quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O grande mural da vida. (FB)

Esta semana estava tomando café e olhando para esta parede branca da cozinha dos "36m2", cheia de furos, parafusos, buchas e marcas de mofo e sujeira (mostrada na foto anexa), quando me veio à cabeça uma analogia relacionada a marcas da minha vida, da minha existência. Do mesmo jeito que ao longo da vida vamos pendurando quadros, relógios, espelhos, biscuits, bibelôs e outros adereços nas paredes da casa, vamos fazendo o mesmo na nossa essência interior, espetando emoções, imagens, lembranças, amores, desamores, prazer e dor. 

A diferença é que nos próximos dias a parede vai estar emassada e pintada e nenhum vestígio do que ali compôs um dia a moldura de um gosto temporário estará mais presente ou será mais notado. Novos adereços ou até os mesmos comporão um novo arranjo. Por quanto tempo? Dependerá do astral e do bom gosto da patroa. 

Com nossa alma (não achei nome mais apropriado para o meu "eu" interior) é muito diferente. Os "buracos, pregos, ganchos, calombos, mossas e manchas" que marcam e suportam os momentos, as emoções, as agruras da nossa vida continuarão lá a doer ou a nos dar prazer, dependendo do que ali foi cravado ou moldado. Como uma tatuagem, uma cicatriz, são "indeletáveis", não há massa ou tinta que as façam sumir definitivamente, o que acho fundamental. Eles nos dão identidade, garantem a nossa unicidade, exclusividade, mapeam e perpetuam a nossa história. 

Nossa mente é um mural sem fim, sem forma definida, um caleidoscópio virtual onde vamos dispondo nossas emoções, desejos, medos, alegrias e tristezas. Constantemente paramos para olhar pra trás e fazer um balanço, se regozijar com o quê nos deu prazer, satisfação, exemplos e se lamentar com o quê nos causou dor, desconforto, aflição, arrependimento.

No fundo todos nós vivemos em busca da felicidade e ela não está no bolso, na garagem, no Boeing, no crachá, no orgasmo, no banco. Ela está encalacrada dentro de cada um e precisa ser descoberta, cuidada e usufruída. Muitos passam a vida toda e não acham os caminhos e as pistas que a vivência expõe e priorizam sua busca, ingenuamente, em coisas fora do seu interior. Outros mergulham nos seus pensamentos e reflexões e de repente dão de cara com ela. Tenho trilhado esta segunda opção e não sei se vou ter a felicidade de encontrar a minha felicidade na plenitude e intensidade que imagino.

17/11/16