majú disse a semana passada que há previsão de chuviscos e brisa amena e eu não sou doido de pegar uma friagem neste pré-verão que já apresenta temperaturas de fazer inveja a Patos e Mossoró.
No contraponto deste “landscape” lindo me vem à mente neste momento os 44 “hermanos” que agonizam (ou pior do que isto) em algum ponto sob este magnífico Atlântico. São os mistérios da vida.
P.S. A idade também também atingiu a “Original” e mexeu com seu “metabolismo”. Ela agora pode sair em qualquer dia da semana, mais de uma vez, ou nem mesmo sair.