sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Amor de vô II

Há dois anos estava eu num corredor branco, silencioso, asséptico, ansioso e apreensivo, esperando a abertura de uma porta e a entrada da minha primeira neta. Vê-la, saudável, vermelhinha, linda, foi uma das maiores emoções da minha vida. Esperá-la por poucas horas já me gerou um tsunami de ansiedade, imagine o anseio da mãe que a guardou e esperou 9 meses por este momento supremo?

Neste par de anos as transformações foram muitas e rápidas. Aprendi a rir melhor e com mais frequência, a ser mais tolerante com as estripulias inocentes e o choro estridente deste ser tão perfeito e encantador. Juro que não era assim e isso me surpreendeu. Me renovo a cada dia com as descobertas, gestos e reações dessa alagoanazinha que chega aos seus dois anos na próxima segunda feira. Para coroar este momento, hoje é o niver da minha filha Michelle, mãe da "Nana".

Se eu pudesse iria sugerir ao nosso Criador uma pequena mudança no projeto da sua maior e mais perfeita criação, nós, seres humanos: transferir para os pais algumas virtudes que sobram nos avós, como tolerância, paciência, dedicação, carinho. Seguramente teríamos pais mais felizes e crianças mais amadas, auto-confiantes.

O amor de vô é abobalhado, "assorisado", sublime, descompromissado, saudoso. O amor de pai é mais carnal, protetivo, impetuoso, umbilical. Amor de vô é rede na varanda e água de coco, é uma harmonia da Bossa Nova, um jogo de gamão. Amor de pai é movimento e caipirinha, é o agito do rock, o suor da maratona.

Vejam no retrato anexo a mais perfeita tradução da beleza, da inocência, do prazer, compactado naquele "serzinho" que desembarcou neste mundo tão frágil e dependente que nos faz dar maior valor e sentido a vida, que nos induz a repensar alguns conceitos e atitudes, que encanta todos aqueles que têm o privilégio de conviver com esta joia tão especial.


Se ainda tivesse um filho lhe daria o sobrenome de "Neto". Não sei se um dia serei homenageado com este título tão nobre.



07/10/16