sexta-feira, 28 de abril de 2017

Intoxicação digital (FB)

Neste último fim de semana minha filha Michelle fez um comentário sobre um assunto que eu já vinha observando há algum tempo: "Meu pai quase não tem mais ouvindo música. Agora lá nos 36 eu é quem tem posto as músicas que ele gosta". É verdade. 

Ultimamente tenho escutado minhas músicas só através de fones de ouvido e mesmo assim quando estou caminhando. Aquela prática antiga de ouvi-las deitado numa rede ou num outro ambiente aconchegante precisa ser resgatado. Faz-me muito bem. 

Meus "dinossauros" Marantz, Sansui (receivers da melhor qualidade) estão hibernados e pouco têm alimentado as caixas Bose com os mais de 60 mil arquivos de MP3 disponíveis nos HDs dos meus computadores. Só os tenho ligado quando Giovana pede: "Vovô bota um forró" e eu arrocho "Xote das meninas", uma das obras primas de Luiz Gonzaga, que ela adora dançar. 

A culpa desta mudança de hábito é dos smartphones, que vivem grudados nas nossas mãos como os antigos emplastos Sabiá, não têm deixado espaço pra outra coisa. Dominam nosso tempo, desviam nossas atenções, silenciam nossos encontros, digitalizam nossas emoções. Eu nem me lembro mais da minha caligrafia. E olhem que eu não me considero (ainda) um "selfmaníaco", um "whatsAppmaluco" nem um "facebooktarado". 

Preciso retornar as conversas "faladas" ao redor de uma mesa, mediadas por uma Original, um suco de mangaba ou mesmo uma jarra de água de coco, ouvindo quem está falando do meu lado. 

Sou um participante (cada vez mais passivo), de diversos grupos de WhatsApp. A cada 10 minutos dezenas de posts aparecem na telinha, muitos repetidos e a maioria com informações irrelevantes. Todos os sinais de avisos sonoros foram silenciados para não azucrinar os ouvidos com tanta mensagem chegando. Se eu começar a sair deles não se preocupem, não é desprezo, arrogância ou medo da Lavajato, é, apenas, sintomas desta intoxicação digital que quero evitar a qualquer custo. 


Pretendo voltar a escutar (como antes) os meus ídolos da música ainda presentes, ativos e não deixar para curti-los póstumos em tributos e homenagens. A aposentadoria me deu tempo para explorar novos hobbies e gostos, coisa que venho fazendo muito pouco, preso a estas traquitanas digitais e a aplicativos que nos distrai e auxiliam, mas, que precisam ser domados e tomados em doses que não viciem e tornem seus usuários completamente alienados e dependentes dos seus bits e bytes. 

28/04/17