quinta-feira, 6 de abril de 2017

Velho love (FB)

Semana passada vi uma cena daquelas que você põe o pé no freio do cotidiano e reavalia os valores da vida. O vídeo mostrava um dos meus ídolos numa cadeira de rodas chegando a um aeroporto americano, amparado por uma de suas filhas.

São cenas comuns que se vê todo dia, em todos os lugares, mas aquela me tocou muito por se tratar de um dos músicos que mais admiro. Eric Clapton está sofrendo de uma doença degenerativa que lhe causa fortes dores e o impede de tocar sua guitarra na sua plenitude.

Parece uma sina cruel que doenças desta natureza surjam e venham atacar logo os membros e órgãos responsáveis por tornarem músicos e artistas virtuosos em suas respectivas habilidades. George Martin (morto há um ano) tinha perdido a audição, função sem a qual jamais teria composto e arranjado melodias fantásticas e alavancado os Beatles e tantos outros artistas; Phil Collins está com problemas nos braços e mãos que o impossibilita pegar nas baquetas e tocar bateria, seu instrumento de ofício; João Carlos Martins tem artrite nas mãos que o limita em tocar piano e até reger uma orquestra; agora o "Deus da guitarra" se encontra nesta situação.

No caso específico do EC parece que os excessos dos tempos de muito "sexo, drogas e rock&roll" agora começaram a cobrar sua pesada dívida. Mas será que se sem as orgias, farras e overdoses nestas matérias ele teria produzido e nos presenteado canções antológicas como "Layla", "Wonderful tonight", "Old love", "River of tears", e apresentações magistrais onde milhares de fãs privilegiados (eu sou um deles) dançaram, choraram, cantaram ouvindo seus blues e solos únicos e maravilhosos? Provavelmente não.

Nós, humanos comuns, previsíveis, rotineiros, que vivemos com "régua e compasso", com "bulas e ampolas", usufruímos e consumimos os "produtos" criados por estes "fora de série", "malucos", "viciados", "exagerados" ou seja lá qual adjetivo empregar. Nossas "tardes de domingo", os "assustados", as "tertúlias", os festivais de música teriam sido sem graça, desafinados, insossos, "tesão meia-boca", se estes caras tivessem apenas "namorado no portão", tomado Ovomaltine e fumado Minister.

É uma pena que o fim esteja sendo este. Mas todos eles já fizeram demais, contribuíram muito para o prazer das nossas serenatas, farras e "grandes encontros". Meu maior agradecimento e reconhecimento a estes ídolos extraordinários que detonaram a sua saúde, a sua vida pessoal, suas famílias, para nos dar o prazer de ouvir, apreciar e continuar curtindo canções que marcaram uma época e que nos trazem recordações e saudades de alguém, de um lugar, de um momento.

EC não precisa fazer mais nada. Sua missão foi mais do que cumprida. Que o Deus de todos nós poupe o "Deus da guitarra" das dores e sofrimentos que o acometem no momento.

07/04/17