domingo, 16 de agosto de 2020

Vô, conta uma estória (FB)

Há pouco mais de 5 meses estava na França feliz da vida esperando, ansiosamente, a chegada da minha segunda neta, Linda (que faz jus ao nome, diga-se de passagem). Depois de três meses ausente do país voltei seco que só o Saara no “pingo do mei dia”, para encontrar minha primeira neta, Giovana (5). Não passei uma semana sequer com ela e tive que “dar no pé”, mais rápido do que o Weintraub, pra minha casa de praia e iniciar este isolamento que já dura quase meio ano. Tudo mudou. 


Este vírus cruel e separatista continua me roubando este convívio tão necessário e eu não sei por quanto mais tempo ainda. No mês passado bati os 69. Não tenho mais muito tempo para usufruir, com saúde e disposição, do prazer da convivência com os filhos, netas e amigos. 


Embora a internet nos possibilite a comunicação diária audiovisual, este recurso não substitui o prazer do cheiro “johnsonificado”,  o toque acariciador, a afeição “aternurada”, o ressonar apacificado, principalmente da francesinha que está tão distante, agora nos seus 7 meses de vida. Tô com uma saudade enorme do “vô conta uma história”, que a Nana me pedia toda noite antes de dormir. 


Meus filhos praticamente não tiveram o prazer do convívio com os avôs (meu pai e meu sogro morreram muito cedo) e hoje eles se ressentem disto. Não posso perder tempo apartado delas. Sou o único vô da Linda.


Este vírus maldito, além de causar a dor física, a morte, também, sufoca nossos sentimentos quando nos obriga ao isolamento e a separação daqueles que amamos. Isto nos causa angústias, e ansiedades.


A escalada desta doença, o receio de ser infectado, o  sofrimento das mais de 100 mil famílias que perderam seus entes queridos, a decepção em ver uma coisa tão séria ser objeto de uma disputa política insensível, debochada, irresponsável e desumana, é desesperançoso, assustador, “derrubante”, triste. Continuamos, ainda, no escuro e de olhos fechados sem saber bem o por vir. 


Felizmente nesta fim de semana receberei minha neta e filha aqui nos 36m2. Não vejo a hora de abraçá-las e matar um mol de saudades acumulado nestes 5 meses distantes. O grande encontro com o restante da família está se desenhando para o fim do ano, inclusive com a vinda dos meus “franceses”. Vai ser festa pra entortar triângulo e fazer o carnaval de Salvador parecer uma quaresma. 


14/08/20

domingo, 9 de agosto de 2020

Um recorde trágico (FB)

Neste fim de semana do dia dos pais atingimos o número horroroso de mais de 100 mil mortos pela COVID-19. É muita gente. Não sei quantos destes infelizes morreram devido a incompetência, a negligência, o deboche e a ganância dos nossos dirigentes políticos, mas, com certeza, foram muitos.


Acabei de completar 69 anos no meio deste açude tingido de luto, apartado dos meus filhos e netas, mas graças a Deus ainda com saúde e boa disposição para seguir caminhando acima da terra e debaixo do céu, embora com frequência crescente lamentando a morte de contemporâneos queridos. 


Continuo com a convicção que a morte é quem dá sentido a vida e por isso que damos tanto valor a vida. A idade vai me enlaçando e esta convicção vai se reafirmando, sem me amedrontar muito, talvez, porque, graças a Deus, nunca tenha passado por uma situação que encarasse a morte “na vera”. Cazuza uma vez disse que “viu a cara da morte e ela estava viva”, será assim mesmo?


Ela é inevitável para todos embora eu me ache imortal. Eu acredito que passada a passagem eu continuarei existindo de alguma outra forma. Esta minha entidade (Giba, “Cotonente” ou que nome de fantasia seja) é eterna, disso não tenho a menor dúvida.


O universo é simétrico. Pra tudo existe seu espelho, seu avesso, seu oposto, seu sim e não, 1 e 0, noite e dia, sol e chuva, riso e choro, prazer e dor, frio e calor, santo e bandido. A vida e a morte formam mais um par lógico que faz parte desta simetria. No fim as pontas se emendam.


“A vida é a arte do encontro”, definição perfeita do Vinícius de Moraes. Para mim, a morte é o encontro mais solitário que existe. Por mais que você ame uma pessoa, quando ela parte você só a leva até a beira da cova. De lá o vivo volta e o morto fica.


Desde muito tempo tenho um certo fascínio pela morte. Não sei se terei medo ou não quando ela se apresentar, só sei que vou ter uma saudade enorme da vida. 


Feliz dia dos pais. Que Deus conforte estas mais de 100 mil famílias que hoje não terão o que comemorar nesta data, só lamentar a perda de entes queridos. 


09/08/20

sexta-feira, 26 de junho de 2020

A oportunidade faz a ocasião (FB)

Esta estória aconteceu “de verdade” com um amigo meu lá de Aracaju, Nabuco “Cetinha”, casado com D. Judith, (nomes fictícios), ambos muito religiosos e bem casados. Ele “ferrolho”(só entrava no mesmo buraco) e ela carola praticante mas com uma alma de “quenga” bem escondida por debaixo dos panos. 

Um belo dia “Cetinha” aparece com uma dor na mão direita e os dedos começam a entrevar que nem um garfo torto. D. Judith, preocupada, usa seus ensinamentos caseiros e aplica na mão dolorida do marido sêbo de carneiro “alpha”, Iodex, terebintina, compressas, mas nada de melhoras. 

Nabuco decidiu procurar um Dr. “esqueletista”. Depois de um exame, o médico diz que é coisa besta e passa 36 sessões de fisioterapia. Na segunda feira ele começou o tratamento numa clínica próxima a sua casa. De cara ele logo se engraçou da profissional de branco, de jeito sapeca, insinuante, linda e muito gostosa. Dizem que “a oportunidade faz a ocasião” e “Cetinha” emburacou nessa máxima. Previu que a “fisioterapia” poderia se “estender” por outras partes do corpo. 

Fiel que só cão de guarda, procurou tirar os “maus pensamentos” que atanazavam sua cabeça, orando, se penitenciando e rezando, mas chegou num ponto que as contas do terço acabaram e ele não resistiu à tentação: convidou Magaly para continuar o tratamento “complementar” num motel que ficava pertinho da clínica. 

As sessões que eram de trinta minutos passaram a ser de 3 horas, 2 h e meia dedicadas exclusivamente ao “dedo” que fica abaixo do umbigo. Depois de findada as 36 sessões ele já tava espremendo bola de sinuca, mas para a patroa a dor continuava do mesmo jeito e piorando. 

Ela percebeu que o marido estava indiferente, arredio, e comentou com as amigas que ele a procurava cada vez menos e que ela andava mais seca do que língua de papagaio. “Cetinha”, esperto que só bicho de circo, voltou ao médico e fingiu que não teve melhora. O Dr. na hora que pegou na pontinha do dedo mindinho do fingido ele deu um pinote e um berro maior do que quem toma uma pisada de coturno num dedo com um calo seco inflamado. 

O médico, espantado, disse: “Vige Nossa Senhora, eu nunca vi um caso deste em toda medicina”. 
Nabuco foi logo se auto receitando: “Dr. passe logo umas 120 sessões diárias, 7 dias por semana, sem interrupção, que eu acho que é garantia de uma boa melhora”. 
O Dr. disse: “É pouco. Pra esse nível de inflamação vou passar 150, se aguentar, faça duas sessões por dia. Não vacile se não sua mão vai ficar parecida com um pé de galinha”. 
Nabuco respondeu: “Se “aveche” não, Dr. Vou me empenhar ao máximo”. 

“Cetinha” pegou aquele papel e saiu do consultório mais feliz do que nordestino quando embarca em São Paulo para passar as festas juninas na Paraíba. Aquela “alforria” era mais importante do que a vacina contra a COVID. Chegou em casa mostrou a prescrição pra mulher e ela, desiludida, disse: “Fazer o quê meu amor, se é para o nosso bem, sua saúde, vamo que vamo”. (Em casa a mão “dodói” do marido estava sempre em isolamento matrimonial. No motel, sempre em atolamento vaginal). 

Nabuco era caxias, na faltava uma sessão. Quando já estava perto de completar as 150 sessões, a clínica resolveu fazer um downsizing e Magaly foi dispensada, deixando “Cetinha” na mão. “Milagrosamente” e de repente ele ficou curado e a D. Judith, aliviada e esperançosa de sair da “quarentena chumbregária”, foi cumprir a promessa que tinha feito de subir, de joelhos, os mais 300 degraus da Igreja da Penha, no Rio de Janeiro. 

Recentemente apareceu uma dorzinha na minha mão esquerda. Infelizmente, perdi o contato com meu amigo “Cetinha” e não tenho como pedir a ele uma dica em que clínica está trabalhando a profissional que o “curou” tão “rapidamente” daquela dor maldita e “duradoura”.
É uma pena!!!!

É muita fuleragem.  
26/6/20

domingo, 21 de junho de 2020

O inferno é acolá (FB)

Aqui no meu paraíso tem noites de “inferno”. Nesta madrugada faltou energia e sem ar condicionado as muriçocas bateram palmas, amolaram seus tridentes e mergulharam ávidas por um sangue em repouso. 
Um som “dum, dum, dum” na esquina martelava os ouvidos sensíveis. Uma ventania, neta de algum furacão, fazia as folhas dos coqueiros “cantarem” em todos os tons e refrões. Meu cachorro choramingava na janela e a patroa reverbera um pouquinho do meu lado. 
Quando estava pra dar um pinote e sair correndo me toquei que meu “inferno” é pequeno que só boga de micróbio, se comparado ao inferno que está logo acolá, nas UTI’s dos hospitais e UPA’s, onde milhares de infelizes brasileiros agonizam em busca de um oxigênio bombeado. Lá nossos anjos de branco batalham, arduamente, contra o satanás de mais alta patente, travestido de um vírus separatista e cruel. 
Logo meu incômodo foi resolvido, abrindo a janela, tomando um banho de repelente, dando “esbregue” no Malbec e futucando, carinhosamente, a patroa. Me deitei, e não dormi. 
Há pouco reiniciei minha batalha continua com a concessionária de energia elétrica local, a #Equatorial, mesmo sabendo que é como “peito de homem, chuva no mar e feriado no domingo”, ou seja, não serve pra nada.  
21/6/20

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Até quando? (FB)

Há um bom tempo não escrevo. Hoje me deu vontade. 
Isolado há quase 2 meses na minha casa de praia, não posso reclamar do conforto, do espaço, da fartura e da beleza do lugar. Estou num veraneio fora de época, numa “cela” de luxo. Imagino o sufoco dos amigos que estão confinados nos seus apartamentos, distanciados dos seus entes mais queridos. 

Mas com todo esse meu privilégio minha angústia é crescente pela falta que sinto dos filhos, amigos e principalmente das duas netas. Embora fale com a Giovana (5) e veja a Linda (4 meses) todos os dias pela internet, isso está longe me satisfazer. Sinto falta do cheiro, do toque, do abraço, do perfume, de passar a mão nos cabelos delas, do sorriso inocente, de fazer “cocecazinhas”, contar uma estória, pega-las e vê-las em 3D. 

Esse vírus separatista e maldito está nos roubando, perversamente, estas sensações, este prazer, essas necessidades de avô e de avó, numa idade tão linda delas. E não sabemos até quando. As incertezas são enormes e deveremos levar pelo menos mais um ano para podermos começar a ter isso de volta, com segurança. Pra mim é tempo demais. Não sei até quando vou aguentar esta abstinência de neta. 

Estamos numa “prisão domiciliar” sem sermos réus. O mundo foi sedado e começa agora a sair desta sedação em alguns locais, com muito cuidado e nenhuma certeza de que tudo voltará a ser parecido como era antes. Só temos uma certeza: o mundo será diferente daqui pra frente. Se melhor ou pior, aguardemos. 

11/05/20