sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Mundos bem diferentes (FB)

Em setembro último vivi 10 dias em Longeville sur la Laines, vilarejo encravado bem na região da Champagne, leste da França, com pouco mais de 400 habitantes. Temperatura agradável em torno de 10 graus, roçados verdes por todos os lados. Tudo funciona perfeitamente, limpeza asséptica, trânsito escasso, segurança total, não faltam água, a luz não dá um pisco, calor afogueirado. Barulho só do zumbido dos ouvidos e dos jatos que desenham seus rastros a kms de altura. A vida parece que só acontece dentro das casas, em geral bem equipadas, abastecidas, cheias de tecnologia. 

Do lado de fora o silêncio é ensurdecedor, o cachorro não late, a galinha não cocorococa, o carro não buzina. Outros vilarejos próximos parecem, também, maquetes mumificadas. De vez enquanto surge uma animação humana nas calçadas, ruas e becos. A paisagem ao redor é sempre de um verde "pano de sinuca", completamente diferente do marrom acaatingado do meu nordeste brasileiro.

Jamais imaginei que após 34 anos da primeira passada por esta região voltaria aqui para participar do casamento da minha filha Priscila com um simpático francês, agora meu genro Laurent. 

Eu teria receio de viver por mais tempo num lugar como este. Acho que o manto do tédio e da solidão me sufocaria rapidamente. Iria sentir falta do povo na rua, da freada de carro, do latido de cachorro, da pulsação, do fuzuê bagunçado.

Agora estou em Paris e a coisa muda completamente. Seus bulevares belos e imensos, com perspectivas perfeitas e impressionantes, vazados por dezenas de galerias estreitas, lindamente decoradas, com ateliês centenários, brechós do arco da velha, restaurantes nanicos com apenas 3 ou 4 meses, lojinhas primorosas, sebos seculares, tornam esta cidade encantadora, única, uma das maravilhas da humanidade. Aqui passaria meses explorando esta catedral a céu aberto. 


Na próxima semana estarei enlatado num avião retornando pra casa depois de um mês de primeiro mundo. Será a hora de voltar a naftalizar os casacos, ceroulas e cachecóis e por as bermudas e shorts em serviço, novamente. O frio gostoso e aconchegante do momento dará lugar ao nosso calor desnudante. O céu nublado ao sol escaldante. São mundos bem diferentes. 

06/10/17