segunda-feira, 30 de julho de 2018

Os varais da vida.

“Olhando nos meus olhos” enxergo um longo varal virtual onde estão penduradas minhas recordações, lembranças, desejos e frustrações ao longo da vida. Lá vejo desfraldadas diversos tipo de “roupas”, algumas coloridas, com tons fortes e vibrantes onde estão estampados meus anos dourados, as grandes alegrias, as emoções mais fortes, os amores, momentos marcantes, enfim, os fatos que são os “viagras” de uma existência. 
Têm aquelas brancas pura, imaculadas, “Omo total”, onde estão bordadas a mão, a inocência e a beleza da minha neta, a bondade e a sabedoria da minha inesquecível avó Ritinha, a pessoa mais doce e evoluída que já conheci (o paraíso pra ela é muito pouco), o riso escancarado e o abraço dos amigos de fé, camaradas, o aconchego gostoso da família amada, o acorde e a harmonia mais inebriantes. 
Num trecho quaram as manchetes jornalísticas de 1964 (não as da Revolução e sim as da Beatlemania), de abril/68 (protestos estudantis em Paris e a “Primavera de Praga”), de agosto/69 (Festival de Woodstock), de julho/70 (Tri, no México), de maio/94 (Morte do Senna), de 11/09/2001, todas datas marcantes na vida de muita gente. 
No meio deste varal, estão lá, também, algumas “peças” pretas, amarrotadas, encardidas, impregnadas de momentos indesejáveis e de pessoas que gostaria fossem lavadas e levadas pelo vento. Felizmente são muito poucas e não se destacam no meio deste painel repleto de lembranças saudosas. 

E assim é vida, um desfile de emoções, desejos, paixões, realizações e, às vezes, tragédias, desilusões, desamor e decepções. Cada um tem seu varal particular e deve dele cuidar com carinho, sem espiar por cima do muro o que está exposto no varal do vizinho. A “textura” das “roupas” são quase sempre as mesmas, mas a “padronagem” é única para cada um de nós. 

20/07/18