A paixão é um estado de espírito que, às vezes, leva as pessoas a praticarem atos irracionais e tomarem decisões incompreensíveis. Mas quem nunca teve uma paixão e "endoidou o cabeçote" por um amor ou uma causa, por maior ou menor que seja? A paixão é um tsunami de emoções que surge de repente, tem curta duração e na maioria das vezes, deixa sequelas sentimentais permanentes.
Vou relatar dois casos verdadeiros, onde a paixão foi o vetor que levou dois amigos queridos a sofrimentos e serem motivo de chacotas e gozações daqueles que não conheceram as suas reais situações de vida.
Uma vez um deles me disse que se apaixonou, perdidamente, por uma prostituta de ofício. Na época, ele muito jovem, com pouca condição financeira, não teve como tirá-la daquela vida. Com visível emoção segredou que quase todas a noites ele esperava a saída do último cliente de "Margô" para subir ao cafofo da amada e com ela ter sua noite de amor. Muitos anos depois, já casado com outra mulher ele me confidenciou que aquela dama do puteiro foi, provavelmente, o grande amor de sua vida.
Outro caso aconteceu com um profissional de CRM fornido de honrarias e elogios. Numa bela noite sua mulher, também médica de consultório concorrido, vacilou num olhar enviesado e se apaixonou, loucamente, por um cantor da noite, "pulou a cerca" e daí pra frente saiu arregaçando com qualquer pé rapado que encontrasse nos bares e boates da cidade.
Meses depois do adultério marquei uma consulta com o doutor traído e para meu espanto, antes de que eu começasse a choramingar minhas mazelas, ele foi logo me dizendo:
"Giba, aquela minha ex-mulher que tu conheces "não vale o que o gato enterra". É uma pu.....rampeira, quenga ordinária, rapariga vadia............" e começou a elencar um monte de adjetivos pejorativos soletrados nas universidades "cabarelistas" de mais baixo nível. A surpresa maior foi quando ele me disse:
"Mas o pior de tudo sabes o que é? É que amo ela, não consigo viver sem ela" e caiu num choro doído de marido enganado.
Fiquei pasmo com aquela cena e quase que eu peço a ele pra trocar de lugar, de paciente para psicólogo, e ainda cobrar a consulta. O coitado entrou numa depressão profunda, a fofoca comeu no centro e ele teve que mudar de cidade. Tempos depois soube que ele casou de novo e continuou labutando nos consultórios da vida.
A gente acha que já viu de tudo ou que pensa que nossos problemas são sempre maiores do que o dos outros, se imagine no lugar destes dois coitados e tire suas conclusões.
05/05/17
