Há um bom tempo não escrevo. Hoje me deu vontade.
Isolado há quase 2 meses na minha casa de praia, não posso reclamar do conforto, do espaço, da fartura e da beleza do lugar. Estou num veraneio fora de época, numa “cela” de luxo. Imagino o sufoco dos amigos que estão confinados nos seus apartamentos, distanciados dos seus entes mais queridos.
Mas com todo esse meu privilégio minha angústia é crescente pela falta que sinto dos filhos, amigos e principalmente das duas netas. Embora fale com a Giovana (5) e veja a Linda (4 meses) todos os dias pela internet, isso está longe me satisfazer. Sinto falta do cheiro, do toque, do abraço, do perfume, de passar a mão nos cabelos delas, do sorriso inocente, de fazer “cocecazinhas”, contar uma estória, pega-las e vê-las em 3D.
Esse vírus separatista e maldito está nos roubando, perversamente, estas sensações, este prazer, essas necessidades de avô e de avó, numa idade tão linda delas. E não sabemos até quando. As incertezas são enormes e deveremos levar pelo menos mais um ano para podermos começar a ter isso de volta, com segurança. Pra mim é tempo demais. Não sei até quando vou aguentar esta abstinência de neta.
Estamos numa “prisão domiciliar” sem sermos réus. O mundo foi sedado e começa agora a sair desta sedação em alguns locais, com muito cuidado e nenhuma certeza de que tudo voltará a ser parecido como era antes. Só temos uma certeza: o mundo será diferente daqui pra frente. Se melhor ou pior, aguardemos.
11/05/20