quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Gente que fez e que continua fazendo.

Eu tive muita sorte e o privilégio de começar, há 40 anos, tendo como "chefe" um profissional que se tornou um dos meus amigos e umas das minhas referências de vida até hoje. Técnico de mão cheia, com a sensibilidade de cirurgião de cataratas, sempre de bem com a vida. Canhoto, possuidor de uma caligrafia tão "legível" quanto a da Pedra da Roseta. Dava trabalho a turma entender sua escrita.

Convivemos pouco tempo mas foi o suficiente para aprender muita coisa e admira-lo sem prazo de validade. No final da década de 70 casou-se com uma bela sergipana e mudou-se para Natal e lá continuou seu brilhante e dedicado trabalho na Petrobras. Inauguramos nossa função de "pai" na mesma época, eu com Felipe e ele com Leila.

Foi um daqueles petroleiros que tinha o "sangue negro" impulsionado por uma potente "bomba Charleroi", elogiado e querido pelos "Noronhas", "Jasons", "Acácios", Cordeiros", "Raimundos Silvas", Crénias", Conceiçãos" "Dalvas" e tantos outros colegas petroleiros que trabalharam no Tecarmo naquela época tão saudosa.

Piauiense de União, engenheiro mecânico bem formado, tornou-se um especialista em operações marítimas e passou a laborar no mundo das "amarras", "mangotes", "boias de arinque", "ferros", "cabeços", "elos-patente", "patescas", "manilhas" e "retinidas". Operou tudo isto a bombordo e a boreste, de "Bonsucesso" a "Atalaia Velha", do "Quadro de Boias" ao "Cais de Madeira", sem distinção e com muita competência, "solecando" e retesando os "estopros" da vida, sempre aproando para o sucesso.

Em 2000 sofreu um pequeno acidente e foi obrigado a desembarcar de uma das plataformas da Bacia de Campos. Nesta ocasião o médico da Cia constatou que ele sofria de insuficiência renal o que o tornava inabilitado para as funções que exercia. Esta doença, também presente em diversos membros da sua família, ele já vinha escondendo as duras penas pois não queria parar de trabalhar. Perdeu irmãos e outros parentes por causa do mal funcionamento deste órgão. Foi aposentado "sumariamente", a muito contra gosto.

Enquanto milhares de vagabundos, pulhas e espertos fazem de tudo, burlam as leis, compram médicos e peritos para obter este benefício, ele foi forçado a optar pelo descanso precoce e passar a cuidar de sua saúde. Logo depois da parada forcada recebeu um rim doado pela esposa, mais um ato extremo de grandeza, solidariedade e amor dos dois, procedimento que infelizmente não foi exitoso. Durante uma década tornou-se escravo da hemodiálise e há 4 anos recebeu um outro no rim que, felizmente, vem funcionando muito bem.

Nestes 40 anos que conheço este ser humano diferenciado, forte que nem um Hino Nacional, nunca o vi mal humorado, reclamando da vida ou se lamentado da infelicidade de ser portador desta séria enfermidade. Pelo contrário, sempre o encontrei alegre, com sua risada acelerada, seu sorriso "acaetaneado", participativo e alavancador de bom humor, "puxando pra cima" quem dele se aproxima. Vê-lo e conversar com ele, mesmo que seja via as traquitanas da internet, é uma lição de sabedoria, otimismo, inteligência, perseverança.

Este é Raimundo Nonato Reis e Silva, filho dos saudosos Seu Perico e D. Elzira, pessoa pela qual eu tenho o maior respeito, admiração e carinho. É gente que fez e continua fazendo coisas boas, encantando e surpreendendo aqueles que têm o privilégio de conhecê-lo e poder fazer parte da sua convivência.

20/10/16