quinta-feira, 20 de abril de 2017

O sargento Madeira (FB)

Há uns dois meses realizamos o casamento de uma das minhas filhas aqui nos 36m2. Como vez por outra aparecem na praia uns "fora da lei" trazendo paredões de som que perturba todo mundo com seu volume ensurdecedor e "músicas" da pior qualidade, procurei, dias antes, a polícia para pedir que a lei fosse cumprida, pelo menos durante o período do evento. 

Estava de plantão na delegacia o Sargento Virgulino, que foi logo dizendo que era mais conhecido como "Madeira". 1,85 metros, uns 100 kgs, bigode a la Romero Jucá, penteado a la Guilherme "Cabeleira". Fiz um breve resumo do que queria, ele me ouviu atentamente e no fim disse: 

"Não se avexe não doutor. Já vou providenciar a troca da minha escala e "afinar meu instrumento" pra que o senhor nem seus convidados não tenham nenhum aborrecimento e sua filha possa ter uma festa inesquecível. Deixe comigo e minha equipe que eu prometo risco zero de um destes transviados aparecerem a menos de 10 kms da sua casa". 
Saí tranquilo e confiante com a firmeza e presteza do Sgt. "Madeira"!!!!!!

No dia das bodas, umas duas horas antes de começar a cerimonia, o Sgt. "Madeira" e dois soldados com caras de pistoleiros do velho oeste americano, (cada um portava uma escopeta com 12 cartuchos extras, uma pistola .40 com 2 pentes de reserva, spray de pimenta e uma "Fanta", cacetete parecido com um taco de beisebol dobrado) fizeram o primeiro baculejo na região, a bordo de um Siena mais sambado do que a "Nega Piná". Um coitado que estava num fusquinha a uns 500 metros de distância dos 36m2, ouvindo tranquilamente a transmissão do jogo do seu time favorito, foi abordado e eu não sei o que o Sgt. falou no ouvido dele mas o torcedor saiu "virado na bobônica", antes de comemorar o primeiro gol. A conversa foi pouca, curta e convincente. 

Duas horas depois da cerimônia religiosa terminada, já com os amigos festejando e degustando os canapés, champanhe e o 12 anos, o Sgt. "Madeira" retornou para dar uma conferida e nós travamos o seguinte diálogo:

  • Sgt. "Madeira": "Alguma perturbação Dr.? Alguém cantando fora do tom?" (Os amigos do grupo "The Fezzes & The Bostas" que, afinadíssimos, encantavam os convidados com sua MPB escolhida, se entreolharam assustados, puseram as mãos na cabeça e se encostaram na parede).
  • Eu: "Tudo tranquilo sargento. Afora o som da banda e do "converseiro" dos amigos, de vez enquanto escuta-se alguns grilos, sapos e corujas que sempre habitam por aqui". 
  • Sgt. "Madeira": "Pois se quaisquer um destes "bichos" desafinar uma nota, pode me chamar que eu vou entonar o Dó, Ré, Mí com eles com o "instrumento" que leva o meu nome". Foi aí que a ficha caiu e eu me dei conta do porquê do apelido do sargento. Era massaranduba pura. 

A comemoração rolou até às 3 da manhã na maior paz e tranquilidade. Tirando o burburinho dos convidados, o silêncio foi de fazer inveja aquele que reina no exterior da Estação Espacial. 


Dias depois encontrei o Sgt. "Madeira" no "Açougue do Nenê", em Coruripe. Ele fez a maior festa comigo, me apresentou ao seu amigo conhecido como "Nenê" (não é o "Ceguim do Ceará") e disse que qualquer coisa que eu precisasse bastava ligar que o atendimento seria imediato e ainda brincou: "Mexeu com Cotonete, mexeu comigo", o que foi prontamente endossado pelo "pacato" dono do açougue. Com o apoio dessa dupla estou mais protegido do que o Tramp e mais tranquilo do que baiano fazendo ioga. 

21/04/17