quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O gol da vida (FB)

O momento é de consternação e luto em decorrência da queda do avião que conduzia o time de futebol da Chapecoense para Medellín, na Colômbia. A comoção torna-se ainda maior pela causa que parece ser a mais provável para a tragédia: "pane seca", falta de combustível na aeronave, uma falha imperdoável, vil, injustificável.

A se confirmar esta suspeita, me questiono: a que ponto chega a irresponsabilidade criminosa, a ganância exacerbada, a usura desumana de pessoas que por um punhado de tostões furados, ceifam a vida de mais de 70 pessoas, a maioria jovens, e causa um sofrimento imenso para outro tanto de famílias que perderam seus filhos, país, amores e amigos?

Assistindo ontem as homenagens feitas simultaneamente nos estádios de Chapecó e Medellín, me lembrei do 11 de setembro, guardadas as devidas proporções e motivação. No entanto, a dor e a indignação dos que perderam entes queridos são as mesmas e são infinitamente maior do que o trauma causado pelos 7 x 1 para a Alemanha.

Quis o destino que a vitória em cima do San Lorenzo, comemorada, entusiasticamente, há uma semana se transformasse num pesadelo, numa tristeza enorme, doída, nos Andes colombianos. A defesa do goleiro Danilo diante de um chute a queima roupa, aos 47 minutos do segundo tempo, levou o seu time a glória, a final inédita de um campeonato internacional. Este lance tornou o guarda-metas um herói e mereceu um grande pôster na principal praça de Chapecó.

Quis o destino ainda que esta façanha, que encheu seus companheiros e torcedores de um orgulho contagiante e merecido, conduzisse esta agremiação para um voo sem volta, sem placar, sem troféu, só féretros. Se aquela bola entra teria sido o gol da vida para aqueles infelizes que agora estão retornando pra casa no bagageiro de um cargueiro da FAB, tendo como documentos não passaportes mas atestados de óbitos.

São os mistérios da vida. Um simples pé na trajetória de uma bola fez "tabelar" vidas para os mais diversos destinos, muitas para engrossar as estatísticas de mortes em catástrofes aéreas e alguns outros (aqueles que deviam estar dentro daquele jato e que por uma "tacada" qualquer deixaram de embarcar) para repensarem suas vidas daqui para frente e agradecer a sorte tida. Nada será como antes para centenas de pessoas que de uma forma ou de outra estão diretamente envolvidas nesta fatalidade.

A vida é o resultado destes altos e baixos, uma senoide, uma montanha russa de boas e más emoções onde no fim tudo empata, seja por aqui ou em outra dimensão.

02/12/16